quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dezesseis Luas

Quando chega o inevitável fim de franquias baseadas em séries de livros infanto-juvenis de sucesso, é preciso encontrar outra que chame a atenção e continue enchendo o bolso dos estúdios (Jogos Vorazes surgiu dessa maneira, e foi uma grata surpresa). Por envolver um romance em meio a um universo sobrenatural, é impossível não comparar Dezesseis Luas a Crepúsculo, e não é nenhuma surpresa ver que ele está sendo recebido como o substituto dessa franquia. Comandada por Richard LaGravenese (responsável pelo bom Escritores da Liberdade), esta adaptação pode até não ser um grande entretenimento, mas ao menos se mostra interessante o bastante para não resultar em uma tragédia de filme.
Escrito pelo próprio diretor, baseado no primeiro livro da série “The Caster Chronicles” concebida por Kami Garcia e Margaret Stohl, Dezesseis Luas nos apresenta ao jovem Ethan Wate (Alden Ehrenreich), que mora na pequena cidade de Gatlin. Sua vida por ali é tranquila até a chegada da misteriosa Lena Duchannes (Alice Englert), que é mal recebida na escola (onde existem algumas das criaturas mais insuportáveis que deram as caras nos cinemas recentemente) por ser membro da família Ravenwood, cujos membros são tratados pela população como adoradores do diabo. Na verdade, ela e seus familiares são bruxos, ou Conjuradores, como preferem ser chamados. Mesmo assim, ela e Ethan se apaixonam, indo contra os desejos da família dela, principalmente de seu tio, Macon (Jeremy Irons). Mas a garota está prestes a completar 16 anos, fase em que um Conjurador pode ir para o lado da Luz ou das Trevas, e o casal passa a fazer de tudo para que o pior não aconteça.
O romance em Dezesseis Luas é quase igual ao que é visto em Crepúsculo, apenas invertendo algumas coisas. Agora é um rapaz comum que se apaixona por uma garota com poderes, conhece seus parentes e insiste em ficar com sua amada mesmo contrariando a todos. Dito isso, esse novo filme ganha pontos pelo fato de contar com uma dupla carismática como protagonista. Alden Ehrenreich e Alice Englert não deixam de ser uma pequena surpresa, criando uma boa química para Ethan e Lena e mostrando um senso de humor curioso em determinadas cenas, o que é algo bem-vindo. Mas é cansativo ver os parentes da garota falando que o relacionamento entre ela e Ethan pode colocar ambos em perigo (um obstáculo para justificar o amor proibido), até por que ninguém chega a se esforçar para separá-los. Mesmo assim, os protagonistas são simpáticos o suficiente para impedir que a história fique realmente chata de se acompanhar.
Ao mesmo tempo em que desenvolve o romance de Ethan e Lena, Richard LaGravenese também tenta apresentar o universo em que o filme se passa, e nesse quesito ele acaba recheando a narrativa com diversos diálogos explicativos, o que estabelece certas regras da história. Isso se torna um problema apenas quando o diretor-roteirista inclui momentos em que parece duvidar da capacidade do espectador de acompanhar a trama, como quando Ethan claramente quebra um feitiço e Macon sente a necessidade de falar “Como ele quebrou o feitiço? Ele não tem poder algum!”. Mas de modo geral o cineasta conduz bem a narrativa, além de desenvolver com eficiência as subtramas atreladas a história, como aquela envolvendo um amuleto. No entanto, é uma pena que algumas cenas mais elaboradas não tenham tensão e não cheguem a empolgar, como quando Lena quebra as janelas de sua sala de aula ou a cena de um jantar envolvendo Ridley Duchannes (Emmy Rossum), a prima da protagonista.
Se os jovens que interpretam o casal principal se saem bem, o resto do elenco também tem alguns destaques entre seus nomes conhecidos. Viola Davis interpreta a vidente Amma, bibliotecária e amiga de Ethan e sua família, como alguém que aspira confiança sempre que surge em cena, ao passo que o grande Jeremy Irons merece créditos por fazer de Macon um personagem respeitável já em sua primeira aparição, e o fato de ele estar tentando impedir que sua sobrinha vá para o lado da Luz o torna uma figura intrigante, sendo ele um Conjurador das Trevas. Enquanto isso, Emma Thompson se entrega ao overacting para fazer de Serafine uma típica bruxa má (com direito a risadas e tudo o mais) e Emmy Rossum surge desinteressante sempre que aparece como Ridley.
Mesmo não sendo ruim, Dezesseis Luas também não chega a ser uma obra memorável. Deveria ser o primeiro filme de uma série de quatro livros, mas talvez as outras partes nem cheguem aos cinemas, tendo em vista seu fraco desempenho nas bilheterias americanas. Mas pelo menos neste filme a história fica bem resolvida, sem grandes ganchos para serem ligados futuramente.
Cotação:

