sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo

Algo que considero um pouco injusto com relação a qualquer esporte é o fato de o time maior sempre ser o favorito diante de um time modesto. É claro que, na maioria das vezes, o primeiro sai como grande vencedor, mas há dias em que o segundo surpreende (pego dois exemplos do time de futebol para o qual eu torço, Internacional, que ganhou um mundial em cima do Barcelona e perdeu outro para o Mazembe, time até então desconhecido do Congo). O Homem Que Mudou o Jogo é exatamente sobre isso. No esporte, se você tem um time de jogadores eficientes, que cumprem suas tarefas dentro de campo, então a faixa salarial será insignificante diante dos resultados que eles atingirem.
Escrito por Steven Zaillian e Aaron Sorkin com argumento de Stan Chervin, baseado no livro de Michael Lewis, O Homem Que Mudou o Jogo segue Billy Beane (Brad Pitt), diretor do time de baseball Oakland Athletics. Sem muito dinheiro, Billy procura um modo de montar um time vencedor para a temporada. Ao conhecer o jovem economista Peter Brand (Jonah Hill), ele descobre um meio de ver qualidades nos jogadores que vão além dos aparentes problemas que eles têm e pelos quais são injustiçados pelo esporte. Com um time eficiente e barato, Billy surpreende a todos e se torna parte de algo que pode revolucionar o esporte.
Iniciando o filme com vídeos de arquivo que mostram muito bem um pouco do fracasso do Oakland Athletics, o diretor Bennet Miller (o mesmo do excelente Capote) consegue dar o tom de todo o filme ao incluir um placar que indica a faixa salarial do New York Yankees (114 milhões de dólares) e do Oakland (39 milhões), algo admirável porque indica que o jogo no qual os personagens estão inseridos não é justo. Sempre que vemos um time de maior porte, quase que imediatamente pensamos que ele é o melhor. Mas a verdade é que pode-se ter em mãos os jogadores mais caros do mundo (os melhores, em resumo), ainda assim existe a possibilidade de perder. Às vezes, o que pesa mais é a nossa vontade de vencer, e isso só terá limite se impormos um.
Miller ainda consegue estabelecer muito bem o sentimento dos personagens ao longo do filme. Em uma parte vemos um time de derrotados, que ainda se diverte no vestiário, para a decepção do protagonista. Em outra vemos um time vencedor e tranquilo, e aqui Miller chega a fazer um rápido plano-sequência no qual Billy resolve pela primeira vez desejar boa sorte e passar confiança para seus jogadores.
O roteiro consegue mostrar que o esporte puxa o tapete das pessoas quando elas menos esperam (algo que Cameron Crowe também havia feito admiravelmente no grande Jerry Maguire). Acordos dados como certos acabam não se concretizando, jogadores que prometiam ser bons não mostram toda sua capacidade. Aliás, o modo como o filme mostra o baseball e seus bastidores pode ser considerado como uma metáfora para a vida, já que nem sempre conseguimos cumprir nossos objetivos.
A montagem de Christopher Tellefsen consegue colocar as cenas de arquivo ao longo do filme naturalmente e sempre no momento certo, como na sequência que mostra o período de vitórias do Oakland. Até durante os jogos essas cenas de arquivo funcionam muito bem, mesmo interrompendo um pouco o filme. Além disso, há momentos muito interessantes, como a cena em que a filha de Billy, Casey (a carismática Kerris Dorsey), impressiona seu pai tocando violão e ouvimos palmas, que mostram vir do estádio na cena seguinte.
Desde o início, Billy Beane é uma figura bastante admirável. Muito bem interpretado por Brad Pitt com um misto de bom humor e seriedade, Billy é realista com as coisas que acontecem e determinado quando o assunto é o que pode melhorar a vida do Oakland. Ele chega até mesmo a escalar o time para o jogo, contrariando a vontade do técnico, Art Howe (interpretado pelo sempre ótimo Philip Seymour Hoffman). Billy não quer dinheiro, e sim ver seu time vencedor, algo que se torna ainda mais interessante quando ele não se importa com o fato de Art receber os créditos pela melhora dos resultados. Sua carreira fracassada como jogador (algo que é mostrado de forma um tanto rasa) parece o perseguir até como dirigente, já que por muito tempo seu time não consegue vencer. O fato de ele ser um “pé frio”, misturado com seu desejo de ver o time vitorioso, o leva ao ponto de não ver os jogos, mesmo quando a situação está boa.
Jonah Hill também se destaca ao interpretar com carisma um personagem que é a cara do Oakland Athletics. A cena da primeira reunião do Oakland na qual Peter Brand é incluído mostra muito bem isso, com os mais experientes olhando torto e subestimando sua capacidade. Peter pode não possui a experiência que muitas pessoas do clube possuem, mas sua inteligência e seu modo de pensar é o equivalente a isso. Apesar de aparecer inseguro várias vezes, ele tem certeza daquilo que fala, e Jonah Hill consegue impor muito bem essa postura firme do personagem. Além disso, Hill forma com Pitt uma dupla interessante e, em alguns momentos, divertida.
Em determinado momento, Billy Beane diz “Eu quero que isso signifique alguma coisa”, referindo-se a estratégia adotada para o Oakland. O que se vê em O Homem Que Mudou o Jogo é um homem que pode até ser um perdedor, mas pela participação que teve no novo modo de ver o esporte, ele é um grande vencedor.
Cotação:

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