segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Batman: O Cavaleiro das Trevas

(Texto originalmente escrito para a aula de Análise da Produção Audiovisual)
Tim Burton havia concebido em seus dois filmes sobre o homem-morcego, Batman e Batman: O Retorno, sua visão sobre o mundo desse personagem. Com seu estilo gótico, Burton criou uma Gotham City mergulhada em trevas onde o perigo era uma constante e os vilões, apesar de serem quase absurdos, conseguiam ser uma ameaça. Depois disso, Joel Schumacher tratou de entrar na lista negra de todos os fãs do herói ao transformar esse universo em algo completamente caricatural, onde até mesmo a roupa de Batman era ridícula com seus mamilos.
Com Batman Begins, o diretor inglês Christopher Nolan não só ressuscitou Batman nas telonas como conseguiu fazer do universo do personagem algo muito mais real (a violenta Gotham City poderia ser qualquer cidade do mundo, seja Nova York ou São Paulo, por exemplo), além de desenvolver muito mais a figura de Bruce Wayne, o homem por trás da máscara. Com Batman: O Cavaleiro das Trevas, Nolan não só nos mergulha em um universo onde o mal parece ser absoluto, mas também nos faz presenciar confrontos psicológicos memoráveis entre o herói e o mais novo vilão de Gotham.
Escrito pelo próprio Christopher Nolan em parceria com seu irmão Jonathan e com um argumento feito por eles e David S. Goyer, Batman: O Cavaleiro das Trevas mostra que os marginais de Gotham City agora temem a figura de Batman a ponto de o tenente Jim Gordon precisar apenas acender o bat-sinal para que eles já comecem a pensar duas vezes antes de atacar. A fama do herói ainda faz com que indivíduos comuns resolvam se fantasiar como ele para fazer justiça com as próprias mãos. Com a ajuda de Gordon e do novo promotor, Harvey Dent, Batman parece estar tendo êxito em sua missão de afastar o mal de sua cidade. Mas a chegada do Coringa ameaça pôr a perder todos os esforços do trio.
Christopher Nolan, ao lado de seu fiel diretor de fotografia, Wally Pfister, mergulha Gotham City no sombrio, muito mais do que havia feito em Batman Begins, o que acaba sendo mais do que adequado já que a cidade parece estar encarando um de seus mais caóticos momentos. Além disso, o diretor faz grandes cenas de ação, sendo uma delas a sequência na qual o Coringa persegue Harvey Dent, no túnel de Gotham. E a belíssima trilha sonora de Hans Zimmer e James Newton Howard remete não só a parte sombria da narrativa, mas também ao heroísmo de Batman.
O roteiro de O Cavaleiro das Trevas parece ter sido escrito baseado em um objeto simples e pequeno: uma moeda. De um lado temos Batman, um símbolo de esperança para os habitantes de Gotham, Harvey Dent, um cidadão comum que está colocando metade dos marginais na cadeia sem usar uma máscara, e Jim Gordon, um dos poucos policiais em quem se pode confiar. Do outro, temos o Coringa e sua fome por destruir seus adversários física e psicologicamente e ainda impor medo e caos na cidade.
Essa ideia da moeda surge várias vezes ao longo do filme. Quando Batman interroga o Coringa na delegacia, Christopher Nolan faz um jogo de plano e contra-plano que, devido à conversa e ao momento dos personagens, pode ser comparado com o jogo de cara ou coroa. Sendo uma das cenas mais importantes do filme, por representar uma das poucas vezes em que herói e vilão ficam frente a frente, ela é tensa até seu último segundo.
