quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

Depois de estrearem na direção de longas-metragens em 2006 com o excepcional Pequena Miss Sunshine, após uma longa carreira trabalhando com videoclipes, o casal Jonathan Dayton e Valerie Faris não deu mais as caras. Acabaram deixando no ar uma certa curiosidade com relação ao que fariam depois do sucesso que alcançaram em sua estreia. Seis anos se passaram e os dois finalmente retornam neste Ruby Sparks: A Namorada Perfeita, filme que apesar de não ser tão bom quanto o trabalho anterior do casal, é eficiente a ponto de fazer desses diretores figuras que merecem mais atenção.
Em Ruby Sparks, Paul Dano interpreta Calvin, um jovem escritor que conseguiu grande prestígio com seu primeiro livro, lançado quando ele tinha apenas 19 anos. Uma década se passa e ele se vê em meio a um bloqueio criativo, passando suas horas ao lado do irmão, Harry (Chris Messina), e fazendo terapia. Mas ao sonhar com uma garota, a quem ele dá o nome de Ruby Sparks (Zoe Kazan, que também escreveu o roteiro), Calvin se inspira novamente e começa a escrever um livro sobre ela. Mas ele mal sabia que isso faria a garota de seus sonhos tornar-se real.
Como Ruby se torna real? Não se sabe, mas assim como acontece em outro filme lançado recentemente, Ted, essa mágica pouco importa. Depois de estabelecer o relacionamento entre Calvin e Ruby, Zoe Kazan passa a desenvolver uma simpática história de amor que diverte com todo seu absurdo. Boa parte disso se deve aos personagens. Apesar de toda a fama que conquistou, é interessante ver que Calvin não gosta do rótulo de gênio que tentam colocar nele. Além disso, antes de conhecer Ruby, o rapaz parece ser uma pessoa fechada até para os novos tempos (ele ainda usa uma máquina de escrever para digitar seus livros). Já Ruby mostra ser uma garota cheia de energia, mas o mais interessante é o fato de ela ser um ser humano comum. Ela tem suas necessidades e seus sentimentos, e isso ajuda a fazer dela a pessoa real que ela deveria ser.
No entanto, sem intérpretes competentes o casal de Ruby Sparks certamente poderia soar um pouco desinteressante. A sorte é que Paul Dano e Zoe Kazan se saem muito bem em seus respectivos papeis. Como Ruby passa por modificações ao longo da história, é admirável ver que Kazan consegue implementar isso na personagem sem muitos exageros, com exceção da cena em que ela se torna um grude de Calvin, em uma das partes mais divertidas do filme. Já Dano empresta grande carisma para o protagonista, o que acaba sendo importante considerando que em determinado momento ele passa a tomar atitudes um tanto reprováveis. Além disso, Dano e Kazan tem uma ótima química ao longo do filme, e não foi uma surpresa ver que os dois tem um relacionamento na vida real.
Sendo o criador de Ruby, Calvin pode mudar o jeito dela a qualquer momento, podendo fazer dela uma namorada melhor ou pior. Isso ocorre com qualquer artista (seja um escritor, um pintor, um músico) que gostaria de ver sua obra cada vez melhor. Mas um dia chega o momento em que ele precisa lança-la para o mundo, mesmo não estando satisfeito com o resultado final, ainda que este esteja perfeito. E, às vezes, mudar é o que acaba estragando tudo. Zoe Kazan capta isso brilhantemente no roteiro, e essa é talvez a grande virtude do filme.
Enquanto isso, a direção de Dayton e Faris é segura ao longo de todo filme, conseguindo divertir ao mesmo tempo em que mostra grande sensibilidade com a história que está sendo contada. Isso fica bem canalizado em uma das melhores cenas do filme, quando Calvin começa a modificar Ruby incessantemente, naquela que é a parte mais pesada do filme apesar de ser divertida em alguns momentos. É interessante ainda a decisão da dupla em investir em planos mais fechados quando Calvin está escrevendo, mostrando muito bem o quanto o personagem está mergulhado naquilo que está fazendo.
No entanto, o roteiro de Ruby Sparks não escapa de ser previsível com relação aos conflitos entre os personagens, um problema que quase todas as comédias românticas enfrentam por seguirem uma fórmula básica. Além disso, o desfecho que Zoe Kazan dá para tudo aquilo é um tanto clichê, o que é uma pena por mais satisfatório que ele seja.
Mesmo assim, Ruby Sparks é um filme cativante e divertido, mostrando que Pequena Miss Sunshine talvez não tenha sido uma sorte de principiante para Jonathan Dayton e Valerie Faris. Tomara que o talento deles continue a aparecer em seus próximos projetos, ainda que estes levem mais seis anos para serem feitos.
Cotação:

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