quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O Último Desafio

Depois de Sylvester Stallone ter dado um novo gás para sua carreira após o belíssimo Rocky Balboa, era apenas uma questão de tempo para que seu companheiro Arnold Schwarzenegger também retornasse. Depois de cuidar do Estado da Califórnia e ficar dez anos sem protagonizar uma produção (sua última aparição como protagonista foi em O Exterminador do Futuro 3), o astro finalmente volta neste O Último Desafio. Mas é uma pena que este retorno aconteça em um filme de ação clichê, que não consegue se salvar mesmo tendo a presença do eterno Governator.
Escrito por Andrew Knauer, Jeffrey Nachmanoff e George Nolfi, O Último Desafio traz Schwarzenegger interpretando Ray Owens, um ex-policial de Los Angeles que agora trabalha como xerife na calma cidade de Sommerton Junction. Após Gabriel Cortez (Eduardo Noriega), chefe de um cartel de drogas, escapar das mãos do FBI liderado pelo agente John Bannister (Forest Whitaker) e ir em direção a Sommerton com o objetivo de cruzar a fronteira, Owens acaba precisando tomar iniciativas para impedir a fuga do bandido. Para isso, terá ajuda apenas de sua pequena equipe de delegados.
O próprio personagem de Schwarzenegger já é um clichê, sendo um policial que vai para uma cidade pacífica por conta de algum acontecimento traumático, mas acaba encontrando confusão de qualquer maneira. E o roteiro segue a fórmula básica para este tipo de personagem, fazendo alguma coisa para que ele se sinta obrigado a se envolver na ação e colocar em prática sua experiência. Ainda assim, vale dizer que apesar de ser um péssimo ator e parecer enferrujado pelo tempo que passou sem grandes papéis no cinema, Schwarzenegger ainda consegue trazer algum carisma para o xerife, o que ao menos faz com que sua presença seja algo agradável.
Como se não bastasse a história formuláica, o roteiro ainda faz seu grande astro falar várias frases de efeito, que vão desde “Bem-vindos a Sommerston!” até “Eu sou o xerife!”, tentando mostrar o quanto o personagem é “o cara”. Mas diferente do que ocorre, por exemplo, no recente Jack Reacher, onde as frases são realmente divertidas e até mais elaboradas, em O Último Desafio as risadas surgem não por elas serem engraçadas e sim por serem muito bobas. O mesmo pode ser dito sobre as cenas mais violentas (em determinado momento, Ray parte um capanga ao meio usando uma metralhadora), que causam o riso (ou até mesmo gargalhadas) não só pelo seu absurdo, mas também por sua artificialidade.
O Último Desafio tem sim toques de comédia em algumas cenas, e o fato de termos Johnny Knoxville no elenco é exatamente para o filme ser um pouco mais descontraído. No entanto, é uma pena que Knoxville seja uma figura tão irritante, e mais lamentável ainda é os envolvidos no projeto não terem percebido que Luis Guzmán sozinho já seria um alívio cômico interessante. Às vezes as gags funcionam (impossível não rir quando um personagem é salvo por uma velhinha aparentemente indefesa), mas de modo geral as tentativas de humor infelizmente são patéticas, como quando um personagem quebra o próprio nariz com o impulso de um tiro.
Além disso, há cenas em que O Último Desafio parece subestimar a inteligência do espectador, como ao parar a história para trazer John Bannister explicando para os membros de sua equipe o que eles farão a seguir, sendo que todos já estão totalmente preparados para a missão. Ou seja, a explicação é para o público, já que o roteiro provavelmente não encontrou forma mais orgânica para mostrar o que os personagens irão fazer. Outro momento é quando em meio a um grande tiroteio (aliás, uma verdadeira guerra) vemos um carro estacionado sem nenhum tipo de arranhão, pronto para levar o protagonista aonde ele quiser.
Já em termos de ação, o filme é conduzido da maneira mais descerebrada possível pelo diretor sul-coreano Kim Jee-Woon (cujos trabalhos anteriores incluem os elogiados Eu Vi o Diabo e Os Invencíveis), que às vezes nem consegue deixar a geografia das cenas muito clara. Investindo em explosões, tiros, armas grandes e pequenas como se fossem as únicas coisas que realmente importam, o cineasta claramente pensa estar fazendo um grande espetáculo, mas na verdade é só um amontoado de sequências desinteressantes, onde nem chegamos a temer pelo destino dos mocinhos da história. Ao longo da projeção, o diretor ainda vai colocando as horas na tela sem motivo aparente, já quem em momento algum o tempo se mostra importante para a história. A única cena em que Jee-Woon realmente acerta é um tiroteio entre os capangas do vilão e os policiais interpretados por Zach Gilford e Jaimie Alexander, que representa a parte mais tensa do filme.
Em um dos cartazes de O Último Desafio, a frase de divulgação diz “Aposentadoria é para maricas”. Sendo assim, espero que Arnold Schwarzenegger não tenha voltado apenas para fazer filmes como esse, ou então terei que torcer para que ele seja um maricas.
Cotação:

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