segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar 2012 - Vencedores

O maravilhoso O Artista confirmou todo o seu favoritismo e foi o grande vencedor do Oscar 2012, vencendo Melhor Filme, Melhor Direção (Michel Hazanavicius), Melhor Ator (Jean Dujardin), Trilha Sonora e Figurino. Também com cinco estatuetas, A Invenção de Hugo Cabret surpreendeu em algumas categorias, como Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia, mas ficou só com prêmios técnicos.
No resto não houve muitas surpresas. Woody Allen ganhou seu quarto Oscar, de Melhor Roteiro Original, pelo excelente Meia-Noite em Paris. Os Descendentes ficou com Melhor Roteiro Adaptado (algo que não consigo contestar porque Jim Rash, o Reitor Pelton de Community, faz parte do trio que levou esse prêmio). Rango venceu Melhor Animação. Octavia Spencer, infelizmente, levou Melhor Atriz Coadjuvante por Histórias Cruzadas, enquanto que Christopher Plummer ganhou seu merecido prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por Toda Forma de Amor. E Meryl Streep finalmente ganhou seu terceiro Oscar, por sua atuação como Margaret Thatcher em A Dama de Ferro. A atriz havia sido indicada outras 16 vezes e ganhou duas (a última em 1983, por A Escolha de Sofia).
Particularmente, fiquei muito feliz com esse Oscar. Primeiro, porque um filme que adorei foi o grande vencedor. Segundo, vi Meryl Streep ganhar um Oscar de Melhor Atriz e ela é fantástica. E terceiro, vi Woody Allen, Terrence Malick e Martin Scorsese, três grandes diretores da história do cinema, concorrerem a Melhor Direção, e isso é muito raro de se ver.
Quanto a cerimônia em si, fiquei decepcionado com a apresentação de Billy Crystal, que não conseguiu brilhar como nas outras vezes em que apresentou o Oscar. A velha música que ele canta no início de cada edição continua interessante, mas fora esse momento e a parte em que ele fala o que as pessoas estão “pensando”, Crystal realmente me fez sentir saudades de suas outras apresentações.
Abaixo segue a lista completa de ganhadores (que estarão destacados em itálico):
Melhor Filme
O Artista
Os Descendentes
Tão Forte e Tão Perto
Histórias Cruzadas
A Invenção de Hugo Cabret
Meia-Noite em Paris
O Homem Que Mudou o Jogo
A Árvore da Vida
Cavalo de Guerra
Melhor Direção
Woody Allen, por Meia-Noite em Paris
Michel Hazanavicius, por O Artista
Terrence Malick, por A Árvore da Vida
Alexander Payne, por Os Descendentes
Martin Scorsese, por A Invenção de Hugo Cabret
Melhor Ator
Demián Bichir, por Uma Vida Melhor
George Clooney, por Os Descendentes
Jean Dujardin, por O Artista
Gary Oldman, por O Espião Que Sabia Demais
Brad Pitt, por O Homem Que Mudou o Jogo
Melhor Atriz
Glenn Close, por Albert Nobbs
Viola Davis, por Histórias Cruzadas
Rooney Mara, por Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Meryl Streep, por A Dama de Ferro
Michelle Williams, por Sete Dias com Marilyn
Melhor Ator Coadjuvante
Kenneth Branagh, por Sete Dias com Marilyn
Jonah Hill, por O Homem Que Mudou o Jogo
Nick Holte, por Guerreiro
Christopher Plummer, por Toda Forma de Amor
Max von Sydow, por Tão Forte e Tão Perto
Melhor Atriz Coadjuvante
Bérénice Bejo, por O Artista
Jessica Chastain, por Histórias Cruzadas
Melissa McCarthy, por Missão Madrinha de Casamento
Janet McTeer, por Albert Nobbs
Octavia Spencer, por Histórias Cruzadas
Melhor Roteiro Original
Michel Hazanavicius, por O Artista
Kristen Wiig e Annie Mumolo, por Missão Madrinha de Casamento
J.C. Chandor, por Margin Call: O Dia Antes do Fim
Woody Allen, por Meia-Noite em Paris
Asghar Farhadi, por A Separação
Melhor Roteiro Adaptado
Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, por Os Descendentes
John Logan, por A Invenção de Hugo Cabret
George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon, por Tudo Pelo Poder
Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan Chervin, por O Homem Que Mudou o Jogo
Bridget O’Connor e Peter Straughan, por O Espião Que Sabia Demais
Melhor Animação
Um Gato em Paris, de Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli
Chico e Rita, de Fernando Trueba e Javier Mariscal
Kung Fu Panda 2, de Jennifer Yuh
Gato de Botas, de Chris Miller
Rango, de Gore Verbinski
Melhor Filme Estrangeiro
Bullhead, de Michael R. Roskam (Bélgica)
Footnote, de Joseph Cedar (Israel)
In Darkness, de Agnieszka Holland (Polônia)
Monsieur Lazhar, de Philippe Falardeau (Canadá)
A Separação, de Asghar Farhadi (Irã)
Melhor Fotografia
Guillaume Schiffman, por O Artista
Jeff Cronenweth, por Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Robert Richardson, por A Invenção de Hugo Cabret
Emmanuel Lubezski, por A Árvore da Vida
Janusz Kaminski, por Cavalo de Guerra
Melhor Montagem
Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius, por O Artista
Kevin Tent, por Os Descendentes
Angus Wall e Kirk Baxter, por Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Thelma Schoonmaker, por A Invenção de Hugo Cabret
Christopher Tellefsen, por O Homem Que Mudou o Jogo
Melhor Direção de Arte
Laurence Bennett e Robert Gould, por O Artista
Stuart Craig e Stephenie McMillan, por Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2
Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo, por A Invenção de Hugo Cabret
Anne Seibel e Hélène Dubreuil, por Meia-Noite em Paris
Rick Carter e Lee Sandales, por Cavalo de Guerra
Melhor Figurino
Lisy Christl, por Anonymous
Mark Bridges, por O Artista
Sandy Powell, por A Invenção de Hugo Cabret
Michael O´Connor, por Jane Eyre
Arianne Phillips, por W.E. - O Romance do Século
Melhor Maquiagem
Martial Corneville, Lynn Johnson e Matthew W. Mungle, por Albert Nobbs
Nick Dudman, Amanda Knight e Lisa Tomblin, por Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2
Mark Coulier e J. Roy Helland, por A Dama de Ferro
Melhor Trilha Sonora
John Williams, por As Aventuras de Tintim
Ludovic Bource, por O Artista
Howard Shore, por A Invenção de Hugo Cabret
Alberto Iglesias, por O Espião Que Sabia Demais
John Williams, por Cavalo de Guerra
Melhor Canção
“Man or Muppet”, de Os Muppets. Letra e música de Bret McKenzie
“Real in Rio”, de Rio. Letra Siedah Garret, música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown
Melhor Mixagem de Som
David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson, por Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres
Tom Fleischman e John Midgley, por A Invenção de Hugo Cabret
Deb Adair, Ron Bochar, Dave Giammarco e Ed Novick, por O Homem Que Mudou o Jogo
Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin, por Transformers: O Lado Oculto da Lua
Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson, por Cavalo de Guerra
Melhor Montagem de Som
Lon Bender e Victor Ray Ennis, por Drive
Ren Klyce, por Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres
Philip Stockton e Eugene Gearty, por A Invenção de Hugo Cabret
Ethan Van der Ryn e Erik Aadahl, por Transformers: O Lado Oculto da Lua
Richard Hymns e Gary Rydstrom, por Cavalo de Guerra
Melhores Efeitos Visuais
Tim Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson, por Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2
Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning, por A Invenção de Hugo Cabret
Erik Nash, John Rosengrant, Dan Taylor e Swen Gillberg, por Gigantes de Aço
Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett, por Planeta dos Macacos: A Origem
Dan Glass, Brad Friedman, Douglas Trumbull e Michael Fink, por Transformers: O Lado Oculto da Lua
Melhor Documentário
Danfung Dennis e Mike Lerner, por Hell and Back Again
Marshall Curry e Sam Cullman , por If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front
Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, por Paradise Lost 3: Purgatory
Wim Wenders e Gian-Piero Ringel , por Pina
T.J. Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas, por Undefeated
Melhor Curta Documentário
Robin Fryday e Gail Dolgin, por The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement
Rebecca Cammisa e Julie Anderson, por God is the Bigger Elvis
James Spione, por Incident in New Baghdad
Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy, por Saving Face
Lucy Walker e Kira Carstensen, por The Tsunami and the Cherry Blossom
Melhor Curta Metragem de Animação
Patrick Doyon, por Dimanche
William Joyce e Brandon Oldenburg, por The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Enrico Casarosa, por La Luna
Grant Orchard e Sue Goffe, por A Morning Stroll
Amanda Forbis e Wendy Tilby, por Wild Life
Melhor Curta Metragem
Peter McDonald e Eimear O'Kane, por Pentecost
Max Zähle e Stefan Gieren, por Raju
Terry George e Oorlagh George, por The Shore
Andrew Bowler e Gigi Causey, por Time Freak
Hallvar Witzø, por Tuba Atlantic

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo

Algo que considero um pouco injusto com relação a qualquer esporte é o fato de o time maior sempre ser o favorito diante de um time modesto. É claro que, na maioria das vezes, o primeiro sai como grande vencedor, mas há dias em que o segundo surpreende (pego dois exemplos do time de futebol para o qual eu torço, Internacional, que ganhou um mundial em cima do Barcelona e perdeu outro para o Mazembe, time até então desconhecido do Congo). O Homem Que Mudou o Jogo é exatamente sobre isso. No esporte, se você tem um time de jogadores eficientes, que cumprem suas tarefas dentro de campo, então a faixa salarial será insignificante diante dos resultados que eles atingirem.