Aliás, o Coringa vivido pelo grande Heath Ledger nos faz esquecer todas as outras encarnações do personagem, até mesmo a divertida interpretação de Jack Nicholson no filme de Tim Burton. Surgindo ameaçador desde sua primeira cena, Ledger constrói um personagem louco e psicótico, e a ideia do ator de emprestar ao vilão seu tique de passar a língua em volta da boca é algo que faz do vilão um ser ainda mais estranho e único. E o fato de o roteiro não perder tempo contando as origens do personagem faz com que ele seja imprevisível.
Enquanto isso, Christian Bale comprova que é o melhor ator a encarnar Bruce Wayne nas telonas, deixando o até então favorito Michael Keaton para trás (prefiro não comentar Val Kilmer e, principalmente, George Clooney). Sendo Bruce Wayne um personagem que precisa ser um playboy milionário durante o dia e um herói à noite, Bale interpreta essas duas partes da personalidade do protagonista de maneira impecável. O ator ainda consegue nos passar a exaustão de Wayne não só com relação ao que acontece com o personagem durante o filme, mas também por ele ter a esperança de poder largar a máscara de Batman algum dia.
Quanto ao resto do elenco, Michael Caine aparece sempre ótimo como Alfred, personagem que aparece para confortar e aconselhar Bruce quando este precisa. A substituição de Katie Holmes por Maggie Gyllenhall no papel de Rachael Dawes acaba sendo mais do que adequada, já que Gyllenhall é uma atriz claramente mais madura do que Holmes, e a personagem está muito mais experiente como advogada nesta sequência do que no filme anterior. Morgan Freeman empresta todo seu carisma para Lucius Fox, ajudante que consegue todos os tipos de armas e aparelhos para Wayne. Fechando o elenco, Aaron Eckhart tem uma grande atuação interpretando o personagem mais trágico do filme. Harvey Dent é um homem que tenta de todas as formas fazer o bem, e não é à toa que o protagonista confia nele desde seu primeiro encontro. Mas Dent acaba por ser a grande experiência/plano do Coringa, que prova que as pessoas só precisam de um empurrãozinho para passar para o “lado negro da força”.
Mas o grande êxito de O Cavaleiro das Trevas é o fato de que ele parece ser o primeiro filme onde é mostrado o significado do verdadeiro herói. Se até então o que víamos era uma pessoa comum que salva a cidade sem pedir nada em troca, Nolan acrescenta algo absolutamente fascinante. Em certo momento do filme, Harvey Dent diz em um jantar “Ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar o vilão”, diálogo que ainda indica o que acontecerá com o personagem. Um herói é aquele que não tem medo de tornar-se o vilão para ver as pessoas e a cidade a salvo. A maneira como Nolan trata isso é espetacular, sendo digno de palmas.
Finalizado com o cavaleiro das trevas cercado por um belíssimo feixe de luz, indicando que ele é o grande herói que Gotham City precisa, Batman: O Cavaleiro das Trevas coloca os filmes de super-heróis em um patamar muito mais sério do que a do simples entretenimento. Se Christopher Nolan caprichar no terceiro e último capítulo de Batman, então ele terá acabado de fazer a trilogia O Poderoso Chefão do gênero histórias em quadrinhos.
Cotação:

O Lutador

(Texto originalmente escrito para a aula de Análise da Produção Audiovisual)
O diretor Darren Aronosky é conhecido por fazer dramas em que explora o psicológico de seus personagens. Se em Pi ele mostrou um homem que ia a loucura tentando descobrir o significado de uma série numérica e em Réquiem Para Um Sonho ele mostrou a degradação que as drogas podem causar nas pessoas, em O Lutador ele nos faz presenciar a tentativa de redenção não só do personagem, Randy “The Ram” Robinson, mas também a de seu intérprete, um ator que até então tinha sua carreira considerada como acabada: Mickey Rourke.
Escrito por Robert Siegel, O Lutador nos apresenta a Randy “The Ram” Robinson, lutador de wrestling que teve o auge de sua carreira na década de 1980, mas que agora ganha dinheiro participando de lutas menores além de ser obrigado a trabalhar em um supermercado. Quando surge a proposta de uma revanche contra um velho adversário, Randy resolve aproveitar a chance, mas um infarto faz com que ele se afaste da profissão e comece a pensar um pouco mais sobre o que valorizar em sua vida.
Aronofsky começa o filme com reportagens que mostram toda a carreira vitoriosa de Randy. Ao som de “Bang Your Head”, da banda Quiet Riot, nós nos familiarizamos com o personagem logo de cara e vemos a fama que ele conseguiu. Mas logo depois dessa abertura, ouvimos a tosse de Randy, indicando imediatamente que ele não é mais o grande lutador que costumava ser em seus dias de glória. Quando finalmente vemos seu rosto, algo que demora um pouco mais do que o esperado, fica claro que este é um homem que já levou muitos socos não só dos adversários, mas também da vida. E a atenção de Aronofsky aos detalhes, como os barulhos de moedas nas calças de Randy, mostra como o protagonista leva uma vida precária.
Usando a câmera na mão e seguindo Randy de perto (algo que fez também com Nina, personagem de Natalie Portman em Cisne Negro), Aronosfsky dá um caráter documental que cai como uma luva para o filme, tornando a história mais real. Além disso, o diretor nos apresenta aos bastidores do wrestling. Vemos que todos aqueles brutamontes são como uma família e encenam os golpes que darão na hora de lutar. Não que tudo seja mentira, já que o diretor faz questão de mostrar que os lutadores se sacrificam nos ringues, como ao usar um pedaço de lâmina para fazer cortes em si mesmos. E o fato de todos eles serem amigos nos faz entender o porquê de Randy não se sentir a vontade em abandonar a profissão. Afinal, aquele é o único lugar onde ele é respeitado por suas conquistas.
O roteiro consegue tratar muito bem essa parte na qual Randy ainda não sabe o que fazer: colocar sua vida em risco nos ringues ou se entregar a sua rotina e seu verdadeiro nome (Robin)? Ele volta a ver sua filha, Stephanie, que à primeira vista não consegue nem olhar na sua cara, e arranja um trabalho melhor no supermercado (algo que rende uma das cenas mais descontraídas do filme). Esses acontecimentos dão sinal de que uma vida normal não parece ser impossível para ele e também não é de todo ruim.
O Lutador não conta só a história de Randy, mas também a da bela Cassidy, stripper e talvez melhor amiga do lutador. Assim como Randy, Cassidy não está mais no auge de sua carreira, sendo hostilizada por vários clientes que a consideram uma velha, apesar de ainda ser maravilhosa. Com isso, vemos dois personagens que encontram um no outro uma válvula de escape para revisitar os velhos tempos. Se Cassidy ouve as histórias de Randy com total atenção, o lutador a acha uma das mulheres mais lindas que já viu. E não deixa de ser curioso que os dois se escondam atrás de nomes artísticos.
Randy “The Ram” Robinson foi o personagem perfeito para o grande retorno de Mickey Rourke. Sendo um dos melhores atores de sua geração, Rourke largou tudo isso no final da década de 1980 para se tornar lutador de boxe. Quando tentou voltar, seu rosto de galã não era mais o mesmo e ninguém arriscava dar papéis importantes para ele. Sendo assim, O Lutador acaba ganhando alguns toques de biografia por se tratar uma volta por cima, e Rourke brilha desde o primeiro segundo em que aparece. O ator não só consegue retratar a decadência de Randy impecavelmente, mas também mostra todo sacrifício dele pela profissão que tanto adora. Em vários momentos do filme, Rourke sutilmente consegue nos passar o que Randy está sentindo, como a tristeza ao saber que não pode mais lutar ou quando vai a uma feira de velhos lutadores e olha o estado de seus ex-colegas de trabalho, pensando claramente que não se permitirá ficar como eles. Uma atuação espetacular que infelizmente não recebeu o Oscar tão merecido.
Mas se Rourke é a grande estrela do filme, Marisa Tomei não fica muito atrás. Trazendo grande carisma para Cassidy, a atriz consegue mostrar o cansaço da personagem em ter que ficar tirando a roupa por gorjetas medíocres. Isso fica mais claro na cena em que Cassidy se rebela e ao sair pela porta da boate diz seu nome verdadeiro (“Pam”) em forma de desabafo. Evan Rachel Wood, interpretando Stephanie, aparece sempre com uma expressão triste, de decepção com o pai que nunca esteve presente em sua vida. Por causa do medo de Randy em não querer decepcioná-la novamente, Wood protagoniza com Rourke uma das cenas mais bacanas do filme, quando pai e filha começam a dançar em um salão abandonado depois de ele desabafar e dizer tudo o que sente.
Embalado pela belíssima canção “The Wrestler”, composta especialmente para o filme por Bruce Springsteen, o final de O Lutador é triste, mas fecha com chave de ouro a história de Randy “The Ram” Robinson. Uma pena que esta seja uma das várias produções de 2008 que não receberam o devido reconhecimento na temporada de premiações. Uma obra-prima com um protagonista entregando a melhor atuação de sua carreira merecia mais atenção.
Cotação:

sábado, 24 de setembro de 2011

Erros em DVDs

Um pouco de perfeccionismo não faz mal a ninguém. Nem mesmo quando o assunto é fazer DVDs.
Se algum dia eu quiser comprar o DVD (ou o Blu-Ray, já que foi o único que consegui tirar foto) de Sexo, Mentiras e Videotape, ficarei com o pé atrás. As fotos explicam tudo.
O mesmo acontece com Kick-Ass: Quebrando Tudo. Tentei tirar uma foto da parte de trás do DVD, mais especificamente da descrição dos extras, onde está escrito “Quandrinhos”. Infelizmente, a imagem ficou terrível.
Peço para as pessoas que fazem os DVDs para terem mais cuidado na hora de confeccionar os discos (que de vez em quando também aparecem com erros) e suas embalagens. Existem cinéfilos como eu que gostam de ver tudo perfeito. Até nos mínimos detalhes.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tropa de Elite 2 é o Brasil no Oscar 2012

Depois de filmes como Última Parada 174 e Lula: O Filho do Brasil serem escolhidos para representar o Brasil no Oscar (em 2008 e 2010, respectivamente), este ano não há do que reclamar: Tropa de Elite 2 é o nosso candidato para tentar uma vaga na categoria Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2012.
Acredito que o filme tenha boas chances perante os membros da Academia. Tropa de Elite 2 mostra o que o cinema brasileiro tem de melhor, além de ter colecionado recordes durante sua estadia nos cinemas, entre eles a de maior bilheteria de todos os tempos no Brasil. Deve haver fatores (que desconheço, infelizmente) que talvez prejudiquem o filme, mas se Wagner Moura já está filmando sua primeira produção em Hollywood (Elisyum, do diretor de Distrito 9, Neill Blomkamp) e José Padilha vai dirigir o novo RoboCop, é porque eles conseguiram chamar a atenção de várias pessoas. E não é qualquer filme que tem a honra de ser comparado a O Poderoso Chefão, como aconteceu no Festival de Sundance.
Agora, cabe a nós torcer para que o filme de José Padilha seja indicado e, quem sabe, ganhar o Oscar. Merecimento o filme tem de sobra.

Conan: O Bárbaro

Em 1982, Conan: O Bárbaro estreou e lançou ao estrelato seu protagonista, Arnold Schwarzenegger. Não vi nem este filme e nem sua continuação, Conan: O Destruidor, de 1984, mas acho que não devem ser pior do que este nova produção dirigida por Marcus Nispel (o mesmo das pavorosas refilmagens de O Massacre da Serra Elétrica e Sexta- Feira 13). Com uma direção terrível, história desinteressante e um protagonista insosso, o novo Conan: O Bárbaro consegue ser um desastre.
Escrito por Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer e Sean Hood, baseado no personagem criado por Robert E. Howard, Conan: O Bárbaro mostra o personagem-título (interpretado por Jason Momoa) em busca de vingança, depois de ver Khalar Zym (Stephen Lang) e seus capangas destruírem sua aldeia e matar seu pai, Corin (Ron Perlman). Ao saber do paradeiro de um dos capangas, Conan vê a chance perfeita para realizar a tarefa.
O prólogo, que mostra o nascimento de Conan em plena guerra, já faz o filme começar desastrosamente. É impressionante ver uma grávida lutando contra vários soldados enquanto seu bebê está quase nascendo. Mais impressionante ainda é ver que os soldados param de atacá-la quando Corin resolve fazer o parto ali mesmo. O pior é ver esse prólogo ser finalizado copiando O Rei Leão.
A fraca direção de Marcus Nispel é algo que se percebe nas cenas de ação. O alemão simplesmente não consegue fazer a câmera parar um segundo sequer, tornando as cenas quase incompreensíveis. Para piorar, o diretor abusa nos cortes rápidos e planos que duram apenas um segundo em cena. Além disso, o diretor exagera demais no sangue. Quando um personagem bate em uma pedra ou leva um corte, dez litros de sangue saem imediatamente, algo que faz o próprio Conan ser pior que o Jason Vorhees da recente refilmagem. Para completar, Nispel consegue desperdiçar a bela voz de Morgan Freeman, usando-a em uma narração em off. Ao invés de usar a técnica apenas na historinha contada na abertura do filme, o diretor a insere no momento em que Conan se torna adulto, algo que não só é desnecessário, mas que faz o filme parecer um conto de livro infantil. Logo depois disso, Nispel abandona a narração, o que me faz pensar: o que fez um grande ator como Morgan Freeman aceitar fazer esse papel?
O roteiro trata Conan como um psicopata desde sua infância (pensei, em certo momento, que estava assistindo a um slasher movie). Mais estranho ainda é o fato de Conan aparentar ser uma criança normal, apenas para depois aparecer matando brutalmente todos os capangas que surgem em sua frente. E o fato Conan precisar lembrar seus inimigos quem ele é acaba sendo tedioso de se ver, já que o personagem fala apenas frases de efeito batidas como “Sou aquele que vai seguir você até o inferno!”.
Geralmente, para um filme funcionar, é preciso um bom protagonista. Para o azar de Conan: O Bárbaro, não é isso que se vê em Jason Momoa. Durante as quase duas horas de projeção, Momoa parece com expressão e olhar sérios, como se tivesse medo que uma cara mais amigável fizesse os espectadores duvidarem da masculinidade do personagem. Rachel Nichols parece uma mocinha de filmes de terror, gritando sempre que acha apropriado. Stephen Lang consegue mostrar que seu vilão é muito mais ganancioso do que ameaçador (algo que deve ser colocado na conta do roteiro), enquanto que Ron Perlman e Rose McGowan pouco tem a fazer com seus personagens. Aliás, Mcgowan interpreta uma versão feminina de Freddy Krueger (outro motivo para eu ter pensado estar assistindo a um slasher movie).
Além de tudo isso, Conan: O Bárbaro é chato. Nem mesmo o 3D funciona, já que, de modo geral, a fotografia é escura demais. Apesar de ter menos de duas horas de duração, é um tempo que demora para passar. Infelizmente, este é um tempo da minha vida que nunca vou recuperar.
Cotação:

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cría Cuervos

(Texto originalmente escrito para a aula de Estudo do Cinema Internacional)
Filmado quando Franco estava em seu leito de morte, Cría Cuervos, do diretor Carlos Saura, faz uma metáfora comparando a infância da protagonista, Ana (interpretada por Ana Torrent), com o regime ditatorial na Espanha que durou de 1939 a 1975. Ao mesmo tempo, o filme tem uma sensibilidade irretocável, algo que faz sua história ser ainda mais interessante.
Cría Cuervos começa com a morte do pai de Ana. Tendo ela e suas irmãs perdido a mãe muito cedo, elas vão morar com sua tia, que mantém a rédea curta quando as meninas querem se divertir (leia-se: ser um pouco mais livres). A partir daí, vemos a Ana adulta (interpretada por Geraldine Chaplin) contar o que aconteceu com ela e suas irmãs na infância.
Uma cena interessantíssima do filme acontece quando a Ana adulta diz que não entende o porquê de algumas pessoas dizerem que a infância é o período mais feliz da vida de alguém. Ela completa com um “Com certeza para mim não foi”. E realmente ela não teve uma infância feliz. Ela viu sua mãe, uma das pessoas mais adoráveis que conheceu, sofrer até a morte por causa de um câncer. Seu pai não dava a mínima atenção para ela e suas irmãs, a ponto de as meninas não saberem nem segurar os talheres direito. Sua tia, apesar de ser uma pessoa mais calma, era uma estraga prazeres. Como ter uma infância feliz, se você não consegue nem se divertir direito?
Ana diz que sua infância foi um “longo e interminável período triste, cheio de medo”. É aí que se vê a metáfora de Carlos Saura. Isso representa o modo como os espanhóis viviam na época do franquismo, ou seja, uma vida cheia de regras e, principalmente, medo. E Saura mostra ser um diretor corajoso por fazer um filme como Cría Cuervos em uma época na qual Franco ainda estava vivo.
Quando Ana, achando que o conteúdo de uma velha caixa que pertencia a sua mãe é veneno, tenta matar sua tia e acabar com as restrições, Saura está mostrando o que várias pessoas gostariam de fazer, mas nunca puderam. E quando o tiro sai pela culatra, é como se o diretor dissesse que, apesar de Franco estar morrendo, seu regime ditatorial será para sempre uma mancha na história da Espanha.
“Parece inacreditável como memórias podem ser tão fortes”, diz a Ana adulta. Bem, se a ditadura de Franco ficará para sempre na história da Espanha, Cría Cuervos está marcado como um dos filmes mais importantes do cinema desse país.

