segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Homem Que Copiava

Com uma carreira muito bem consolidada com seus belíssimos curtas-metragens, foi bom ver Jorge Furtado partir para os longas-metragens com o divertido Houve Uma Vez Dois Verões. Mas o que é ainda melhor é ver o diretor compor um grande quebra-cabeça neste seu segundo longa, O Homem Que Copiava. Contando com uma narrativa inteligente que Furtado conduz muitíssimo bem, o filme consegue divertir o público ao mesmo tempo em que consegue prender sua atenção do início ao fim com relação ao que vai acontecer com seus personagens.
Escrito pelo próprio Furtado, O Homem Que Copiava conta a história de André (Lázaro Ramos), um jovem que trabalha como operador de fotocopiadora, um emprego do qual não tem muito orgulho até por ser um serviço que qualquer pessoa poderia fazer. Apaixonado por sua vizinha, Silvia (Leandra Leal), André tenta se aproximar dela comprando alguma coisa na loja onde ela trabalha. O problema é que ele leva uma vida financeiramente difícil, algo que a cena inicial (onde ele é obrigado a deixar alguns produtos no supermercado para comprar uma caixa de fósforos) estabelece muito bem. Mas ele vê a chance de ganhar um pouco mais de dinheiro quando o lugar em que ele trabalha recebe uma máquina que faz cópias coloridas, dando a oportunidade para que ele multiplique notas de 50 reais, o que o leva a várias situações inesperadas, principalmente quando ele se junta a Cardoso (Pedro Cardoso), conhecido de sua colega de trabalho, Marinês (Luana Piovani).
Antes de chegar ao ponto principal da trama, Jorge Furtado passa um bom tempo apresentando o protagonista, sua vida e as pessoas com quem ele convive. Nesse sentido, a narração em off de André acaba sendo importante para mostrar como ele se vê e quais são seus sonhos. Também é interessante que a trilha de Leo Henkin invista em tons bastante melancólicos ao retratar o dia a dia do rapaz, já que casa perfeitamente com a atual situação dele. Além disso, Lázaro Ramos retrata eficientemente a timidez e a insegurança do personagem, o que pode ser notado tanto em seu tom de voz quanto no detalhe de ele manter a cabeça abaixada durante a maior parte do tempo. E o carisma do ator torna fácil para o público a tarefa de simpatizar rapidamente com André.
Assim como acontece em Houve Uma Vez Dois Verões, Jorge Furtado constrói O Homem Que Copiava fazendo uma mistura de gêneros fascinante. Aqui, o cineasta vai da comédia a animação (usada para contar o passado do protagonista ao mesmo tempo em que se encaixa no fato de ele ser um ótimo desenhista), passando pelo romance e até mesmo pelo thriller (que rende momentos de tensão muito bacanas). Tudo servindo a favor da narrativa e tornando o filme ainda mais interessante. Como se não bastasse, o diretor parece encontrar tempo para homenagear o cinema mudo, o que ocorre quando André está na janela de seu apartamento, observando Silvia através de seu binóculo, e o pai da garota tenta vê-la tomar banho, numa sequência que conta apenas com o áudio da música clássica de Mozart, que evidencia tanto o encantamento do protagonista por sua amada quanto a indignação que ele passa sentir com o pai dela.
Vale dizer também que a montagem de Giba Assis Brasil (habitual colaborador do cineasta) é responsável por alguns grandes momentos do filme, como quando André diz que conseguiu mapear todo o quarto de Sílvia pelo modo como ela posicionava um espelho. Mas o que acaba sendo realmente admirável em O Homem Que Copiava é o modo como Jorge Furtado distribui pistas aparentemente insignificantes durante a história, com o propósito de retoma-las mais tarde de maneira surpreendente. Tudo bem que às vezes os resultados dessas pistas são um tanto absurdos, mas nessas horas o filme diverte exatamente por isso.
Se Lázaro Ramos surge muito bem no papel principal, o resto do elenco também não decepciona. Leandra Leal consegue tornar Silvia uma figura adorável, além de tímida como André, e tem uma belíssima química com Ramos. Já Luana Piovani é bem sucedida ao fazer de Marinês alguém que é mais do que seus atributos físicos podem sugerir, ao passo que o competente Pedro Cardoso aparece como um alívio cômico bem-vindo (a cena em que ele fala sobre os efeitos de ter parado de fumar é divertidíssima).
O Homem Que Copiava é, no fim das contas, um filme absolutamente brilhante, mostrando toda a genialidade de seu diretor, que é com certeza um dos grandes realizadores do nosso cinema atualmente.
Cotação:

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