Escrito por Steven Zaillian e Aaron Sorkin com argumento de Stan Chervin, baseado no livro de Michael Lewis, O Homem Que Mudou o Jogo segue Billy Beane (Brad Pitt), diretor do time de baseball Oakland Athletics. Sem muito dinheiro, Billy procura um modo de montar um time vencedor para a temporada. Ao conhecer o jovem economista Peter Brand (Jonah Hill), ele descobre um meio de ver qualidades nos jogadores que vão além dos aparentes problemas que eles têm e pelos quais são injustiçados pelo esporte. Com um time eficiente e barato, Billy surpreende a todos e se torna parte de algo que pode revolucionar o esporte.
Iniciando o filme com vídeos de arquivo que mostram muito bem um pouco do fracasso do Oakland Athletics, o diretor Bennet Miller (o mesmo do excelente Capote) consegue dar o tom de todo o filme ao incluir um placar que indica a faixa salarial do New York Yankees (114 milhões de dólares) e do Oakland (39 milhões), algo admirável porque indica que o jogo no qual os personagens estão inseridos não é justo. Sempre que vemos um time de maior porte, quase que imediatamente pensamos que ele é o melhor. Mas a verdade é que pode-se ter em mãos os jogadores mais caros do mundo (os melhores, em resumo), ainda assim existe a possibilidade de perder. Às vezes, o que pesa mais é a nossa vontade de vencer, e isso só terá limite se impormos um.
Miller ainda consegue estabelecer muito bem o sentimento dos personagens ao longo do filme. Em uma parte vemos um time de derrotados, que ainda se diverte no vestiário, para a decepção do protagonista. Em outra vemos um time vencedor e tranquilo, e aqui Miller chega a fazer um rápido plano-sequência no qual Billy resolve pela primeira vez desejar boa sorte e passar confiança para seus jogadores.
O roteiro consegue mostrar que o esporte puxa o tapete das pessoas quando elas menos esperam (algo que Cameron Crowe também havia feito admiravelmente no grande Jerry Maguire). Acordos dados como certos acabam não se concretizando, jogadores que prometiam ser bons não mostram toda sua capacidade. Aliás, o modo como o filme mostra o baseball e seus bastidores pode ser considerado como uma metáfora para a vida, já que nem sempre conseguimos cumprir nossos objetivos.
A montagem de Christopher Tellefsen consegue colocar as cenas de arquivo ao longo do filme naturalmente e sempre no momento certo, como na sequência que mostra o período de vitórias do Oakland. Até durante os jogos essas cenas de arquivo funcionam muito bem, mesmo interrompendo um pouco o filme. Além disso, há momentos muito interessantes, como a cena em que a filha de Billy, Casey (a carismática Kerris Dorsey), impressiona seu pai tocando violão e ouvimos palmas, que mostram vir do estádio na cena seguinte.
Desde o início, Billy Beane é uma figura bastante admirável. Muito bem interpretado por Brad Pitt com um misto de bom humor e seriedade, Billy é realista com as coisas que acontecem e determinado quando o assunto é o que pode melhorar a vida do Oakland. Ele chega até mesmo a escalar o time para o jogo, contrariando a vontade do técnico, Art Howe (interpretado pelo sempre ótimo Philip Seymour Hoffman). Billy não quer dinheiro, e sim ver seu time vencedor, algo que se torna ainda mais interessante quando ele não se importa com o fato de Art receber os créditos pela melhora dos resultados. Sua carreira fracassada como jogador (algo que é mostrado de forma um tanto rasa) parece o perseguir até como dirigente, já que por muito tempo seu time não consegue vencer. O fato de ele ser um “pé frio”, misturado com seu desejo de ver o time vitorioso, o leva ao ponto de não ver os jogos, mesmo quando a situação está boa.
Jonah Hill também se destaca ao interpretar com carisma um personagem que é a cara do Oakland Athletics. A cena da primeira reunião do Oakland na qual Peter Brand é incluído mostra muito bem isso, com os mais experientes olhando torto e subestimando sua capacidade. Peter pode não possui a experiência que muitas pessoas do clube possuem, mas sua inteligência e seu modo de pensar é o equivalente a isso. Apesar de aparecer inseguro várias vezes, ele tem certeza daquilo que fala, e Jonah Hill consegue impor muito bem essa postura firme do personagem. Além disso, Hill forma com Pitt uma dupla interessante e, em alguns momentos, divertida.
Em determinado momento, Billy Beane diz “Eu quero que isso signifique alguma coisa”, referindo-se a estratégia adotada para o Oakland. O que se vê em O Homem Que Mudou o Jogo é um homem que pode até ser um perdedor, mas pela participação que teve no novo modo de ver o esporte, ele é um grande vencedor.
