domingo, 6 de janeiro de 2013

Sete Psicopatas e Um Shih Tzu

O cineasta Martin McDonagh vem mostrando ter talento para criar histórias envolventes que ainda divertem com suas belas doses de humor negro. Se isso já ocorria com eficiência em sua estreia como diretor no ótimo curta-metragem Six Shooter (que ganhou o Oscar da categoria em 2006), só melhorou em seu filme seguinte, o excelente Na Mira do Chefe. Agora McDonagh lança Sete Psicopatas e Um Shih Tzu, e mais uma vez é eficiente no modo como conduz a história e seu lado mais cômico, além de conseguir inserir o filme em um exercício de metalinguagem muito interessante.
Escrito pelo próprio McDonagh, Sete Psicopatas e Um Shih Tzu acompanha Marty (Colin Farrell), um roteirista que está com dificuldades em escrever seu mais novo filme, intitulado “Sete Psicopatas”. Seu melhor amigo, Billy (Sam Rockwell), é um ator fracassado que com a ajuda de Hans (Christopher Walken) tenta ganhar algum dinheiro fácil sequestrando cães, apenas para depois “acha-los” e ganhar a recompensa dos donos. Um desses cães é Bonny, o Shih Tzu do mafioso Charlie (Woody Harrelson), que promete matar quem pegou seu amado cão, algo que resulta em uma série de situações imprevisíveis.
Existe um nome melhor para o tal Shih Tzu, e este seria o famoso termo criado pelo mestre Alfred Hitchcock: “MacGuffin”. Afinal, ele é um elemento que não tem muita relevância na história porque o foco do filme é outro (o roteiro de Marty), assim como acontece com a maleta em Pulp Fiction ou com o Pé de Coelho em Missão Impossível 3. Ele serve apenas para levar a trama para frente, fazendo os personagens realizarem coisas absurdas. Sendo assim, Bonny cumpre bem seu papel narrativo. Além do mais, ver todas as tragédias do filme acontecerem por causa de algo tão pequeno já arranca uma boa parcela de risos.
Sete Psicopatas e Um Shih Tzu é claramente uma pequena brincadeira que o diretor-roteirista faz com o processo de escrever um filme, fazendo até algumas críticas a convenções que vivem aparecendo na tela grande, e Marty seria o próprio Martin McDonagh. Isso já estabelece bem a metalinguagem que o cineasta propõe, já que o que se vê na tela é basicamente um filme sendo desenvolvido ao longo da história. Em vários momentos surgem algumas cenas do roteiro de “Sete Psicopatas” ao mesmo tempo em que elas são narradas pelos personagens, e a montagem de Lisa Gunning merece créditos por conseguir intercalar muito bem realidade e ficção sem sacrificar a fluidez da narrativa.
O filme consegue divertir com suas piadas e as situações nas quais os personagens se metem, e é aí que o humor negro de McDonagh aflora. Um dos vários momentos engraçados de Sete Psicopatas e Um Shih Tzu é quando o cineasta inclui uma sequência (que inclusive conta com uma participação marcante de Tom Waits) que mostra o porquê de alguns famosos serial killers nunca terem sido identificados e presos, o que inclui até o Zodíaco, assassino de San Francisco que rendeu o magnífico filme de David Fincher. Além disso, é bom ver que mesmo diante da atmosfera cômica da história McDonagh consegue impor um bom nível de tensão em algumas cenas, como quando Charlie faz uma visita a um hospital e conversa com uma paciente.
No entanto, o trabalho de McDonagh poderia ficar comprometido caso ele não tivesse um elenco tão afinado como o que aparece aqui. Colin Farrell empresta seu carisma habitual a Marty, fazendo dele um cara comum que entra em pânico ao se ver em uma situação violenta e inesperada. Sendo assim, não é à toa que ele é o único personagem importante no filme a não ser estabelecido como um psicopata pelo roteiro, enquanto que os outros se encaixam de alguma maneira nessa definição. Se Hans consegue aparentar não sentir absolutamente nada pela morte de um personagem, o vilão Charlie mostra toda sua loucura pelo modo como age por causa de seu cachorro. É até divertido vê-lo chorar em determinada cena, já que ele demonstra ser uma figura durona e ameaçadora. Ambos os personagens são bem construídos por Christopher Walken e Woody Harrelson, respectivamente, que até aparecem mais contidos do que de costume, além de exibirem um senso de humor impecável.
Mas é Sam Rockwell quem brilha mais do que os outros. Interpretando Billy com grande intensidade, o ator consegue transformá-lo em uma figura divertida, carismática e até mesmo excêntrica. Em vários momentos, Billy parece pensar muito mais em ficção do que na realidade onde vive, e é interessante ver que ele fica meio frustrado quando consegue ter uma ideia que funcionaria em um filme, mas não no mundo real. A cena em que ele descreve como seria o tiroteio no final de “Sete Psicopatas” é talvez a melhor do filme, e boa parte se deve a grande atuação de Rockwell.
Apesar de até agora ter uma curta filmografia, Martin McDonagh não fez nenhuma obra decepcionante. Sete Psicopatas e Um Shih Tzu é mais um belo trabalho, onde o diretor mostra novamente ser um nome que merece atenção.
Cotação:

Um comentário:

Hugo disse...

Gostei muito de "Na Mira do Chefe" e ainda não conhecia este novo trabalho do diretor.

A sinopse e o elenco chamaram a atenção.

Vou procurar assistir.

Abraço