domingo, 1 de julho de 2012

Indie Game: The Movie

Algo que apenas as pessoas que me conhecem há anos sabem é que, durante algum tempo, cogitei trabalhar na área de games. Sempre gostei de videogames e, seguindo a lógica de que “devo trabalhar com aquilo que gosto”, pensei que essa era a área para a qual eu estava destinado. Até que um dia percebi que gostava muito mais de cinema do que de jogos.
Mas por que resolvi compartilhar esse detalhe da minha vida nessa crítica? Muito simples: depois de assistir a este documentário Indie Game: The Movie passei a admirar muito os profissionais que trabalham com a produção de jogos independentes, e o filme ainda me fez pensar o que poderia ter acontecido comigo caso eu tivesse seguido esse caminho. Eu aguentaria todo o stress que rola durante o processo de fazer um jogo? Aguentaria a pressão que cai nos ombros desses profissionais? Provavelmente são respostas que só poderão ser encontradas em uma outra dimensão.
Dirigido pela dupla Lisanne Pajot e James Swirsky, Indie Game: The Movie segue três histórias: Jonathan Blow, criador jogo de plataforma Braid; Tommy Refenes e Edmund McMillen, que se dedicam a produção de Super Meat Boy; e Phil Fish tenta finalizar FEZ. Todos eles trabalham em seus jogos sem a ajuda de ninguém. Nada de empresas da área ou doações. E é claro que isso traz várias dificuldades para cada um deles.
Essa dificuldade é muito bem transmitida pelos diretores. Os protagonistas do filme sacrificam muitas coisas para poder ver seu projeto ganhar vida, desde o próprio dinheiro até as chances de uma vida social. Tommy Refenes diz em certo momento “Você meio que precisa desistir de alguma coisa para ter algo ótimo”. O problema é que esse “algo” pode demorar muito para vir ou até mesmo não vir, o que torna o trabalho de Tommy e de outros designers de jogos independentes um grande risco. Ao longo de Indie Game: The Movie, nós conhecemos a vida das pessoas retratadas no filme, ficamos a par de seus problemas, e dessa forma é fácil simpatizar com elas, o que faz com que o sucesso dessas figuras seja um desejo até para quem está assistindo ao filme.
Blow, Refenes, McMillen e Fish projetam seus jogos como uma forma de se conectar com as pessoas, mas isso não quer dizer que eles queiram conhece-las. Como McMillen diz em certo momento: “Eu posso não gostar delas”. Esse antissocialismo é compreensível, já que há pessoas que não se importam com as dificuldades pelas quais eles passam para fazer os jogos ou com o tempo que eles levam. O que interessa para elas é apenas quando que o produto será lançado, e se ocorrer algum tipo de atraso então é o começo dos comentários desrespeitosos, algo que faz parte da vida de Phil Fish, que está há quatro anos desenvolvendo FEZ.
A montagem, feita pelos próprios diretores, é um tanto episódica, mostrando as histórias do filme uma de cada vez. Mesmo assim, a narrativa nunca perde sua fluidez, as histórias não atrapalham umas as outras (por exemplo, uma delas poderia ganhar mais importância, o que não acontece em momento algum) e a dupla de cineastas sempre consegue deixar o espectador muito bem situado no filme. Em certos momentos, Pajot e Swirsky ainda se dão a liberdade de fazer alguns raccords saindo de um jogo para outro ou de um jogo para a vida real, como quando um personagem virtual vai cair em uma piscina e no plano seguinte vemos Edmund mergulhar.
Mas um dos elementos mais interessantes de Indie Game: The Movie é o fato de que, apesar de não ser reconhecido como arte, um jogo não difere muito de outros tipos de obras. Quem faz um filme, escreve um livro ou pinta um quadro tem um propósito específico com essa produção. Vistos à primeira vista, jogos parecem servir apenas como um entretenimento, algo para distrair as pessoas. Assim como as artes citadas, os games têm seus críticos especializados, que às vezes escrevem sobre um jogo e ainda assim não conseguem captar tudo o que o artista quis dizer com seu trabalho. Esse é um dos motivos que fazem Jonathan Blow não ficar muito satisfeito mesmo com Braid fazendo um sucesso estrondoso. As pessoas podem adorar o jogo, dar nota 10, mas ainda assim dar uma opinião muito superficial sobre ele, e isso é realmente algo triste para um realizador que tinha muito a dizer com sua obra.
A produção de um jogo independente é parecida com a de um filme independente. Existem dificuldades e muitas vezes é preciso da ajuda de desconhecidos para que o produto possa ser finalizado. Nesse caso, o próprio Indie Game: The Movie serve para uma comparação interessante. Afinal, a equipe que fez o filme não é muito grande e seus diretores ocuparam várias funções, como a direção de fotografia e a montagem, além da direção. Muitas pessoas doaram dinheiro para que o filme pudesse ser feito, e o nome delas ocupa uma parte nos créditos do filme muito maior do que a dos próprios realizadores.
Indie Game: The Movie é praticamente uma carta de amor feita a jogos de videogame e computador, que são parte importante não só na vida das pessoas vistas no filme, mas também de muitas outras. E se arte é tudo aquilo que pode causar um determinado tipo de emoção no ser humano, então já está na hora de os games ganharem sua chance.
Cotação:

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