Cotação:

Previsões e Favoritos ao Oscar 2012

O Oscar está chegando e assim como fiz ano passado vou colocar aqui minhas apostas e também meus favoritos para levar as estatuetas. Não vi alguns filmes que estão indicados nas categorias de atuações e nas categorias técnicas, então as apostas estão sendo feitas não só pelo que vem rolando nas premiações (Globo de Ouro, SAG, BAFTA, etc.), mas também na base do “chute”.
Melhor Filme: O Artista é disparado o favorito. O filme levou praticamente todos os prêmios aos quais estava indicado nessa temporada. Adoro A Árvore da Vida e Meia-Noite em Paris, obras que se ganhassem seria uma surpresa muito agradável, mas acho que as chances são muito poucas. O Artista é o meu favorito entre os indicados e o prêmio será merecido, já que o filme é uma belíssima homenagem ao cinema.
Melhor Direção: Michel Hazanavicius levou o prêmio do Sindicato dos Diretores (DGA), o grande termômetro dessa categoria. A última vez que o DGA premiou alguém que acabou não levando o Oscar foi há quase dez anos, quando Rob Marshall levou o prêmio por Chicago, mas depois perdeu a estatueta para Roman Polanski, por O Pianista. Mas se Terrence Malick ou Woody Allen resolverem atrapalhar um pouco a festa dos franceses, também será interessante.
Melhor Ator: Os cinco atores indicados esse ano fizeram belíssimos trabalhos. Jean Dujardin, de O Artista, aparece como grande favorito, tendo ganho a maioria dos principais prêmios dessa temporada. Mas apesar de gostar de todos os indicados nesta categoria, eu estarei na torcida pelo brilhante Gary Oldman, em O Espião Que Sabia Demais.
Melhor Atriz: Nunca vou esquecer de 2009, quando Mickey Rourke e Sean Penn estavam no páreo para levar o Oscar de Melhor Ator, com suas brilhantes atuações em O Lutador e Milk: A Voz da Igualdade. Rourke havia ganho o Globo de Ouro e o BAFTA. Mas Penn levou o prêmio do Sindicato dos Atores (SAG) e depois o Oscar. É exatamente o que está acontecendo esse ano na categoria de Melhor Atriz. Meryl Streep e Viola Davis disputam o prêmio por seus trabalhos em A Dama de Ferro e Histórias Cruzadas. Streep levou o Globo de Ouro e o BAFTA. Davis levou o SAG, e por isso aposto nela. Minha favorita é Rooney Mara em Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, mas suas chances são quase nulas. (não vi ainda as atuações de Streep, Michelle Williams, em Sete Dias Com Marilyn, e Glenn Close, em Albert Nobbs)
Melhor Ator Coadjuvante: Christopher Plummer é um ator veterano que teve uma ótima atuação em Toda Forma de Amor. Levou quase todos os prêmios que podia por seu trabalho e com certeza deve levar o Oscar. Particularmente, eu daria a estatueta para Nick Nolte, por seu trabalho marcante em Guerreiro. (não vi ainda a atuação de Kenneth Branagh, em Sete Dias Com Marilyn)
Melhor Atriz Coadjuvante: A favorita ao prêmio, infelizmente, é Octavia Spencer, que interpretou uma caricatura em Histórias Cruzadas. Ela deverá sair muito feliz na noite de domingo, mas espero que ocorra uma surpresa e a bela Bérénice Bejo leve o prêmio para casa, por seu maravilhoso trabalho em O Artista. (não vi ainda a atuação de Janet McTeer, em Albert Nobbs)
Melhor Roteiro Original: Aqui está a minha grande dúvida. Aparentemente, Woody Allen é o grande favorito por seu maravilhoso roteiro de Meia-Noite em Paris, tendo recebido o prêmio do Sindicato dos Roteiristas (WGA). Mas sinto que O Artista esta com fôlego para ganhar a maioria dos prêmios em que está indicado. Não consigo ignorar que nos últimos dois anos tivemos Quentin Tarantino (2010) e Christopher Nolan (2011) vencendo o WGA por Bastardos Inglórios e A Origem, respectivamente, mas no Oscar os prêmios foram para Guerra ao Terror e O Discurso do Rei, que ainda venceram Melhor Filme. Por isso, aposto em Michel Hazanavicius e seu roteiro de O Artista.
Melhor Roteiro Adaptado: Diferente da categoria de Roteiro Original, o WGA e o Oscar variam pouco quando o assunto são as adaptações. Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash (o Reitor Pelton da espetacular série Community) venceram o WGA e acho que levarão também o Oscar. Acredito que John Logan, por A Invenção de Hugo Cabret, seja o único que pode atrapalhar o trio de Os Descendentes. Eu não daria o prêmio para nenhum dos dois, honrando George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon pelo excelente Tudo Pelo Poder, talvez o filme mais injustiçado dessa edição do Oscar.