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013 - Vencedores

Em uma cerimônia que de modo geral foi meio insossa, apesar de Seth MacFarlane até ter conseguido fazer graça (ainda que algumas de suas piadas tenham sido longas demais), Argo se consagrou como Melhor Filme de 2012 no Oscar. Um prêmio merecido e nenhum pouco surpreendente considerando a limpa que ele fez na temporada de premiações. Além de vencer na categoria principal, o filme de Ben Affleck levou Melhor Montagem e Melhor Roteiro Adaptado. Mesmo assim, As Aventuras de Pi foi o maior vencedor em termos de números, ficando com quatro estatuetas (Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Direção para Ang Lee, já que Affleck não estava indicado).
Enquanto isso, Daniel Day-Lewis confirmou seu favoritismo em Melhor Ator, vencendo por Lincoln (que ficou com apenas dois dos doze prêmios em que estava indicado) e entrando para a história do Oscar, sendo o primeiro ator a conquistar três estatuetas da categoria. Jennifer Lawrence também confirmou seu favoritismo e ganhou Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida. E como previsto, Anne Hathaway venceu Melhor Atriz Coadjuvante por Os Miseráveis, ao passo que Christoph Waltz ganhou seu segundo Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Django Livre, filme que também ficou com a estatueta de Melhor Roteiro Original para Quentin Tarantino.
Na verdade, foi uma premiação sem muitas surpresas, tanto que acertei boa parte dos meus palpites, o que não é nada comum. Mas vale dizer que o que ninguém esperava era que um empate acontecesse em uma das categorias (A Hora Mais Escura e 007: Operação Skyfall dividiram o Oscar de Melhor Edição de Som). Foi apenas a quarta vez que isso aconteceu em 85 anos de premiação.
Enfim, eis a lista completa a noite (os ganhadores estão em itálico):
Melhor Filme
- Amor
- Argo
- As Aventuras de Pi
- Django Livre
- A Hora Mais Escura
- Indomável Sonhadora
- O Lado Bom da Vida
- Lincoln
- Os Miseráveis
Melhor Direção
- Michael Haneke, por Amor
- Ang Lee, por As Aventuras de Pi
- David O. Russell, por O Lado Bom da Vida
- Steven Spielberg, por Lincoln
- Benh Zeitlin, por Indomável Sonhadora
Melhor Ator
- Bradley Cooper, por O Lado Bom da Vida
- Daniel Day-Lewis, por Lincoln
- Hugh Jackman, por Os Miseráveis
- Joaquin Phoenix, por O Mestre
- Denzel Washington, por O Voo
Melhor Atriz
- Jessica Chastain, por A Hora Mais Escura
- Jennifer Lawrence, por O Lado Bom da Vida
- Emmanuelle Riva, por Amor
- Quvenzhané Wallis, por Indomável Sonhadora
- Naomi Watts, por O Impossível
Melhor Ator Coadjuvante
- Alan Arkin, por Argo
- Robert De Niro, por O Lado Bom da Vida
- Philip Seymour Hoffman, por O Mestre
- Tommy Lee Jones, por Lincoln
- Christoph Waltz, por Django Livre
Melhor Atriz Coadjuvante
- Amy Adams, por O Mestre
- Sally Field, por Lincoln
- Anne Hathaway, por Os Miseráveis
- Helen Hunt, por As Sessões
- Jacki Weaver, por O Lado Bom da Vida
Melhor Roteiro Original
- Michael Haneke, por Amor
- Quentin Tarantino, por Django Livre
- John Gatins, por O Voo
- Wes Anderson e Roman Coppola, por Moonrise Kingdom
- Mark Boal, por A Hora Mais Escura
Melhor Roteiro Adaptado
- Chris Terrio, por Argo
- Lucy Alibar e Benh Zeitlin, por Indomável Sonhadora
- David Magee, por As Aventuras de Pi
- Tony Kushner, por Lincoln
- David O. Russell, por O Lado Bom da Vida
Melhor Animação
- Valente
- Frankenweenie
- Paranorman
- Piratas Pirados!
- Detona Ralph
Melhor Filme Estrangeiro
- Amor (Áustria)
- A Feiticeira da Guerra(Canada)
- No (Chile)
- O Amante da Rainha (Dinamarca)
- Expedição Kon-Tiki (Noruega)
Melhor Direção de Fotografia
- Seamus McGarvey, por Anna Karenina
- Robert Richardson, por Django Livre
- Claudio Miranda, por As Aventuras de Pi
- Janusz Kaminski, por Lincoln
- Roger Deakins, por 007: Operação Skyfall
Melhor Montagem
- William Goldenberg, por Argo
- Tim Squyres, por As Aventuras de Pi
- Michael Kahn, por Lincoln
- Jay Cassidy e Crispin Struthers, por o Lado Bom da Vida
- William Goldenberg e Dylan Tichenor, por A Hora Mais Escura
Melhor Design de Produção
- Sarah Greenwood e Katie Spencer, por Anna Karenina
- Dan Hennah, Ra Vincent e Simon Bright, por O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
- Eve Stewart e Anna Lynch-Robinson, por Os Miseráveis
- David Gropman e Anna Pinnock, por As Aventuras de Pi
- Rick Carter e Kim Erickson, por Lincoln
Melhor Figurino
- Jacqueline Durran, por Anna Karenina
- Paco Delgado, por Os Miseráveis
- Joanna Johnston, por Lincoln
- Eiko Ishioka, por Espelho, Espelho Meu
- Colleen Atwood, por Branca de Neve e o Caçador
Melhor Maquiagem
- Hitchcock
- O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
- Os Miseráveis
Melhor Trilha Sonora
- Dario Marianelli, por Anna Karenina
- Alexandre Desplat, por Argo
- Mychael Danna, por As Aventuras de Pi
- John Williams, por Lincoln
- Thomas Newman, por 007: Operação Skyfall
Melhor Canção
- J. Ralph por “Before My Time”, de Chasing Ice
- Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer por “Suddenly”, de Os Miseráveis
- Mychael Danna e Bombay Jayshree por “Pi’s Lullaby”, de As Aventuras de Pi
- Adele e Paul Epworth por “Skyfall”, de 007: Operação Skyfall
- Walter Murphy e Seth MacFarlane por “Everybody Needs a Best Friend”, de Ted
Melhor Mixagem de Som
- Argo
- Os Miseráveis
- As Aventuras de Pi
- Lincoln
- 007: Operação Skyfall
Melhor Edição de Som
- Argo
- Django Livre
- As Aventuras de Pi
- 007: Operação Skyfall
- A Hora Mais Escura
Melhores Efeitos Visuais
- Os Vingadores
- O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
- As Aventuras de Pi
- Prometheus
- Branca de Neve e o Caçador
Melhor Documentário
- 5 Broken Cameras
- The Gatekeepers
- How to Survive a Plague
- The Invisible War
- Searching for Sugar Man
Melhor Curta Documentário
- Inocente
- Kings Point
- Mondays at Racine
- Open Heart
- Redemption
Melhor Curta de Animação
- Adam and Dog
- Fresh Guacamole
- Head Over Heels
- O Avião de Papel
- Os Simpsons: O Dia Mais Longo na Creche
Melhor Curta-Metragem
- Asad
- Buzkashi Boys
- Curfew
- Death of a Shadow
- Henry

