terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra

Algo interessante em Steven Spielberg é o fato de ele às vezes lançar dois filmes no mesmo ano geralmente seguindo uma espécie de regra. Um deles é blockbuster, enquanto o outro é um drama. Este ano, o blockbuster é As Aventuras de Tintim, e o drama é este Cavalo de Guerra, filme que conta uma história com uma fórmula bastante batida: a amizade entre uma pessoa e um animal. Apesar disso, Cavalo de Guerra consegue ser conquistador e emocionante.
Escrito por Lee Hall e Richard Curtis, baseado no livro de Michael Morpurgo, Cavalo de Guerra segue a amizade do jovem Albert Narracott (Jeremy Irving) com o cavalo Joey nos tempos da Primeira Guerra Mundial. Albert mostra ter uma grande admiração pelo animal desde que o viu nascer, e fica feliz ao ver que seu pai, Ted (Peter Mullan), o comprou para ajudar na fazenda, algo visto com desgosto por sua mãe, Rose (Emily Watson). Mas por problemas financeiros, Ted o vende para o exército. Mesmo separados, Albert e Joey continuam ligados por sua amizade e pela promessa de que irão se encontrar novamente. Enquanto isso, eles precisam enfrentar os terrores da guerra.
O filme começa com o nascimento de Joey. Pouco depois, Steven Spielberg já mostra sua primeira boa sacada, muito parecida com a que Danny Boyle fez em 127 Horas. Ele mantém o foco quase o tempo todo no pequeno cavalo ao lado da mãe, e então corta para mostrar o título do filme. Isso já nos mostra o que Joey se tornará ao longo da história.
Todo o primeiro ato de Cavalo de Guerra se dedica ao relacionamento de Albert e Joey, que é muito bem estabelecido. Com sensibilidade, Spielberg consegue fazer a amizade se tornar algo interessante. Isso acaba sendo fundamental para que nós nos importemos com o destino dos personagens e consiga segurar as duas horas e meia de duração do filme, não fazendo ele se tornar chato e entediante. Essa parte do filme mostra Joey sendo treinado para arar as terras da fazenda. Aparentemente, essa sequencia mostra-se previsível, mas o roteiro surpreende ao fazer Joey precisar de uma “ajudinha dos céus” para fazer o serviço. Pouco depois, essa mesma ajudinha volta, mas com o sentido de dizer “Deus dá, e Deus tira”, o que serve não só para dar o gancho para o segundo ato do filme, como também para dar uma função ao fato de a família ter problemas financeiros.
Joey é mostrado no filme como um cavalo insistente, que nunca desiste, e é isso que chama a atenção de Ted Narracott quando este o compra, já que é uma característica que prevalece na família. Já Albert, interpretado com grande determinação pelo estreante Jeremy Irvine, é um garoto que coloca aqueles que ama antes de si mesmo. Depois de arar a terra com Joey, ele fica tão cansado quanto o cavalo, mas ainda assim prefere cuidar do amigo.
A direção de Spielberg ajuda muito a passar a ideia de que Albert e Joey se completam. Isso porque, ao longo do filme, o diretor faz rimas muito interessantes. Quando Joey vai à guerra com o Capitão Nicholls (o carismático Tom Hiddleston, de Thor), Spielberg segue toda a correria fazendo um travelling para a esquerda. Já quando Albert entra em batalha, a câmera segue o personagem indo para a direita. Além disso, Spielberg mostra-se preocupado em mostrar as consequências dos combates na guerra, como no momento em que ele faz a câmera se afastar e revelar, aos poucos, um mar de soldados mortos. Se isso já bastaria para causar impacto no filme, o diretor em outros momentos foca os rostos dos personagens, que brilham por causa das explosões e dos disparos de armas, mostrando a reação deles perante o horror que acontece diante de seus olhos. E as cenas em que Joey aparece correndo, sem saber qual será seu próximo destino, são de uma beleza incrível, em parte graças à excelente fotografia de Janusz Kaminski, parceiro habitual de Spielberg.
O roteiro enrola um pouco a história. O tempo que Joey passa com dois irmãos (interpretados por David Cross e Leonhard Carow) mostra ser desnecessário, já que em nada acrescenta ao filme. Já a sequência em que o animal fica aos cuidados da jovem Emilie (Celine Buckens) é um pouco irritante no início, já que a garota mostra ser um pouco mimada, mas melhora quando ela começa a tratar Joey da mesma maneira que Albert. Isso faz essa parte ficar até um pouco divertida, tornando-se o momento mais leve do projeto. E o fato de ela não conseguir ensinar o cavalo a saltar por cima de obstáculos resulta, mais tarde, na cena mais agonizante do filme.
Cavalo de Guerra ainda conta com belos trabalhos no design de produção e nos figurinos, que recria a época da Primeira Guerra Mundial eficientemente. O mesmo pode ser dito sobre a montagem, que é hábil ao conseguir acompanhar Joey e Albert quase ao mesmo tempo, mesmo eles estando separados. Mas a jornada de Joey se torna ainda mais envolvente e emocionante graças à espetacular trilha sonora do mestre John Williams, que só não será indicada ao Oscar caso os membros da Academia sejam surdos. Williams consegue transformar Cavalo de Guerra quase em um épico, o que já é digno de aplausos.
Depois de quase três anos sem lançar um filme, é bom ver que Steven Spielberg volta com uma obra como Cavalo de Guerra. Se ele conseguirá ser totalmente bem-sucedido em seu retorno duplo, só poderemos afirmar depois de assistir As Aventuras de Tintim.
Cotação:

2 comentários:

Carol disse...

Thomás, você está escrevendo como um profissional, fiquei muito curiosa, vou assistir Cavalo de Guerra, afinal, filmes de Steven Spielberg são sempre excepcionais!
Um abraço

Maxwell Soares disse...

Olá, Thomas. Sou apaixonado por cavalos. Apesar de nunca haver montado algum. Filmes assim só prendem minha atenção. Excelente blogger. Parabéns...