Melhor Animação: A Pixar está fora. Os ótimos As Aventuras de Tintim e Operação Presente foram esquecidos. Os medianos Gato de Botas e Kung Fu Panda 2 foram lembrados. Chico & Rita (que não vi ainda) e Um Gato em Paris (ótimo) estão ali como coringas. Sendo assim, o genial Rango tem tudo para ganhar seu mais do que merecido reconhecimento.
Melhor Filme Estrangeiro: Estou envergonhado. Não vi nenhum dos filmes indicados. Nem mesmo o favorito A Separação, filme em que aposto por ter levado todos os prêmios dessa categoria.
Melhor Trilha Sonora: Coloco todas as fichas no belo trabalho de Ludovic Bource, em O Artista.
Melhor Canção: Esse Oscar deve ir para os adoráveis Muppets.
Melhor Direção de Arte: Aposto em A Invenção de Hugo Cabret, mas qualquer um que vencer será merecido.
Melhor Montagem: Aposto em O Artista, mas gostei muito do trabalho feito em Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres.
Melhor Fotografia: Esse deve ir para Emmanuel Lubezki, por seu grande trabalho em A Árvore da Vida. Provavelmente, este será o único prêmio que o filme ganhará. Nessa categoria, qualquer um que vencer será um Oscar bem entregue.
Melhor Figurino: Esta é a categoria dos filmes de época. W.E.: O Romance do Século, dirigido por Madonna, levou o prêmio do Sindicato dos Figurinistas e deve levar o Oscar também.
Melhor Maquiagem: Acho que A Dama de Ferro leva essa, mas gostaria de ver Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 ganhando.
Melhores Efeitos Visuais: Mais uma vez gostaria de ver a série Harry Potter ganhar, mas acho que esse vai para Planeta dos Macacos: A Origem.
Melhor Edição de Som: Acho que Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres leva essa. Não acredito que a Academia deva premiar o mais explosivo, Transformers 3, este ano. Se isso acontecer, será vergonhoso.
Melhor Mixagem de Som: aposto em Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, mais uma vez.
A 84ª edição do Oscar será neste domingo. Estarei comentando no Twitter e colocando algumas coisas na página do Brazilian Movie Guy no Facebook. Aliás, quem não curtiu a página ainda (aqui na coluna ao lado), faça isso. É importante para o blog.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança

Sendo um dos personagens mais sombrios do universo da Marvel Comics, o Motoqueiro Fantasma é uma figura que, se fosse bem explorada, poderia render um filme interessante. Em 2007, ele ganhou um filme medíocre, dirigido por Mark Steven Johnson, e o rosto de Nicolas Cage, um bom ator que atualmente está quase virando sinônimo de produções ruins (é raro vê-lo em uma obra que preste, sendo que Kick-Ass foi o último bom filme que ele lançou). Agora, o ator volta a encarnar o personagem (do qual é grande fã) sob o comando de Mark Neveldine e Brian Taylor, em uma sequência claramente mais sombria, mas que tem um tratamento tão fraco que acaba resultando em um dos piores filmes baseados em um personagem da Marvel.
Escrito por Scott M. Gimple, Seth Hoffman e David S. Goyer, Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança coloca Johnny Blaze na Europa Oriental, tentando encontrar um modo de se livrar de sua maldição. Ele é chamado por Moreau (Idris Elba) para ajudar a encontrar Danny (Fergus Riordan), um garoto que Roarke (Ciarán Hinds), o demônio em pessoa, quer como sua encarnação na Terra. Em troca, Moreau promete para Blaze que irá tirar a maldição de seu corpo.
Brian Taylor e Mark Neveldine iniciam Motoqueiro Fantasma 2 com uma sequência de perseguição em uma igreja na qual eles mostram como filmaram o filme inteiro. Enquanto que o grupo liderado por Garrigan (Johnny Whitworth) tenta tirar Danny das mãos de sua mãe, Nadya (Violante Placido), os diretores querem mostrar toda a ação que acontece no local. Para isso, eles ficam balançando e girando a câmera de um lado para o outro, não focando em absolutamente nada e tornando a ação quase que incompreensível. Mas o quê poderia ser esperado de uma dupla que fez os dois filmes de Adrenalina e Gamer?
As cenas de ação, aliás, não empolgam em momento algum já que a dupla de cineastas não consegue impor nenhum ritmo ao filme. Nem a trilha sonora roqueira de David Sardy consegue trazer alguma energia para as cenas. O protagonista ainda é tratado como um ser indestrutível, não dando muito motivo para que o público torça por ele. A partir do momento em que Johnny Blaze se transforma no Motoqueiro Fantasma, nada o detém. O herói usa sua corrente para acabar com seus adversários da mesma forma que uma faca corta manteiga. Nunca surge um grande desafio para que possamos temer pela vida de Blaze. Nem mesmo Roarke convence como vilão, já que além de ser mal desenvolvido pelo roteiro, seu intérprete Ciarán Hinds aparece várias vezes com a boca torta e falando estranho, o que até causa o riso involuntário (e o destino simples do personagem é digno de sua péssima qualidade).