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Indomável Sonhadora

  
O Oscar geralmente tenta prestigiar algumas obras do cinema independente americano que chamam muito a atenção das pessoas ao longo da temporada. Dessa forma, várias produções já conseguiram se destacar, como Pequena Miss Sunshine (que é o exemplo mais lembrado ultimamente), Preciosa e Inverno da Alma. Agora a Academia coloca Indomável Sonhadora (a grande sensação da edição do ano passado do Festival de Sundance) nesse time, e em meio a tantos erros na premiação desse ano (Lincoln, Os Miseráveis e O Lado Bom da Vida, por exemplo), pelo menos nessa lembrança os votantes acertaram.
Escrito pelo diretor Benh Zeitlin em parceria com Lucy Alibar (que desenvolveu a peça na qual o filme se baseia), Indomável Sonhadora acompanha a pequena Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), que vive com seu pai temperamental, Wink (Dwight Henry), em um local conhecido como Banheira. O estilo de vida de Hushpuppy e dos outros moradores é extremamente limitado, sendo que vários deles já estão indo embora da Banheira por causa de uma tempestade que se aproxima e que deve inundar o lugar. Sendo assim, Wink tenta ensiná-la como sobreviver quando ele não estiver mais por perto, o que pode ser a qualquer momento por causa de uma doença que o consome lentamente e que inicia a queda do mundo da garota.
Essa decadência de tudo o que cerca Hushpuppy ganha contornos incomuns graças à imaginação da menina, já que ela vê a inundação e a piora da condição de seu pai como a extinção de tudo o que conhece, e é interessante vê-la representar isso através de coisas que aprendeu em uma aula logo no início do filme. Depois de bater em seu pai e ver ele passando mal, por exemplo, Hushpuppy imediatamente pensa no derretimento de calotas polares e em animais dos tempos das cavernas (conhecidos como “aurochs”) que estão prontos para acabar com os humanos, o que até segue a lógica da Banheira, que faz seus habitantes viverem de maneira pré-histórica (algo indicado, inclusive, por desenhos feitos em alguns lugares). Aliás, a imaginação de Hushpuppy, ao lado de sua narração em off, acaba sendo importante por revelar sua ingenuidade e mostrar que ela é uma criança comum, mas que acaba tendo que ser forte devido às circunstâncias, e a belíssima trilha composta por Benh Zeitlin e Dan Romer encaixa nisso brilhantemente.
Tal força é perfeitamente representada na tela pela pequena Quvenzhané Wallis (a mais jovem indicada ao Oscar de Melhor Atriz). A grande presença que ela tem em cena é algo que torna Hushpuppy uma figura de quem é impossível tirar o olho. Além disso, a química de pai e filha que ela tem com Dwight Henry (outro grande achado) é um dos pontos altos da produção. A relação entre Wink e Hushpuppy é tensa em vários momentos (pelo modo como se refere à filha, fica subentendido que Wink gostaria que ela fosse um menino), mas durante todo o filme fica claro que existe um amor muito grande entre esses personagens e que eles precisam um do outro, e não é à toa que quase todas as cenas tocantes do filme são protagonizadas pelos dois.
Enquanto isso, Benh Zeitlin desenvolve com eficiência o universo de sua protagonista. Usando quase sempre a câmera na mão, Zeitlin constrói um ambiente agitado, ao mesmo tempo em que retrata muito bem o modo de agir de Hushpuppy, sendo ela uma criança que praticamente não para quieta ao longo do filme. Às vezes, a personagem demonstra ter até um espírito um tanto aventureiro, como quando ela sai de casa e acaba indo parar em uma boate. A precariedade da vida na Banheira também é ressaltada pela ótima fotografia de Ben Richardson, que ao investir em uma imagem granulosa acaba deixando o filme apropriadamente sujo.
Já o design de produção faz um trabalho excepcional na construção da Banheira, conseguindo estabelecer logo de cara a miséria dali. As casas, por exemplo, são extremamente bagunçadas, com diversos objetos jogados em qualquer lugar, enquanto que o barco que Wink e Hushpuppy usam para pescar parece ser feito de sucata, tamanha falta de recursos que eles têm onde moram. Dessa forma, Benh Zeitlin não deixa de fazer um tipo diferente de filme pós-apocalíptico, o que apenas torna Indomável Sonhadora ainda mais interessante. Tudo isso cria um belo contraste quando a história vai para um local mais urbano, onde tudo é mais limpo e claro. E por ser esse lado urbano o motivo de a Banheira estar perdendo seu espaço, é fácil compreender o porquê de Wink dizer para a filha que eles moram no melhor lugar do mundo.
Sensível do início ao fim e tratando com cuidado o fato de que nossas responsabilidades às vezes são fortes demais para serem ignoradas, Indomável Sonhadora é uma surpresa mais do que agradável no Oscar desse ano, e fico feliz que tenha conseguido receber algum reconhecimento em meio a tantas outras produções.
Cotação:

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Apostas para o Oscar 2013

O Oscar é nesse domingo e como é de costume, chegou a hora de lançar as apostas quanto a quem vai sair com um sorriso no rosto na maior premiação da indústria do cinema. Essas previsões estão sendo feitas com base nos diversos prêmios que foram entregues nas últimas semanas, que acabam direcionando mais ou menos o caminho que a Academia vai seguir. Também tive que usar o bom e velho chutômetro, já que nem todas as categorias contam com um vencedor garantido (e não consegui terminar o projeto da minha máquina do tempo).
Enfim, vamos a elas: (você pode ver a lista completa dos indicados aqui)
Melhor Filme
A Hora Mais Escura estava ganhando vários prêmios de associações de críticos e era tido como favorito no início da temporada de premiações, mas a polêmica que levantou quanto a apoiar tortura (uma grande bobagem) praticamente acabou com suas chances. Então tivemos Lincoln, um filme sobre uma figura americana importantíssima, dirigido por Steven Spielberg (um cara que a maioria das pessoas gosta bastante) e que conseguiu logo 12 indicações para o Oscar.
Mas eis que Argo surpreendeu e conseguiu fazer a limpa na temporada, levando todos os prêmios importantes: Producers Guild Awards (PGA), Screen Actors Guild Awards (SAG), Directors Guild Awards (DGA), BAFTA, Writers Guild Awards (WGA), Critics’ Choice Awards. É o franco favorito e minha aposta para levar o Oscar de Melhor Filme, ainda que não seja o que mais gostei entre os nove indicados (adoraria ver Amor vencendo, mas as chances de isso acontecer são pequenas).
De qualquer forma, ficarei muito feliz se Argo confirmar seu favoritismo, não só por ser um belíssimo filme, mas também por que ao menos tiraria o prêmio de Lincoln, que apesar de ser grandioso, é problemático demais.
Melhor Diretor
A última vez que um filme venceu o prêmio principal sem ter seu diretor indicado foi há 23 anos com Conduzindo Miss Daisy. Isso é muito raro, mas deve acontecer este ano. Argo é o favorito na categoria de Melhor Filme, mas Ben Affleck inexplicavelmente não foi indicado a Melhor Diretor. O trabalho dele no filme é excelente e sua ausência é uma grande injustiça, principalmente quando vemos que alguns dos concorrentes nem deveriam estar indicados, entre eles a minha aposta para esta estatueta, Steven Spielberg (e digo isso sendo fã do cineasta).
A direção de Spielberg em Lincoln não é grandes coisas, mas a Academia pelo visto adorou, e acho difícil que o prêmio não seja entregue a ele, já que não vejo os outros indicados com muitas chances (apesar de essa categoria ser uma incógnita, por que Affleck ganhou tudo ao longo da temporada). Acredito que quem pode surpreender na noite de domingo é o cara pelo qual torcerei, Michael Haneke, mas duvido que será dessa vez que o diretor de Amor (e de outros grandes filmes, como Violência Gratuita e Caché) receberá tal reconhecimento.
Melhor Ator
Este ano provavelmente teremos algo inédito na história do Oscar. Daniel Day-Lewis, um dos melhores atores em atividade atualmente, pode receber seu terceiro Oscar de Melhor Ator. Nunca um ator recebeu três prêmios nessa categoria, mas Day-Lewis chega este ano como favorito absoluto (venceu quase tudo o que podia na temporada) após encarnar brilhantemente o presidente Abraham Lincoln (sua atuação é a melhor coisa do filme).
Será um momento realmente especial e merecido. No entanto, apesar de gostar muito da atuação de Day-Lewis, eu ainda gostaria de ver Joaquin Phoenix premiado por O Mestre. Mas é praticamente certo que veremos um momento histórico na cerimônia.
Melhor Atriz
Jennifer Lawrence vem fazendo campanha para levar o prêmio, concedendo entrevistas a vários veículos, indo a todos os talk-shows possíveis e fazendo brincadeiras (como em sua apresentação no Saturday Night Live). Ela tem uma bela atuação em O Lado Bom da Vida e surge como a favorita, o que não deixa de ser uma surpresa considerando que há algum tempo era Jessica Chastain (excepcional em A Hora Mais Escura) quem parecia ser a provável vencedora.
Mesmo assim, ainda vou apostar em minha favorita: Emmanuelle Riva e sua maravilhosa atuação em Amor. Estou com um pressentimento de que vai dar zebra nessa categoria, e seria um belo presente para a atriz, que coincidentemente estará fazendo 86 anos no dia da cerimônia.
Melhor Ator Coadjuvante
Categoria difícil, com cinco atores talentosíssimos que são admirados por todos e tem boas atuações em seus respectivos filmes. Christoph Waltz e Tommy Lee Jones parecem ser os grandes concorrentes por aqui, com Robert De Niro vindo logo depois (afinal, esta é sua primeira indicação desde Cabo do Medo, em 1992). Entre eles, colocarei minhas fichas em Waltz (brilhante em Django Livre), mesmo sabendo que Jones venceu o SAG e parece ter um pouco mais de chances. Dessa forma, o ator voltará a dizer que deve sua carreira a Quentin Tarantino, já que seria seu segundo Oscar sob a batuta do diretor (ele ganhou Ator Coadjuvante por Bastardos Inglórios). No entanto, devo dizer que preferia ver Philip Seymour Hoffman ganhar por O Mestre.
Melhor Atriz Coadjuvante
Se a categoria de Melhor Ator Coadjuvante deixa uma dúvida no ar, o mesmo não pode ser dito para a de Melhor Atriz Coadjuvante. Assim como Jennifer Lawrence, Anne Hathaway vem fazendo campanha para levar a estatueta para casa, martelando o que fez por sua personagem em Os Miseráveis (emagreceu e cortou o cabelo), se exibindo pelo fato de ter cantado “I Dreamed a Dream” em um take e dizendo que o filme é o primeiro a gravar suas canções ao vivo no set de filmagens. No entanto, parece que a atriz está ficando muito irritante por causa disso, já que surgiram paródias de “I Dreamed a Dream” e matérias em alguns sites fazendo críticas ao seu comportamento.
Mas esse tipo de coisa não parece incomodar a Academia. Em 2011, Melissa Leo comprou anúncios em revistas, foi vista com maus olhos e ainda assim ganhou o Oscar por O Vencedor. Não acho que esse ano vá ser diferente, e Hathaway (uma atriz muito talentosa) deve ser reconhecida por seu trabalho no musical do picareta Tom Hooper. No entanto, mais uma vez minha torcida não está com a favorita ao prêmio, e sim com Amy Adams por O Mestre.
Melhor Roteiro Original e Melhor Roteiro Adaptado
O WGA geralmente é o grande termômetro dessas categorias. Esse ano o sindicato elegeu A Hora Mais Escura como Melhor Roteiro Original e, claro, Argo como Melhor Roteiro Adaptado.
No entanto, a polêmica em cima do filme de Kathryn Bigelow faz eu colocar minhas fichas de Roteiro Original em Quentin Tarantino e seu ótimo Django Livre, apesar de que torcerei mesmo para Amor (mas acho que Michael Haneke mais uma vez não tem muitas chances por aqui). Já Argo ficará não só com minha aposta para Roteiro Adaptado, mas também com minha torcida.
Melhor Animação
A Academia adora a Pixar e premia o estúdio sempre que surge uma boa oportunidade. Só não fez isso no ano passado porque não tinha como, sendo Carros 2 um filme bem ruim. Mas esse ano eles podem voltar com isso, premiando Valente.
No entanto, vou apostar e torcer pelo melhor entre os indicados: Detona Ralph, que vem fazendo muito sucesso nessa temporada, ganhando prêmios importantes como o Annie Awards e o PGA.
Melhor Filme Estrangeiro
Pela primeira vez desde que comecei a acompanhar o Oscar consegui assistir a todos os indicados a Melhor Filme Estrangeiro. São todos muito bacanas, mas esta é uma das categorias mais óbvias da noite, que tem como franco favorito (aqui sim) Amor. Entre os indicados, o único que chega perto da força do filme de Michael Haneke é o chileno No. Mas se Amor perder será mesmo uma surpresa absurdamente grande. Esse vai ser o segundo Oscar para a Áustria, que garantiu seu primeiro prêmio em 2008 com Os Falsários.
Melhor Documentário
Mais uma categoria que eu nunca havia conseguido dar muita atenção, mas este ano assistir a quatro dos cinco indicados (infelizmente, não pude ver The Gatekeepers). Os que conferi são muito interessantes, e minha torcida está dividida entre How to Survive a Plague e The Invisible War. Mas o Oscar deve ir mesmo para Searching For Sugar Man, um belo filme sobre um cantor americano que não conseguiu fazer sucesso em seu país, mas que é um verdadeiro estouro na África do Sul. Além disso, esse é o documentário mais "feel good", já que os outros tem temas bem mais pesados.
Melhor Direção de Fotografia: Adoraria ver o grande Roger Deakins vencer por 007: Operação Skyfall (ele nunca ganhou um Oscar, sendo que esta é sua 10ª indicação). Mas quem deve ficar com a estatueta é Claudio Miranda por As Aventuras de Pi.
Melhor Montagem: Outra categoria em que Argo deve provar seu favoritismo, e a vitória de William Goldenberg (duplamente indicado este ano, sendo prestigiado também por seu belíssimo trabalho em A Hora Mais Escura) será mais do que merecida.
Melhor Design de Produção: Nesse quesito, apostarei na nova adaptação de Anna Karenina, que inclusive ganhou o prêmio do ADG (o sindicato dos diretores de arte).
Melhor Figurino: Aqui mais uma vez Anna Karenina deve se consagrar. Produções como essa geralmente são as que fazem maior sucesso nessa categoria.
Melhor Maquiagem: Ainda não pude ver Hitchcock, mas pelos trailers a transformação de Anthony Hopkins no Mestre do Suspense parece ser bastante eficiente, então apostarei nele mesmo que tenha sido um filme recebido com certa indiferença.
Melhor Trilha Sonora: Outra categoria que pode ser garantida por As Aventuras de Pi, que tem uma bela música composta por Mychael Danna. Duvido muito que o mestre John Williams vença por Lincoln (nem chega a ser um de seus trabalhos mais memoráveis).
Melhor Canção Original: Assim como Melhor Filme Estrangeiro, a categoria de Melhor Canção é outra que já tem sua vencedora praticamente garantida. Tudo indica que a belíssima “Skyfall” dê o terceiro Oscar da história da franquia 007 (o primeiro nessa categoria, algo que já devia ter acontecido há muito tempo), além de consagrar de vez a cantora Adele.
Melhor Mixagem de Som: Depois de toda a divulgação que fizeram em cima do fato de as canções terem sido gravadas direto no set de filmagem, não duvido que Os Miseráveis leve esse prêmio para casa.
Melhor Edição de Som: Pode ser que 007: Operação Skyfall fique com mais este prêmio na noite, mas colocarei minhas fichas em A Hora Mais Escura.
Melhores Efeitos Visuais: Depois da criação absolutamente perfeita do tigre Richard Parker, será uma surpresa se a equipe de As Aventuras de Pi não sair vencedora. Na verdade, será uma piada se o filme perder por aqui.
Melhor Curta-Metragem de Animação: Apesar de minha torcida ser para Head Over Heels, Paperman deve confirmar seu favoritismo e levar a estatueta (comentei todos os indicados aqui).
Melhor Curta-Metragem e Melhor Curta Documentário: Infelizmente, é sempre impossível ver os indicados dessas categorias. Sendo assim, essas são apostas feitas apenas para não deixar essa parte em branco. Para Melhor Curta-Metragem aposto em Death of a Shadow, e em Melhor Curta Documentário fico com Open Heart.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer

Desde seu início, há 25 anos, a franquia Duro de Matar sempre conseguiu entreter com as enrascadas em que John McClane (Bruce Willis) se metia, mesmo quando os roteiros traziam momentos absurdos (como esquecer do protagonista atirando um carro em cima de um helicóptero, em Duro de Matar 4.0?). Não é à toa que o final de cada um dos filmes deixava um gosto de quero mais, não só por McClane ser um grande personagem, mas também porque as produções aparentavam ter sido feitas com cuidado. Mas eis que agora o policial se complica uma quinta vez e esse cuidado com relação a franquia parece sumir, resultando no primeiro capítulo decepcionante da série.

