quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Intocáveis

Philippe (François Cluzet) é um homem rico que ficou tetraplégico após um acidente que sofreu fazendo parapente, um de seus esportes favoritos. Precisando de cuidados, ele contrata Driss (Omar Sy), que além de fazer parte de uma classe social oposta a sua e ter uma personalidade completamente diferente, ainda não tem experiência alguma quanto a cuidar de pessoas como ele. Mas os dois acabam formando uma bela amizade, aprendendo muito um com o outro.
Baseado em uma história real, Intocáveis à primeira vista parece ser um filme que se entregará a um melodrama irritante em algum momento, assim como acontece com muitos filmes. Mas a produção dirigida pela dupla Olivier Nakache e Eric Toledano surpreende ao ser um drama com bons toques de comédia, resultando em uma experiência gostosa, leve e divertida ao lado de seus ótimos personagens, justificando o porquê de esse filme ter sido a maior bilheteria na França ano passado.
Iniciado em uma pequena perseguição que a dupla de protagonistas cria apenas para se divertir e relaxar, o filme segue a estrutura comum de começar em algum ponto futuro e logo depois mostrar como a história chegou naquele momento. Talvez aí resida um dos problemas que mais incomodam em Intocáveis: não há motivo aparente para que o filme se estruture dessa forma. Afinal, não é um ponto exatamente curioso ou impactante (os personagens não estão passando por nenhum tipo de problema) para que surja um mistério em torno de tudo que aconteceu até ali.
Problemas de estrutura à parte, o filme conquista o espectador com o carisma de seus personagens. Sendo um ser humano muito dependente de outras pessoas, Philippe surpreende ao não ser uma figura ranzinza, que tem a morte como maior desejo ou trata sua deficiência apenas como uma maldição que lhe causa vergonha. Ao invés disso, o personagem surge sempre simpático e de bom humor, tentando aproveitar a vida mesmo com sua limitação, que não o impede de ter um romance através de cartas ou continuar praticando parapente.
Já Driss inicialmente parece ser um bon vivant, querendo viver apenas às custas do auxílio desemprego. No entanto, ao começar a cuidar de Philippe, ele gradualmente começa a ganhar a confiança não só do espectador, mas também de outros personagens do filme, como os empregados de Philippe, além de se tornar uma pessoa mais responsável. O motivo para o porquê de Driss ter sido contratado para o cargo de ajudante é um tanto óbvio, mas bastante apropriado: “Ele não tem compaixão”, diz Philippe. É uma pena que o roteiro mostre que Driss tem alguns problemas na família, mas não os desenvolva muito bem, não deixando claro nem que tipo de encrenca o irmão do personagem entra em determinado momento.
Tanto François Cluzet quanto Omar Sy aparecem carismáticos interpretando os protagonistas. Exibindo uma belíssima química em cena, os atores colecionam ótimos momentos ao longo do filme, como quando Philippe e Driss saem no meio da noite para tomar um ar. Mas a dupla também capricha em seu timing cômico, e diversão é o que não falta em Intocáveis. A cena em que Driss começa as fazer “experiências” nas pernas de Philippe é um dos momentos mais divertidos do filme, ao lado da sequência que mostra vários tipos de bigodes em um dos personagens.
Olivier Nakache e Eric Toledano comandam o filme com grande sensibilidade, algo que não é quebrado mesmo quando os diretores investem puramente na comédia. O roteiro escrito por eles mesmos parece ir em direção a uma espécie de conflito desnecessário entre os dois personagens, o que acontece bastante em filmes que contam com duas figuras com personalidades totalmente diferentes. Mas Nakache e Toledano surpreendem ao nunca levar sua história por esse caminho, que ainda transformaria o filme em algo bastante formuláico e clichê.
Os diretores também conseguem fazer um belo contraste entre os lares dos personagens. Se a casa de Philippe surge luxuosa, sempre limpa e organizada, o mesmo não pode ser dito quanto a casa de Driss, um lugar onde ele não consegue nem tomar um banho de banheira tranquilamente, graças a bagunça que toma conta da casa. É algo que revela muito sobre a natureza dos dois personagens, mostrando o quão diferentes eles são.
Devo dizer que não era nenhum pouco familiarizado com o trabalho de Olivier Nakache e Eric Toledano. Intocáveis é uma grata surpresa e, mesmo tendo um título como esse, é um filme tocante, além de ser tão simpático quanto seus personagens.
Cotação:

Um comentário:

Carol disse...

Falou e disse, Thomás! Intocáveis consegue nos entreter sem cair no lado dramático, e os atores são ótimos. Tomara que ganhe Oscar de melhor filme estrangeiro. Fiquei curiosa em saber o porquê do nome do filme... achei bem legal tua conclusão!
Beijos