Os diretores usam algumas sequências em desenho (que lembram um pouco os quadrinhos) para explicar a história para o público. Mas é algo que eles fazem sem o menor cuidado, colocando essas partes em momentos inoportunos. Além disso, na maioria das vezes o que é explicado pelo roteiro nessas sequências são coisas desnecessárias, como o porquê de Roarke andar na Terra ou como a maldição de Johnny Blaze surgiu (se já houve um primeiro filme, então para quê interromper a continuação para explicar como tudo começou?).
A montagem de Motoqueiro Fantasma 2 é uma bagunça. Contando com apenas um momento interessante (quando Carrigan fala com Roarke pelo telefone), ela insere no meio de algumas cenas planos que trazem um personagem com um fundo totalmente preto, sem o menor sentido. E o uso de cortes rápidos nas cenas de ação lembra muito o modo Michael Bay de se fazer filmes.
Nicolas Cage se supera interpretando Johnny Blaze, e não estou falando no bom sentido. Investindo em expressões sérias e em ataques de riso (que lembram muito seu trabalho em Vício Frenético), Cage aparece falando com um tom de voz baixo, arrastado e sonolento, claramente no piloto-automático. Em cenas que exigem um pouco mais de seriedade de sua parte, Cage parece estar até um pouco desconfortável. É triste ver um ator como ele se afundar cada mais. Se pegarmos os últimos dez filmes estrelados por ele, mais da metade é ruim.
Quanto aos coadjuvantes, Violante Placido pouco tem a fazer com Nadya, a única personagem feminina do filme, enquanto que Johnny Whitworth não consegue transformar Carrigan em uma figura interessante. E se Christopher Lambert (sim, o eterno Highlander) volta a aparecer em uma tela de cinema com pouquíssimas falas, Idris Elba aparece carismático como Moreau, interpretando-o com um misto de bom humor e seriedade.
Contando com um 3D convertido que com certeza foi usado apenas para o filme ganhe um pouco mais de dinheiro nas bilheterias (me surpreenderei muito se não for um fracasso total), Motoqueiro Fantasma 2 é o tipo de filme que seria lançado direto em DVD no Brasil caso a data de lançamento por aqui não fosse a mesma que nos Estados Unidos. O personagem merece algo muito melhor.
Cotação:

Tão Forte e Tão Perto

Antes de embarcar em Tão Forte e Tão Perto, o diretor Stephen Daldry já havia feito três longas-metragens: Billy Elliot, As Horas e O Leitor. Ele foi indicado ao Oscar de Melhor Direção pelos três filmes, sendo que os dois últimos foram também indicados a Melhor Filme. Esse ano, Daldry ficou de fora da categoria de direção, mas Tão Forte e Tão Perto conseguiu ser lembrado em Melhor Filme, sendo a grande surpresa na lista de indicados, o que prova que a Academia deve adorar tanto o diretor que é capaz até de deixar filmes sensacionais de fora apenas para dar lugar a um filme dele, mesmo que a obra não seja digna de tal lembrança.
Escrito por Eric Roth (o mesmo roteirista de Forrest Gump e O Curioso Caso de Benjamin Button), baseado no livro de Jonathan Safran Foer, Tão Longe e Tão Perto acompanha o jovem Oskar Schell (Thomas Horn), que aos nove anos de idade perde o pai, Thomas (Tom Hanks) nos ataques de 11 de setembro. Um dia, enquanto olha os objetos no armário de seu pai, Oskar encontra uma chave em um envelope no qual está escrito a palavra “Black” (um nome, como ele conclui imediatamente). Esperando que seja uma pista para uma mensagem, o garoto começa a procurar incansavelmente a fechadura que poderá representar o último suspiro de seu pai.
Logo no início Tão Forte e Tão Perto mostra um de seus elementos mais frágeis: a narração em off de Oskar. Em alguns momentos ela é necessária para entendermos como a cabeça do garoto funciona, como quando ele organiza toda a lista de pessoas de nome Black para facilitar a procura. Por outro lado, a narração vira algo desnecessário quando Oskar explica coisas absolutamente óbvias (“Se havia uma chave, então havia uma fechadura. Se havia um nome, então havia uma pessoa”), como se o público que está assistindo ao filme não estivesse entendendo o que está acontecendo.
O filme apresenta Oskar quase como um autista. Com uma fala rápida, um jeito antissocial e sem noção quanto aos sentimentos das pessoas a sua volta, o garoto se torna uma figura difícil de simpatizar em alguns momentos. Há uma cena, por exemplo, em que ele simplesmente diz que gostaria que sua mãe, Linda (Sandra Bullock, em boa atuação), tivesse morrido no lugar de seu pai, logo quando ela quer ajuda-lo a passar por este triste período de suas vidas. Além disso, o roteiro insiste em fazer o garoto explicar coisas absolutamente desnecessárias como “Quando meu pai ligou pela quinta vez, eu estava dobrando a esquina. Sei disso porque contei os passos”. Se Oskar não vira uma figura totalmente irritante, isso se deve por ele ser interpretado com certa eficiência pelo estreante Thomas Horn, que consegue passar muito bem a dor e a tristeza que o garoto sente pela morte do pai. Aliás, a química entre ele e o carismático Tom Hanks é um dos pontos altos do filme.
Horn ainda forma uma dupla interessante com Max von Sydow, que interpreta o inquilino do quarto de sua avó. Sem falar uma única palavra durante todo o filme, o ator consegue nos fazer simpatizar com seu personagem pelo fato de ele querer ajudar o protagonista e o faz enfrentar alguns de seus medos, como andar de transporte público, algo que Oskar não faz por medo de um ataque terrorista. Na cena em que o inquilino escuta as mensagens deixadas pelo pai de Oskar na secretária eletrônica, von Sydow prova que sua indicação ao Oscar não foi algo por acaso, já que nesse momento ele mostra através de suas expressões e de seus gestos o desespero do personagem, que não quer mais ouvir aquilo. Uma pena, no entanto, que o personagem seja quase esquecido em determinado momento da projeção.
O roteiro de Roth tem partes um tanto que episódicas, já que ao longo de sua “missão”, Oskar passa algum tempo com cada Black que encontra. Isso não se torna algo muito interessante porque quase nenhum Black ganha espaço para que nós saibamos um pouco de suas histórias, sendo as únicas exceções o casal Abby e William Black (interpretados por Viola Davis e Jeffrey Wright, respectivamente). Aliás, o fato de Oskar concluir rapidamente que “Black” é um nome soa um pouco estranho, já que poderia ser também a cor de alguma coisa.
Stephen Daldry mantém ao longo do filme um clima de melancolia, graças a boa trilha sonora de Alexadre Desplat, ao mesmo tempo que dá um caráter aventureiro para a missão de Oskar, algo evidente pela quantidade de cortes rápidos que o diretor utiliza nas sequências em que o personagem se encontra com todos os Blacks. Mas o diretor falha com relação aos flashbacks, que aparecem sem a menor naturalidade e mostram ser flashbacks só depois de algum tempo.
Tão Forte e Tão Perto não é um filme ruim, mas a Academia cometeu uma grande injustiça ao indica-lo em sua categoria principal esquecendo longas claramente superiores como Tudo Pelo Poder, Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres e O Espião Que Sabia Demais. Mas injustiça é algo que não falta no Oscar.
Cotação:

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Georges Méliès foi importantíssimo para o cinema. Sem ele, talvez a arte que conhecemos hoje não teria a importância que conquistou. Isso porque ele foi pioneiro em usar o cinema como meio de contar histórias, fazendo filmes que divertem até hoje graças à bela imaginação que o mágico possuia. Apesar de tudo isso, Méliès morreu pobre, mas seu papel no cinema ainda é prestigiado. Quanto a Martin Scorsese, algo que escuto muito é que ele é uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto, sabendo tudo sobre a história e das produções de todos os cantos do mundo.
Mas por que abri esta crítica falando um pouco sobre Méliès e Scorsese? Simplesmente porque A Invenção de Hugo Cabret, novo filme do diretor de clássicos como Taxi Driver, Touro Indomável e Os Bons Companheiros, fala muito sobre a história do cinema e como ela se tornou esta arte tão maravilhosa, tendo Méliès como um de seus personagens principais. E quem melhor do que Scorsese para nos dar uma pequena aula? É uma pena, no entanto, que o filme não consiga se tornar mais um clássico do diretor.
Escrito por John Logan, baseado no livro de Brian Selznick, A Invenção de Hugo Cabret nos apresenta ao personagem-título (Asa Butterfield), um menino órfão que mora nas paredes da estação de trem de Paris. Tendo como objetivo consertar um autômato que seu pai pegou em um museu, Hugo se envolve com George Méliès (Ben Kingsley), que o pega roubando suas peças em sua tenda de brinquedos. Junto com a afilhada de Méliès, Isabelle (Chloë Grace Moretz), Hugo embarca em uma aventura para tentar descobrir que mensagem seu pai deixou no autômato.
Estética e tecnicamente, o filme é brilhante. A fotografia de Robert Richardson e o design de produção de Dante Ferretti conquistam desde o primeiro segundo de filme. Investindo em cores quentes e em uma iluminação calorosa, Richardson estabelece muito bem o universo mágico no qual o filme se passa, enquanto que Ferretti faz um trabalho de recriação de época impecável. A direção de arte também se destaca, refletindo muito bem a personalidade de alguns personagens em suas salas. Exemplos disso são a sala do escritor Rene Tabard (Michael Stuhlbarg), que mostra muito bem a admiração que ele sente por Méliès, e a pequena prisão do inspetor da estação (Sacha Baron Cohen), com várias fotos de crianças que ele enviou para o orfanato, e considerando que ele mesmo esteve em um lugar assim e a sala é toda pintada de preto, pode-se deduzir que o personagem não teve uma vida muito fácil. E a montagem de Thelma Schoonmaker (fiel parceira de Scorsese desde Touro Indomável) consegue fazer os flashbacks que aparecem ao longo do filme surgirem de maneira orgânica, não atrapalhando a história.
Scorsese consegue mostrar muito bem a paixão que sente pelo cinema. Em certo momento, Hugo pergunta para Isabelle “Quer ter uma aventura?”. Na cena seguinte eles estão no cinema. “Aventura” é apenas um dos vários modos com quais se pode descrever a experiência de ir ao cinema. Quando sentamos na poltrona da sala, queremos nos sentir envolvidos com a história e ter a oportunidade de vivenciar aquilo que é mostrado na tela, mesmo que seja ficção. Queremos acreditar naquilo. A expressão no rosto de Isabelle representa muito bem o que acontece quando somos surpreendidos positivamente. E como a personagem nunca havia estado em um cinema antes, a sensação certamente foi indescritível. O diretor mostra até a reação do público diante da nova arte, ao mostrar o filme A Chegada do Trem na Estação, dos irmãos Lumière, em que as pessoas achavam que o trem iria mesmo sair da tela.
A homenagem que Scorsese faz a Méliès é um dos pontos altos de A Invenção de Hugo Cabret. Cinema é uma arte mágica, e é compreensível no filme o porquê de Méliès ter desejado se envolver com o que os irmãos Lumière criaram. Afinal, ele mesmo é um mágico, e sua imaginação e insistência fizeram com que ele realizasse seus sonhos em cada um de seus filmes. Aliás, há uma bela cena em que Méliès fala para um pequeno Rene Tabard “Venha e sonhe comigo!”. Cada magia que ele realizava nas produções fez com que ele ficasse conhecido hoje como o “pai dos efeitos visuais” (o que ele fez em Viagem à Lua, por exemplo, é sensacional considerando a época em que o filme foi feito). Os momentos que mostram alguma referência à carreira de Méliès ou cenas de seus filmes são repletos de nostalgia, praticamente a mesma que se sente durante o espetacular O Artista.
Mas em se tratando de narrativa, A Invenção de Hugo Cabret tem problemas. Scorsese não consegue colocar energia em momento algum do filme. Dessa maneira, uma história que deveria ser de aventura acaba não sendo tão empolgante como poderia (e deveria) ser. Há cenas, como quando Hugo anda por entre as paredes da estação, descendo até mesmo por um escorregador, que servem para dar o caráter aventureiro do filme, mas não conseguem ser envolventes. Nem em cenas mais cômicas Scorsese consegue impor o ritmo necessário, fazendo momentos como quando inspetor da estação fica preso ao trem não ter muita graça, o que é uma pena já que uma das funções de Sacha Baron Cohen é ser o alívio cômico do projeto.
Além disso, o roteiro perde tempo com figuras que nada acrescentam a história, como o casal Madame Emilie (Frances de la Tour) e Monsieur Frick (Richard Griffiths), que tentam ficar juntos sem irritar a cadelinha dela. E o modo como o pai de Hugo é tratado decepciona por ele aparecer pouquíssimo na tela, não dando tempo suficiente para o personagem se tornar uma figura interessante para que nós lamentássemos sua morte, apesar de ser interpretado com grande carisma pelo sempre ótimo Jude Law.
O jovem Asa Butterfield surpreende no papel do personagem título. Com eficiência e determinação, ele mostra muito bem a dor que Hugo sente por não ter mais uma família (seu tio, interpretado por Ray Winstone, mal aparece ao longo do filme e é até descartado pelo roteiro). Enquanto isso, a sempre brilhante Chloë Grace Moretz consegue transformar Isabelle em uma figura carismática e que encanta com seu espírito de aventuras. Mas o destaque absoluto do elenco é o grande Ben Kingsley, que faz de Georges Méliès um homem triste e amargurado por ter investido em algo que deixou sua família pobre, mas não tem ideia do legado que deixou como fonte de inspiração para várias pessoas.
Tendo ainda um dos melhores usos da tecnologia 3D desde que isso entrou na moda, A Invenção de Hugo Cabret é muito eficiente como homenagem. Como filme poderia ser um pouco melhor. Apesar disso, é uma boa excursão pela importante carreira de Georges Méliès.
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