Escrito por Skip Woods (responsável pelo roteiro dos fracos Hitman: Assassino 47 e X-Men Origens: Wolverine), Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer sai dos Estados Unidos e coloca McClane indo para a Rússia, onde seu filho, Jack (Jai Courtney), foi preso por assassinato. Chegando lá, McClane encontra Jack em meio a uma missão da CIA, fugindo ao lado de Yuri Komarov (Sebastian Koch), que tem informações que podem incriminar o oficial do governo Viktor Chagarin (Sergei Kolesnikov). McClane acaba se juntando ao filho na missão, e a dupla terá de resolver suas diferenças ao mesmo tempo em que tentam impedir bandidos de realizar um roubo envolvendo armas nucleares.

Os problemas de Duro de Matar 5 começam exatamente na relação entre pai e filho, onde o roteiro segue o velho clichê de colocar os dois brigados durante a maior parte da projeção, apenas para eles irem se entendo aos poucos, algo que até chegou a ser utilizado em Duro de Matar 4.0 com a filha de McClane, Lucy (a bela Mary Elizabeth Winstead), mas isso não era um dos principais elementos daquela história. Durante o filme, o roteiro ainda fica martelando esse conflito ao fazer com que Jack se refira ao pai como “John”, o que é absolutamente irritante. Mas o pior é que por mais brigados que pai e filho estejam, isso é apenas um artifício que Skip Woods usa para jogar alguma tensão entre eles, já que o motivo do desentendimento nem chega a ser revelado.

Como se isso não bastasse, o roteirista ainda tenta desenvolver o “novo” personagem da franquia (Jack aparece no primeiro capítulo da série, mas praticamente de relance) com diálogos desnecessariamente explicativos. Em determinado momento, por exemplo, o filme dá uma pausa em toda a ação para que McClane fique contando velhas historinhas sobre o rapaz. Para completar, Jai Courtney, infelizmente, interpreta Jack de um jeito marrento, fazendo dele uma figura chata demais, o que é decepcionante principalmente quando lembramos que os parceiros de McClane nos outros filmes eram bastante carismáticos. Mas se Courtney não se sai muito bem, isso não pode ser dito sobre Bruce Willis, que volta a encarnar confortavelmente o personagem mais famoso de sua carreira, sendo eficiente mesmo quando parece estar no piloto-automático. O ator volta a exibir todo o bom humor do protagonista, e as poucas cenas divertidas funcionam graças a ele, como quando McClane precisa roubar o carro de um russo, em um dos melhores momentos do filme.

Enquanto isso, o diretor John Moore (responsável por bombas como O Voo da Fênix e Max Payne) conduz tudo de maneira bastante burocrática. Ao longo da projeção, é raro ver uma cena que faça jus a franquia Duro de Matar (um dos poucos exemplos acontece quando McClane dirige um carro passando por cima de vários outros veículos). Mas de modo geral, as sequências de ação consistem apenas em tiroteios que trazem os bandidos contra o protagonista e seu filho, o que acaba cansando depois de um tempo. Além disso, o diretor às vezes nem consegue deixar a ação compreensível para o espectador, seja na primeira cena de perseguição, onde não há como saber onde exatamente os personagens se encontram, ou quando McClane está com as mãos amarradas e escapa sem que fiquemos sabendo como. Para piorar, quando Moore resolve se espelhar em Zack Snyder e utilizar o slow motion (algo que ele já havia feito em Max Payne), ele ao invés de criar tensão acaba fazendo com que as cenas se tornem um tanto aborrecidas, o que é lamentável.

Previsível, pouco inspirado e trazendo um vilão desinteressante, Duro de Matar 5 ainda assim não chega a ser uma experiência realmente insuportável, até por que conta com cerca de uma hora e meia de duração (o capítulo mais curto da série). De qualquer forma, diferente do que diz o título original, este definitivamente não foi um bom dia para a franquia Duro de Matar.

Cotação:


sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Hora Mais Escura

Depois da missão que resultou na morte do líder terrorista Osama bin Laden em maio de 2011, era apenas uma questão de tempo até que isso fosse tema de algum filme. Não demorou muito, e logo de uma vez temos duas produções envolvendo essa caça: O Homem Mais Procurado do Mundo (lançado nos cinemas brasileiros mesmo que originalmente tenha sido feito para a TV americana, e que não vi ainda) e este A Hora Mais Escura, novo trabalho de Kathryn Bigelow depois do excepcional e premiadíssimo Guerra ao Terror. Criando um belo thriller em cima de um evento bastante significativo, Bigelow é bem sucedida ao fazer de A Hora Mais Escura um filme que prende a atenção do início ao fim.
Escrito por Mark Boal (responsável pelo roteiro de Guerra ao Terror), A Hora Mais Escura foca os esforços da CIA para localizar Osama bin Laden após os terríveis ataques de 11 de setembro de 2001 (mostrados de maneira angustiante logo no início da projeção, quando é usado apenas o áudio de gravações feitas na época, onde o pânico das pessoas é triste de ouvir). Nisso somos apresentados a jovem agente Maya (Jessica Chastain), que ao longo dos anos não mede esforços para tentar encontrar o líder da Al-Qaeda, não se deixando abater por nada do que acontece ao seu redor.
Estabelecendo um clima hostil que percorre todo o filme, Kathryn Bigelow rapidamente faz de sua narrativa algo envolvente. Aliás, a tensão em volta de A Hora Mais Escura é tão grande que acaba fazendo com que cenas mais calmas se tornem estranhamente desconfortáveis, até porque depois de um tempo fica óbvio que elas precedem algum tipo de ataque impactante, como quando Maya tenta sair de uma garagem com seu carro. A cineasta ainda desenvolve tudo com agilidade, não parando em nenhum momento para explicar em que ponto das investigações os personagens estão, o que prova que ela confia em seu espectador para acompanhar a história sem maiores problemas.
Enquanto isso, Mark Boal constrói as investigações com inteligência, sempre conseguindo manter o interesse do público, o que é importante considerando que todos entram na sala de cinema sabendo como será o final disso tudo. Em meio a isso, o roteirista inclui detalhes que tentam aproximar a história um pouco mais da realidade, como o modo como a CIA tenta arrancar informações de prisioneiros na base da tortura (algo que trouxe tanta polêmica para cima do filme que diminuiu consideravelmente o favoritismo que ele tinha no início da temporada de premiações). Mas em momento algum Boal e Bigelow defendem esse tipo de ato, tratando-o de maneira desconfortável tanto para quem assiste ao filme quanto para os personagens, que não sentem prazer nenhum em ter que fazer aquilo. Na verdade, o roteiro não deixa de criticar esse método, por que pelo menos no filme ele não ajuda muito, obrigando os personagens a ter outra ideia para tentar ganhar informações. Querendo ou não, esse é um elemento que precisava ser retratado de alguma forma, porque torturas infelizmente ocorreram e omitir isso seria o mesmo que negar os fatos, o que seria absurdo por parte dos envolvidos no projeto.
Saltando no tempo várias vezes, o roteiro torna a narrativa um tanto episódica, mas compensa esse detalhe por conseguir condensar muito bem toda uma década dedicada à procura de bin Laden, além de mostrar as dificuldades que Maya e sua equipe na CIA passam para cumprir sua missão. Já alguns eventos que realmente aconteceram, como a explosão em Islamabad que destruiu parte do Hotel Marriott em 2008 ou o ataque a uma base dos Estados Unidos no Afeganistão em 2009, são inseridos na história organicamente por Mark Boal, colocando os personagens no meio da ação, o que inclusive ajuda a aumentar o nível de suspense dessas cenas, porque nos importamos com as figuras vistas na tela.
Vale ressaltar também o excelente trabalho dos montadores Dylan Tichenor e William Goldenberg (este último indicado ao Oscar desse ano não só por este filme, mas também por Argo). Inserindo imagens de arquivo e outras gravações ao longo da narrativa, a dupla merece créditos por manter um ritmo cativante durante toda a projeção. Para completar, vale dizer que Tichenor e Goldenberg também lidam admiravelmente bem com as montagens paralelas, como na sequência final que segue a equipe que vai atrás de bin Laden ao mesmo tempo em que Maya fica nos bastidores na base de comando.
Já que comentei a parte da missão, é difícil não destacar a qualidade com a qual ela é orquestrada e que a faz ser um dos vários pontos altos do filme. Filmada de maneira extremamente escura por Kathryn Bigelow e o diretor de fotografia Greig Fraser (detalhe que nos obriga a prestar a atenção ainda mais no que está acontecendo), essa tensa sequência conta com uma calmaria que evidencia o cuidado que todos tiveram em seu desenvolvimento. E é interessante ver que Bigelow consegue deixar clara a geografia da cena mesmo no meio da escuridão e acompanhando os vários lugares em que os soldados entram.
Transformando Maya em uma figura forte e corajosa em um universo onde os homens praticamente imperam sozinhos, Jessica Chastain surge em A Hora Mais Escura com uma determinação incrível, brilhando em cada cena em que aparece. Ainda que o elenco masculino tenha seus destaques, como Jason Clark, Kyle Chandler e Mark Strong, é Chastain quem domina a tela. É interessante ver que a atriz em alguns momentos faz da personagem uma pessoa até um pouco perturbada por causa do trabalho, já que Maya não faz outra coisa a não ser tentar cumprir sua missão. Dessa forma, pegar bin Laden acaba sendo um vício para ela, o que a faz ser parecida com o Sargento William James, interpretado por Jeremy Renner em Guerra ao Terror (lá, a própria guerra era um tipo de droga para ele). Além disso, é admirável ver Maya enfrentar seus superiores sem medo algum, o que mostra a confiança que ela tem no que está fazendo ao lado de sua equipe.
Representando mais um acerto de Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura retrata com eficiência a caça a um terrorista, mas ao mesmo tempo deixa claro que por mais que bin Laden esteja morto, isso não é motivo de comemoração. Afinal, matar um líder terrorista não termina com o terrorismo em si, que infelizmente ainda será responsável por muitos eventos trágicos, enquanto várias pessoas gastam anos de suas vidas tentando combatê-lo.
Cotação:

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Personagens Marcantes - John McClane

Há muitas perguntas sobre cinema que eu particularmente penso muito antes de responder. Mas quando o assunto envolve heróis de filmes de ação, não preciso pensar duas vezes antes de dizer qual é o meu favorito: John McClane, o policial que não curte muito tecnologia e acaba com terroristas na franquia Duro de Matar, cujo primeiro filme foi responsável por transformar Bruce Willis (até então famoso pela série A Gata e o Rato) em um grande astro. De quebra, a obra-prima comandada por John McTiernan ainda revolucionou o gênero dos filmes de ação, criando uma história que coloca seu protagonista enfrentando os bandidos em um único local (no caso, um prédio), o que mais tarde acabou rendendo filmes como Velocidade Máxima e Força Aérea Um.
Entrando nas situações ameaçadoras da franquia por mera coincidência, McClane sempre mostrou claramente que gostaria de estar em qualquer outro lugar, menos no meio do caos. Mas mesmo assim, ele se esforça ao máximo para resolver os problemas (leia-se: acabar com os vilões e seus planos), já que ninguém mais parece ser capaz de fazer isso. Em Duro de Matar 2 aparece pela primeira vez a melhor definição do personagem, quando o Major Grant (interpretado por John Amos) fala “Você é o cara errado, na hora errada e no lugar errado”. E é divertido ver McClane responder “É a história da minha vida”.
Aliás, algo muito interessante no personagem é o modo como ele tenta manter o bom humor mesmo diante do perigo, como no primeiro filme quando ele conversa com o vilão Hans Gruber (Alan Rickman) pelo walkie-talkie de maneira bastante sarcástica. É como se McClane tentasse rir para não chorar do problemão em que acabou entrando, e Bruce Willis lida com esse humor do personagem perfeitamente, além de trazer grande carisma para ele. Na verdade, é difícil imaginar qualquer outro ator no papel, porque o próprio porte físico de Willis torna McClane uma figura mais vulnerável, já que comparado a Arnold Schwarzenegger (um dos astros que estavam cotados para dar vida ao personagem originalmente) ele aparenta ser uma figura bastante comum. Além disso, Willis consegue mostrar o esforço que McClane faz para cumprir seus objetivos, que fazem o policial chegar extremamente exausto ao final de cada história, como não poderia ser diferente.
Mas é impossível falar sobre John McClane sem mencionar sua famosa frase de efeito: “Yippee-ki-yay, motherfucker!” (que foi ideia do próprio Bruce Willis, por sinal). É o tipo de coisa que fica na cabeça e dá vontade de sair repetindo por aí. “Yippee-ki-yay” é uma expressão usada por cowboys, o que acaba sendo bastante apropriado no primeiro Duro de Matar, já que McClane é chamado de “cowboy” por Hans Gruber antes de mandar a frase, sendo que naquela oportunidade ela serviu como uma espécie de “Me aguarde!”. Nos filmes seguintes o personagem usa a expressão como um verdadeiro “Adeus” aos seus inimigos, dizendo sempre antes ou depois de matá-los. É até uma pena que em Duro de Matar 4.0 a frase tenha tido uma parte censurada para que o filme recebesse uma classificação menor.
Sendo ainda um cara que fica surpreso com os próprios atos, John McClane é um personagem cativante. E Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer (quinto filme da série) vem aí, com mais uma ameaça a ser enfrentada, dessa vez na Rússia. Espero que não seja dessa vez que a franquia apresente um capítulo decepcionante.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Os Indicados ao Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação

Este ano estou tentando ver o maior número possível de indicados ao Oscar, até para não parecer um peixe fora d’água quando chegar a hora da cerimônia. Assistir aos indicados das principais categorias é algo que venho conseguindo fazer com algum sucesso nos últimos anos, o problema é não conseguir acompanhar direito outras categorias.
Pois bem, dessa vez consegui ver todos os cinco indicados a Melhor Curta-Metragem de Animação e resolvi comentar rapidamente sobre cada um deles. Algo bastante curioso nessa categoria é o fato de nenhum dos filmes usarem diálogos para contar suas histórias, privilegiando um pouco mais suas imagens.
Os indicados são bem diferentes entre si, mas são todos bem interessantes. Apenas um deles ainda não está online, mas os outros estão todos linkados ao YouTube. Então vamos a eles:
- Adam and Dog, de Minkyu Lee:
Utilizando um estilo de animação mais clássico, Adam and Dog mostra um cão que constrói uma bela amizade com Adão, no Jardim do Éden.
De maneira rápida e simples, o diretor Minkyu Lee (que também escreveu o roteiro) consegue estabelecer muito bem o relacionamento entre esses dois personagens, e até por isso chega a ser um pouco triste o momento em que Adão passa a não dar tanta atenção ao seu amigo. Mas Lee consegue deixar claro que a fidelidade de um cão ao seu dono não tem limites (afinal, como dizem por aí, ele é o melhor amigo do homem), o que faz com que o belo final da história seja sensível e tocante.
- Fresh Guacamole, de PES:
Durante a disciplina de Animação que tive na faculdade, ouvi falar muito de Adam Pesapane (também conhecido como PES). É um cara que tem talento para fazer animações em stop-motion um tanto excêntricas utilizando objetos muito simples. Em Roof Sex, ele conseguiu fazer um curta centrado no sexo entre dois sofás no topo de um prédio. Em Game Over (trabalho dele que mais gosto), ele fez uma reconstrução curiosa de alguns jogos famosos.
Agora em Fresh Guacamole (curta-metragem que já entrou pra história do Oscar por ser a animação de menor duração a ser indicada na categoria, tendo menos de dois minutos), PES repete a ideia que originou seu Western Spaguetti, cozinhando algo usando objetos diferentes. Em Western Spaguetti ele fez uma massa utilizando varetas. Já em Fresh Guacamole ele faz um guacamole com o “molho” de uma granada, alguns dados e fichas de pôquer, entre outras coisas. É uma animação que acaba chamando a atenção por ser uma coisa inusitada, e por isso divertida.
- Head Over Heels, de Timothy Reckart:
Head Over Heels é o meu favorito para ganhar o prêmio esse ano. O filme nos apresenta a um casal de velhinhos, Walter e Madge, que não estão nos melhores dias de seu casamento e convivem de um jeito muito peculiar: ele mora no chão e ela mora no teto. Nisso, acompanhamos a tentativa de Walter para reconquistar sua esposa e como isso afeta o estilo de vida dos dois.
O modo como os protagonistas vivem dentro de casa já é curioso por si só, e é interessante ver como eles utilizam os mesmos objetos (a geladeira, por exemplo, acaba sempre subindo e descendo). Além disso, o diretor Timothy Reckart trata seus carismáticos personagens com grande sensibilidade, sendo que a animação em stop-motion ainda é bastante expressiva e a trilha sonora é contagiante. São elementos que ajudam Head Over Heels a ser uma produção absolutamente encantadora e tocante.
- Paperman, de John Kahrs:
Paperman vem como o grande favorito para levar a estatueta, tendo ganhado esse prêmio no Annie Awards, o Oscar da Animação. O filme conta a simpática história de um cara que trabalha em um escritório e tenta chamar a atenção de uma garota que conheceu na estação de trem usando aviões de papel. Isso não dá certo, mas os aviões acabam se rebelando para juntar o casal.
Paperman foi exibido nos cinemas antes de Detona Ralph e, assim como comentei na minha crítica desse filme, é um curta que mistura muito bem a animação 2D com a 3D, além de divertir e contar com personagens pelos quais torcemos para que fiquem juntos ao final da história. É um filme muito bacana e caso realmente confirme seu favoritismo, então ao menos o Oscar estará em boas mãos.
- The Simpsons: The Longest Daycare, de David Silverman:
Protagonizado por Maggie Simpson (uma das melhores personagens da série), este curta-metragem da família mais excêntrica da TV americana coloca a menina passando um dia na creche, tendo que salvar uma borboleta das mãos de um bebê sociopata (não acredito que escrevi isso).
The Longest Daycare segue o humor típico dos Simpsons ao criar gags visuais eficientes (como quando Maggie chega na creche e é revistada e classificada) ao longo da narrativa. Sem falar que é um filme que acaba conquistando exatamente por ter Maggie como protagonista, e esta é uma personagem que sempre fez rir com o fato de sempre ter mostrado ser mais inteligente do que muitos moradores de Springfield.
É uma animação agradável, e sua lembrança no Oscar compensa um pouco o fato de, em 2008, a Academia não ter indicado o divertidíssimo longa-metragem dos Simpsons (dirigido pelo mesmo David Silverman responsável por este curta) na categoria Melhor Animação.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Voo