domingo, 11 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens

Colocar em um filme dois gêneros cinematográficos completamente distintos como o faroeste e a ficção científica é uma ideia interessante, porém arriscada. Isso por que o resultado pode ser divertido ou algo completamente absurdo. Por sorte, Jon Favreau (o mesmo diretor do ótimo Homem de Ferro) consegue equilibrar muito bem os elementos dos dois gêneros em Cowboys & Aliens, criando um filme que, apesar de não ser memorável, consegue entreter o público do início ao fim.
Baseado nos quadrinhos criados por Scott Mitchell Rosenberg, Cowboys & Aliens começa com Jake Lonergan (Daniel Craig) acordando ferido, sem lembrar de nada e com um dispositivo no pulso. Ele vai à cidade de Absolution, sem saber que é onde está sendo procurado pelo roubo do ouro de Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford). Em uma noite, naves espaciais atacam Absolution e sequestram alguns habitantes. Tendo derrubado uma delas com seu dispositivo, Jake é obrigado por Dolarhyde a ir junto com ele resgatar as pessoas.
O roteiro escrito por Roberto Orci, Alex Kurtzman, Damon Lindelof, Hawk Otsby e Mark Fergus, com argumento dos dois últimos em parceria com Steve Oedekerk (ufa!), consegue divertir com alguns diálogos engraçados. Por exemplo, quando Meacham (Clancy Brown) pergunta para Jake o que ele sabe, este responde com seriedade: “Inglês”. Além do mais, os roteiristas conseguem deixar bem claro os motivos para o porquê de os alienígenas atacarem a cidade de Absolution e sequestrarem seus moradores. E em pouco tempo de filme, eles já conseguem fazer com que nós nos importemos com os personagens, algo muito importante para que a história funcione.
Por outro lado, o roteiro acaba sendo previsível em alguns momentos. Quando Dolarhyde entrega sua faca para Emmet (Noah Ringer, de O Último Mestre do Ar), já se percebe que ela terá alguma importância futuramente. O mesmo pode ser dito sobre o fato de Doc (Sam Rockwell) errar a mira sempre que tenta acertar algum objeto (é claro que, em um momento importante, ele vai acertar o alvo). E é um pouco decepcionante quando essas previsões mostram ser verdadeiras. E o romance entre Jake e Ella, apesar de funcionar, acontece rápido demais, dando a entender que ele se apaixona apenas por ela ser interpretada pela belíssima Olivia Wilde.
Jon Favreau conduz o filme eficientemente, mas sem o mesmo talento que ele mostrou em Homem de Ferro. O diretor tem êxito ao equilibrar os dois gêneros, nos fazendo acreditar no universo do filme (acho que Cowboys & Aliens será o único crossover entre faroeste e ficção científica por um bom tempo). Favreau ainda merece créditos por conseguir colocar tensão a várias cenas e também por não mostrar a forma dos alienígenas imediatamente, fazendo com que fiquemos imaginando como eles são, tentando fazer com que nossa imaginação nos assuste (isso se tornou popular graças a Steven Spielberg, produtor executivo do filme, e seu Tubarão, sendo usado em vários filmes posteriormente, entre eles o recente Super 8). Por outro lado, as cenas de ação são, de modo geral, burocráticas e empolgam apenas quando saem do lugar comum, o que acontece muito pouco.
O design de produção faz um bom trabalho nas construções de Absolution e da base dos alienígenas, criando um belo contraste entre os dois lugares, já que um representa o lado faroeste do filme e o outro é o lado ficção científica. A fotografia do sempre eficiente Matthew Libatique também se destaca. Se em Absolution temos algo próximo do sépia, nas cenas que se passam à noite temos uma iluminação mais azulada, algo que transforma um barco que os personagens utilizam como esconderijo em algo parecido com uma nave espacial (a água que fica escorrendo do teto também ajuda muito a lembrar as naves que volta e meia estragam nos filmes de ficção científica). E nos figurinos algo que chama a atenção é a roupa usada por Jake, já que ela lembra um pouco àquela usada por (vejam só!) Harrison Ford, quando este interpretava Han Solo na trilogia clássica de Star Wars.
O atual James Bond, Daniel Craig, consegue trazer peso para Jake Lonergan. Calmo e sério durante boa parte do filme, Craig nos passa o medo de Jake por não saber quem é e pensar que fora uma pessoa horrível no passado (afinal, ele é um foragido que vale dez mil dólares). Mas o fato de Craig manter sua expressão séria até mesmo quando um amigo morre em seus braços acaba dando a entender que Jake é desprovido de sentimentos, o que não é verdade, como pode ser visto ao longo do filme. E se Harrison Ford encarna Dolarhyde como um cara durão, mas que mostra gradualmente que tem um coração mole, Olivia Wilde se destaca, não só por trazer sua beleza para Ella, mas também seu carisma. Aparentemente perdida no início, algo justificado mais tarde pelo roteiro, a atriz cresce a medida que sua personagem vai ganhando importância. Uma pena que o mesmo roteiro não explique o que Ella é exatamente.
Cowboys & Aliens pode não ser um filme memorável, mas pelo menos diverte com sua premissa interessante. E isso, às vezes, já é o bastante.
Cotação:

As Mudanças em Star Wars

Semana que vem, dia 16, acontecerá o lançamento das edições em Blu-Ray da saga Star Wars. Mas o que deveria estar sendo muito esperado, na verdade está correndo o risco até mesmo de sofrer um boicote por parte dos fãs mais assíduos dos filmes. Tudo por que o senhor George Lucas resolveu fazer algumas modificações desnecessárias na saga, sendo que uma delas não só é desnecessária como também tira o impacto de uma cena vital em O Retorno de Jedi (algo que deixarei para discutir no final).
Enfim, vi algumas modificações (digo algumas por que não sei se foram todas) e resolvi comentar por aqui.
- Han Solo versus Greedo
O embate entre Han Solo e Greedo já deu muito o que falar. Na versão original lançada nos cinemas em 1977, Han Solo atirava em Greedo antes que este pudesse fazer qualquer movimento. Em 1997, George Lucas modificou a cena no relançamento da trilogia clássica, fazendo Greedo atirar primeiro (algo que já estragava um pouco a cena). Pois na versão do Blu-Ray, Han Solo e Greedo atiram quase que ao mesmo tempo. Daqui a pouco, não saberemos mais quem atirou em quem.
Veja o vídeo da nova versão:
- Os Ewoks agora vão piscar
Sinceramente, o que o piscar de olhos dos Ewoks vai acrescentar às cenas em que eles aparecem? Se antes eles não piscavam e isso era considerado normal (afinal, eles são alienígenas), então porque eles precisariam piscar agora?
É a típica mudança na qual George Lucas parece simplesmente ter apontado para qualquer parte do filme e disse “Vou mudar isso”.
- Grito de Obi-Wan em Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança
Apesar de desnecessária como as outras mudanças, a nova versão do grito de Obi-Wan Kenobi para tirar o Povo da Areia de perto de Luke Skywalker é mais intensa e, de certa maneira, assustadora. Veja o vídeo abaixo que compara as duas versões:
Nessa você se salvou, George Lucas!
- Sai a marionete, entra a versão em CGI
Em O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi e A Ameaça Fantasma, o Mestre Yoda era uma marionete. Já em Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith, ele foi feito por computador, o que o deixou muito mais real.
Lucas substituiu a marionete em A Ameaça Fantasma, algo que torna o personagem muito mais agradável de se ver.
- Darth Vader diz “Não” quando Darth Sidious está quase matando Luke em O Retorno de Jedi
Essa é a mais inaceitável de todas as mudanças. Na versão original, o fato de Darth Vader não falar absolutamente nada enquanto vê seu filho sofrendo nas mãos de Darth Sidious nos deixava em dúvida se ele iria ou não fazer alguma coisa para salvar Luke. Veja abaixo a versão original (não consegui encontrar um vídeo mais curto da cena):
E então vemos a nova versão da cena.
No momento em que Vader diz o primeiro “Não”, a dúvida já desaparece, acabando com a tensão da cena muito cedo. Isso é muito decepcionante por se tratar de um momento crucial, não só do filme, mas da saga Star Wars. É uma mudança que realmente me faz ter dúvidas se vou comprar essas edições em Blu-Ray. Mas primeiro preciso ter o aparelho. Até isso acontecer vou poder pensar bastante.
Como eu disse, são mudanças desnecessárias feitas por um cineasta que um dia fez um discurso (linkei ele aqui no blog semana passada) no qual falou isso:
“[...] No futuro, será ainda mais fácil que negativos velhos se percam e sejam "substituídos" por novos negativos [...] Devemos prestar atenção aos interesses daqueles que ainda não nasceram, que deveriam poder ver esta geração como esta geração se viu e as gerações passadas como estas se viram [...]”.
Lucas não manteve sua palavra. É triste ver uma saga como Star Wars sofrer modificações dessa maneira. Que decepção, George Lucas!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

As mais marcantes idas ao cinema

Hoje, o criador do Brazilian Movie Guy está fazendo mais um ano de vida. Thomás Rodrigues Boeira faz 19 anos, embora ainda seja tratado como se tivesse 12. Ano passado ele postou no blog os filmes que mais marcaram seus 18 anos de vida. Mas esse ano, ele coloca as idas ao cinema mais marcantes. Alguns filmes incluídos na nova lista já haviam sido colocados na postagem do ano passado, mas não poderiam ficar de fora dessa vez.
Eis as idas ao cinema mais marcantes desses 19 anos de vida do Mr. Boeira (como diria seu professor no curso de Inglês):
- O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), de Peter Jackson: no dia 25 de dezembro de 2003, às 13h30min, a primeira sessão da terceira e última parte da sensacional trilogia O Senhor dos Anéis começava no Cinemark do Bourbon Ipiranga. Sim, esta ida foi tão marcante que Thomás lembra de todos esses detalhes. Lembra até que a sessão estava lotada e ele, sua irmã, e a amiga Juliana tiveram que se sentar nas primeiras fileiras (atrás de elfos e hobbits) e assistir ao filme olhando para cima. Mas isso não mudou em absolutamente nada a experiência, sendo O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei um filme sensacional. E, como Thomás comentou em sua crítica de Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2, o filme foi muito aplaudido por todos que estavam no cinema quando terminou.
- Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009), de David Yates: a primeira pré-estreia de Thomás, e também a primeira vez que o rapaz furou uma fila, mostrando que em casos como esse ele abre uma exceção para quebrar regras. Valeu a pena ter furado a fila. Ao final da sessão, uma garota na frente de Thomás falou “Que droga de filme!”, o que fez o rapaz pensar “Nós assistimos ao mesmo filme?”.
- Missão Impossível 3 (2006), de J.J. Abrahams: “Quando começou seu vício em cinema?”. Esta é uma pergunta que muitas pessoas fazem para Thomás. Missão Impossível 3 não fez ele ficar viciado nessa arte maravilhosa, mas foi aí que Thomás começou a ir com mais frequência as salas de cinema, o que desencadeou a chamada cinefilia. Vale dizer que o Telecine também contribuiu muito com isso.
- Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan: o filme estreou no dia 18 de julho de 2008, mas Thomás não conseguiu ingresso para esse dia. Sendo assim, no dia seguinte, ele e sua irmã (percebe-se que eles são uma dupla dinâmica) ficaram de tocaia na frente da bilheteria. Quando algumas pessoas estavam prestes a formar uma fila, os dois praticamente correram e entraram na frente de todos que estavam ali. Thomás diz: “Quando se quer ver um filme, vale tudo pra pegar um bom lugar na sala de cinema”.
- Simão: O Fantasma Trapalhão (1998), de Paulo Aragão: como foi dito na postagem do ano passado, Simão: O Fantasma Trapalhão foi a primeira sessão de cinema da vida de Thomás. Por isso, é óbvio que não poderia ficar de fora desta nova lista. Uma das poucas lembranças que Thomás tem daquele dia é o exato momento em que ele entrou no cinema. "Momento mágico", ele diz.
- Avatar (2009), de James Cameron: graças a enorme fila para comprar ingresso (onde ficou durante uma hora, já que as pessoas pareciam não saber escolher lugares), Thomás perdeu 27 minutos da sessão de Avatar, mas ainda conseguiu ver e entender o filme. Além disso, foi sua primeira sessão em 3D, como foi dito na lista do ano passado.
- 500 Dias Com Ela (2009), de Mark Webb: a ida para assistir 500 Dias Com Ela pode não ter sido tão marcante para Thomás, mas, como ele esqueceu de incluí-lo na lista do ano passado, vale dizer que foi o filme do qual ele saiu da sessão querendo escrever sua primeira crítica. “Horrorosa”, diz ele. Mas é assim que se começa, sempre buscando melhorar com o tempo.
Thomás espera que gostem da lista e que compartilhem suas idas ao cinema mais inesquecíveis. Afinal, todos têm sessões das quais nunca esquecerão.
Assinado: Tom.