Robert Zemeckis ficou toda a década passada se dedicando a animações em motion capture (os resultados foram o excepcional O Expresso Polar, o mediano A Lenda de Beowulf e o ótimo Os Fantasmas de Scrooge). Mas agora o diretor finalmente volta aos filmes live action neste O Voo, e é bom ver o diretor que nos presenteou com obras como a trilogia De Volta Para o Futuro e Forrest Gump retornar a esse campo. Apesar de não ser um dos melhores filmes do cineasta, O Voo consegue prender a atenção graças ao trabalho de outro grande nome que há algum tempo não aparecia tão bem: Denzel Washington.
Escrito por John Gatins, O Voo conta a história de William “Whip” Whitaker (Washington), piloto que tem problemas com drogas e, principalmente, álcool. Durante um voo aparentemente normal, falhas técnicas fazem o avião cair rumo a uma tragédia, mas Whip surpreendentemente consegue pousá-lo sem muitos danos e salvando quase todas as pessoas a bordo (algo que nenhum outro piloto conseguiu repetir com sucesso em simulações). Ao mesmo tempo em que seu alcoolismo piora, Whip tem que lidar com a investigação do acidente, já que é revelado que ele estava “ligado” no momento do pouso, e todos querem saber o que realmente aconteceu.
Logo na primeira cena do filme, Whip acorda em um quarto de hotel e ao atender sua ex-esposa no telefone precisa beber um gole de cerveja para prestar a atenção no que ela está dizendo. Dessa forma, o roteiro de Gatins já consegue deixar bem estabelecida a gravidade da dependência do personagem. E mesmo assim, Whip mostra ser um piloto extremamente competente, algo que fica claro não só pelo modo como ele pousa o avião, mas também quando ele se livra de uma turbulência com segurança absoluta. Esses detalhes tornam Whip um personagem muito intrigante, a ponto de a história ser envolvente exatamente por manter uma grande curiosidade quanto ao que vai acontecer com ele diante das investigações e seu vício.
Não é à toa que o roteiro perde muito de sua força sempre que tenta focar algum outro personagem, como Nicole (Kelly Reilly, em uma atuação convincente), mulher que Whip conhece no hospital e tenta se recuperar de seu vício em drogas. Aliás, Gatins tenta criar um paralelo entre os dois personagens, sendo eles duas figuras que iniciam um relacionamento ao mesmo tempo em que tentam lidar com suas dependências. Mas a verdade é que esse elemento nunca se mostra tão interessante, e considerando que Nicole ganha muita atenção inicialmente apenas para depois ser deixada de lado a partir de determinado momento, isso acaba servindo mais para desviar a atenção daquilo que realmente importa e deixar a duração do filme desnecessariamente inchada. O roteirista ainda procura investir no humor, usando principalmente o amigo de Whip, Harling Mays (interpretado por John Goodman), em uma pequena participação como o alívio cômico da história (mais um para a carreira do ator). No entanto, diante do tom sério do filme, todas as tentativas acabam destoando demais da narrativa, o que é uma pena.
Mas o que brilha em O Voo é mesmo Denzel Washington e seu retrato do alcoolismo de Whip. Washington faz dele um personagem que por mais que passe quase todo o filme negando ter um vício, tem total consciência de sua condição. Mais do que isso, tem vergonha desse problema, algo indicado pelos momentos em que ele olha para os lados antes de pegar uma garrafa, procurando se certificar que ninguém está o vendo. Além disso, em vários momentos o ator gagueja bastante, o que só deixa mais claro o quanto Whip está perdido em meio a sua condição. Quando esta em cena, Washington domina a tela admiravelmente, mostrando total controle sobre seu personagem.
Enquanto isso, Robert Zemeckis conduz o filme com seu talento habitual durante a maior parte do tempo, tratando com cuidado a progressiva autodestruição do protagonista. Mas é mesmo o acidente aéreo que representa o melhor momento do filme. Tensa e muito bem orquestrada por Zemeckis, que consegue acompanhar o pânico dos passageiros ao mesmo tempo em que mostra os esforços de Whip e sua tripulação para tentar evitar um desastre, a cena se coloca entre os melhores momentos da carreira do cineasta, e chega a ser uma pena que ela ocorra com menos de meia hora de projeção. Também é interessante notar como Zemeckis constrói o ambiente claustrofóbico em que o protagonista se encontra em meio a uma audiência, filmando-o quase o tempo todo com planos fechadíssimos. No entanto, é uma pena que o diretor procure demais arrancar algumas lágrimas do público a partir de determinado momento no terceiro ato da trama.
Mesmo com seus problemas, O Voo ainda consegue ser um belo filme, representando um bom retorno de Robert Zemeckis ao live action. Só espero que não precisemos aguardar mais doze anos até que o diretor lance um novo trabalho nesse formato.
Cotação:

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Meu Namorado é um Zumbi

Se Zumbilândia e Romeu e Julieta se casassem e tivessem um filho, este seria Meu Namorado é um Zumbi. Investindo em uma premissa que à primeira vista é boba e absurda demais (um romance entre uma humana e um zumbi), o filme surpreende ao assumir tal esquisitice, além de contar com uma veia cômica eficiente que somada ao carisma do casal principal acaba resultando em uma história muito agradável de se acompanhar. Uma certa franquia de vampiros brilhantes certamente poderia ter sido mais suportável caso tivesse um pouco do bom humor desse novo filme dirigido por Jonathan Levine (responsável pelo ótimo 50%).
Escrito pelo próprio Levine, baseado no livro de Isaac Marion, Meu Namorado é um Zumbi se passa oito anos após algo (nunca é explicado o quê) ter acabado com quase toda a sociedade, transformando as pessoas em zumbis, sendo que algumas viram figuras conhecidas como Esqueléticos depois de algum tempo. Nisso somos apresentados a R (Nicholas Hoult), morto-vivo que anda pelos arredores de um aeroporto e só consegue se comunicar com seu amigo M (Rob Corddry) através de grunhidos e às vezes com palavras. Durante um ataque em que ele e mais alguns “amigos” tentavam se alimentar, R come o cérebro de Perry (Dave Franco) e depois salva a namorada dele, Julie (Teresa Palmer). Se sentindo responsável pela garota e procurando protegê-la o máximo possível, R desenvolve com ela um relacionamento que começa a causar sérias mudanças nele e em toda a comunidade zumbi, podendo esta ser a chance de todos voltarem ao normal.
O roteiro de Levine não chega a desmistificar a figura do zumbi. O que vemos no filme continua sendo a criatura que morre levando tiros na cabeça, se alimenta de carne humana e cambaleia por aí. A única mudança um pouco mais estranha é o detalhe de eles serem bastante racionais, mas ainda assim não é nada muito gritante como brilhar sob a luz do sol. E por a história ser contada pelo ponto de vista de R, isso ajuda para que compreendamos o porquê de eles agirem da forma vista no filme, como por exemplo o porquê de eles comerem cérebros, sendo esta a única maneira de eles se sentirem humanos de novo, já que eles veem as memórias das pessoas de quem estão se alimentando. É absurdo, mas não deixa de ser interessante porque assim o roteiro faz deles pessoas comuns presas em um corpo moribundo, e todos desejam se curar um dia.
O fato de R ser o personagem que guia o espectador através da história ainda contribui para que nos identifiquemos rapidamente com ele. Boa parte disso também se deve a sua ótima narração em off, que apesar de ser explicativa demais em alguns momentos, acaba ajudando a compor R como uma figura tímida e, por isso mesmo, divertida. Além disso, seu talentoso intérprete, Nicholas Hoult, não só tem um ótimo timing cômico como ainda traz seu carisma habitual para o personagem. O mesmo pode ser dito sobre a bela Teresa Palmer e o modo como ela interpreta Julie, e a química que os dois atores desenvolvem faz com que nos importemos com o destino dos personagens, mesmo que haja um conflito previsível (e até mesmo clichê) envolvendo o fato de R manter em segredo o que fez com Perry. E se o casal principal se sai bem, os coadjuvantes não ficam muito atrás, onde vemos um Rob Corddry divertido e um John Malkovich mais contido interpretando o pai da mocinha (e que é praticamente uma espécie de presidente nos tempos do apocalipse).
Jonathan Levine conduz tudo com leveza, incluindo gags eficientes ao longo do filme, como quando Julie tenta imitar um zumbi ou a cena em que M traduz de maneira hilária o que um grupo de zumbis quer dizer com seus gemidos. No entanto, o diretor falha ao fazer dos Esqueléticos figuras relativamente fáceis de serem combatidas, não fazendo jus a ameaça que eles representam inicialmente, o que até tira um pouco da tensão de algumas cenas de ação. Já a montagem de Nancy Richardson merece créditos por inserir os flashbacks (a maioria são memórias de Perry vistas por R) organicamente na narrativa, nunca interrompendo a história abruptamente.
Com uma aura de produção que poderia ter sido realizada na década de 1980 (o que inclui sequências com uso de músicas, que são muito bem escolhidas, por sinal), Meu Namorado é um Zumbi surge nesse início de ano não só como uma comédia eficiente, mas também como uma agradável surpresa.
Cotação: