quinta-feira, 30 de maio de 2013

Terapia de Risco

Terapia de Risco chega com a fama de ser o último filme de Steven Soderbergh a ser lançado nos cinemas, já que há algum tempo o cineasta anunciou que se aposentaria para dar atenção a outros trabalhos (até onde sei, ele pretende se dedicar a outras artes). Sendo ele um grande diretor e relativamente jovem ainda, é uma pena ver Soderbergh pensar seriamente na possibilidade de parar de fazer filmes. Mas é compreensível que ele queira ao menos fazer uma pausa, considerando que só nos últimos cinco anos ele lançou nove filmes, o que certamente deve ser bastante exaustivo. E Terapia de Risco é mais uma bela produção em sua carreira.
Escrito por Scott Z. Burns (que já havia colaborado com o diretor no mediano Contágio e no bom O Desinformante!), Terapia de Risco acompanha a jovem Emily Taylor (Rooney Mara), cujo marido, Martin (Channing Tatum), acaba de sair da cadeia e está pronto para recomeçar a vida ao seu lado. No entanto, Emily fica depressiva e passa a ter consultas com o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law) depois de uma tentativa de suicídio. É então que ela começa a tomar um remédio chamado Ablixa, o que resulta em uma tragédia que dá início a investigações que podem mudar os rumos tanto da vida dela quanto de seu psiquiatra.
Terapia de Risco chama a atenção pelo modo como sua história se desenvolve. Iniciado de maneira mais lenta e triste, algo imposto até mesmo pela música utilizada pelo diretor, o filme já estabelece muito bem o estado emocional de Emily. Aliás, a fotografia de Peter Andrews (também conhecido como o próprio Steven Soderbergh) merece destaque por investir em cores mais melancólicas, indicando a desesperança e a tristeza que a depressão causa nas pessoas que atinge. Na sala de Jonathan, por exemplo, tudo é dominado pelo cinza, o que é ideal considerando que é ali que Emily passa a se tratar.
No entanto, certas reviravoltas acontecem no decorrer da trama, dando início a uma investigação bastante envolvente. É então que Soderbergh passa a investir em uma montagem mais ágil, que acaba ressaltando não só a tensão que passa a permear o filme, mas também a própria urgência das situações nas quais os personagens acabam se envolvendo. E o mais admirável é que essa mudança no ritmo da história é realizada de maneira muito orgânica pelo diretor, não acontecendo de repente.
Mas além de contar com uma história bem amarrada pelo roteiro e com a ótima direção de Soderbergh, Terapia de Risco ainda conta com um elenco em dias inspirados. Em seu primeiro papel depois da brilhante atuação que teve em Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, Rooney Mara transforma Emily em uma mulher perturbada e até mesmo amedrontada, mostrando com talento o estado depressivo da personagem e os efeitos causados pelos remédios que ela toma. Enquanto isso, Jude Law traz grande carisma e determinação para Jonathan, um psiquiatra que sempre tenta manter a ética em seu trabalho, algo que fica claro quando ele evita entregar alguma informação de um paciente em um interrogatório, o que contribui para que o público tenha confiança no personagem e se importe com seu destino (e a obsessão que ele passa a ter com um determinado caso é muito bem retratada por Law). Já Catherine Zeta-Jones tem sua melhor atuação em anos interpretando a misteriosa Dra. Victoria Siebert, antiga psiquiatra de Emily e que vai ganhando destaque cada vez maior ao longo da projeção. E Channing Tatum tem uma participação marcante interpretando Martin (apesar de não aparecer tanto quanto seus colegas de elenco), protagonizando uma cena particularmente chocante ao lado de Rooney Mara.
Tendo ainda uma rima visual muito interessante entre o primeiro e o último plano (que mostram uma situação e o resultado desta, respectivamente), Terapia de Risco só escorrega um pouco em seu terceiro ato, quando vemos uma montagem muito explicativa com relação à trama, e algumas coisas ficam um pouco forçadas. Mas isso não chega a diminuir a eficiência do filme. Não há como saber se este será mesmo o último trabalho de Steven Soderbergh nos cinemas (e só digo “nos cinemas” porque ele ainda lançará Behind the Candelabra, um filme para TV). Mas se for, ao menos é uma boa despedida.
Cotação:

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Santiago

Em 1992, o cineasta João Moreira Salles havia desenvolvido o projeto de um documentário sobre Santiago, o mordomo argentino que trabalhou para sua família durante 30 anos. Na época, Salles filmou depoimentos de Santiago, além de outras cenas gravadas em estúdio e na mansão onde ele cresceu. Mas, infelizmente, o diretor não soube organizar o material na sala de montagem, o que o fez abandonar o filme sem finalizá-lo. No entanto, isso deve ter perseguido o diretor desde então, porque treze anos depois ele voltou a mexer nesse material. Como resultado, ele obteve este Santiago, que tem um foco diferente daquele pensado originalmente. Ao invés de centrar mais no mordomo, Salles fez um documentário sobre o filme que ele não havia conseguido terminar.
Começando o filme com pequenos zooms em três quadros diferentes, João Moreira Salles mostra como queria ter iniciado o documentário na época em que iniciou o projeto. É então que ele começa uma introdução, que percorre os dez minutos iniciais, na qual ele diz quem Santiago era e como realizou as filmagens. E quando ele retorna ao quadro que mostrou inicialmente, o diretor deixa mais do que claro que o que veremos é uma espécie de recomeço, além de uma nova tentativa de terminar o filme de alguma forma.
Ao longo da projeção, fica evidente o porquê de João Moreira Salles ter pensado em fazer um filme sobre Santiago, já que este mostra ser uma pessoa realmente fascinante, sendo alguém que claramente tem algo a compartilhar, sejam histórias ou sua própria experiência de vida, além de ser uma figura muito carismática. É interessante ver Santiago rezando em latim ou falando das páginas que reuniu sobre as mais diversas dinastias da História. E quando Joãozinho (como o diretor é chamado em determinado momento) comenta sobre coisas que aprendeu com o mordomo quando criança, isso resulta em belas cenas no filme, como quando ele fala sobre o dia em que viu Santiago usando um fraque enquanto tocava Beethoven no piano.
No entanto, o modo como Salles conduziu certas coisas no filme deixam um pouco a desejar, e o mais interessante é que ele percebeu isso mais tarde, como é evidenciado em sua narração em off (que na verdade foi realizada por seu irmão, Fernando Moreira Salles, que tem uma voz imponente, da qual é difícil não prestar a atenção), que acaba apontando o que ele gostaria de ter feito diferente. As entrevistas, por exemplo, eram feitas com um pouco de pressa (os rolos de filmes eram uma limitação) e o diretor mostrava estar um tanto impaciente em alguns momentos. O próprio Santiago às vezes não sabia o que dizer. Além disso, Salles gravou tudo sempre com a câmera distante de Santiago, impedindo que ele próprio e o espectador se aproximassem mais do personagem. No caso do cineasta, essa distância se torna ainda mais estranha considerando que ele parece ter um carinho e um respeito muito grande pelo mordomo. Dessa forma, é bastante compreensível como que ele não conseguiu finalizar seu documentário treze anos antes.
Mas algo curioso em Santiago é o fato de João Moreira Salles ainda aproveitar para comentar a realização de documentários de modo geral, mais especificamente o que é causado pelo diretor e o que é captado espontaneamente. Salles chega a falar para o espectador questionar tudo o que vê. Nesse sentido, ele mostra um plano que gravou da piscina de sua casa com algumas folhas caindo por ali de repente, e depois mostra um momento no qual ele passa instruções a Santiago quanto aos gestos que este deve fazer durante seu depoimento. Assim, fica claro que por mais que os documentários possam capturar a realidade como ela é, os diretores ainda podem tentar causar um efeito no espectador de alguma maneira, o que pode nem ser um ato de desonestidade, mas sim um jeito que eles encontram para passar sua visão quanto ao assunto que estão tratando.
Santiago foi lançado em 2007, e desde então João Moreira Salles não voltou a dirigir nenhum outro filme, trabalhando apenas como produtor em outros projetos (como alguns documentários de Eduardo Coutinho). Isso acaba sendo uma pena considerando que ele é um cineasta muito talentoso. Esperemos que ele volte a fazer filmes em breve.
Cotação:

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Último Concerto de Rock

Ao longo de todos os seus anos de estrada (que oficialmente durou de 1958 a 1999), a The Band conseguiu ficar conhecida como uma das maiores bandas de rock da história, tendo ainda tocado com alguns dos artistas mais respeitados da indústria fonográfica. Em 1976, a formação original do grupo (o guitarrista Robbie Robertson, o baterista Levon Helm, o baixista Rick Danko, o pianista Richard Manuel e o tecladista Garth Hudson) veio a fazer seu último show. A apresentação ficou conhecida como “The Last Waltz” (ou “A Última Valsa”) e rendeu nas mãos de Martin Scorsese este O Último Concerto de Rock, que ostenta até hoje a fama de ser um dos melhores documentários de música já realizados.
Desde o início, Scorsese parece estar empenhado a fazer seu espectador ter uma bela experiência durante o filme. É interessante notar, por exemplo, quando ele filma o caminho percorrido por um carro até a Winterland Ballroom (local da apresentação), passando a ideia de que ele está usando a câmera como uma maneira de levar seu público para lá. Além disso, Scorsese também mantém a câmera muitas vezes próxima da banda durante o show, como se ele estivesse nos dando alguns dos melhores lugares do espetáculo (mas há de se reconhecer que assistir aquilo ao vivo deve ter sido algo incomparável). E não deixa de ser curioso que o diretor coloque a The Band dizendo “Adeus” logo nos primeiros minutos do documentário, já que assim ele faz com que o público enfrente rapidamente o momento da despedida.
Intercalando as apresentações da The Band no show com entrevistas feitas com seus membros, Scorsese faz com que O Último Concerto de Rock consiga contar um pouco da história daqueles artistas ao mesmo tempo em que capta com brilhantismo um evento memorável, que contou com vários convidados especiais. Quando Robbie Robertson chama Ronnie Hawkins para o palco, por exemplo, o diretor corta imediatamente para um depoimento do guitarrista falando um pouco da importância que aquele músico teve na carreira do grupo.
Aliás, muitas dos depoimentos dos membros da The Band consistem em pequenas histórias do que aconteceram com eles e que são contadas sempre com muito bom humor. Isso indica que por mais que a banda esteja se separando (ao menos por enquanto, já que a maioria deles se reuniria para novos discos e turnês alguns anos depois) as viagens que eles fizeram juntos certamente renderam boas lembranças. E sendo o diretor talentoso que sempre foi, é interessante o cuidado que Scorsese tem na hora de filmar certos momentos, principalmente quando a The Band toca uma de suas músicas mais famosas, “The Weight”, ao lado do The Staple Singers, com as estrofes sendo cantadas por membros diferentes de cada grupo (cada um representando o protagonista da canção) enquanto o refrão é cantado por todos.
Assim como boa parte dos documentários, um show é algo no qual os envolvidos não têm um controle total quanto ao que acontecerá. Coisas que não estavam planejadas podem ocorrer. Dessa forma, é bom ver um momento específico em que o convidado Eric Clapton começa a tocar sua guitarra, mas a alça do instrumento acaba se soltando, fazendo Robbie Robertson improvisar um solo até que o pequeno problema seja resolvido. E Scorsese parece fazer questão de incluir essa parte no filme, que de certa forma mostra que todos ali estão em perfeita sintonia.
Mas mais do que um documentário sobre a The Band e seu último show, O Último Concerto de Rock acaba sendo uma verdadeira celebração da música. Não é à toa que figuras como Bob Dylan, Neil Young, Neil Diamond, Van Morrison e outros foram chamados para tocar ao lado da banda. O amor que todos eles nutrem por aquilo que fazem fica muito claro quando eles estão no palco, e nesse sentido é bacana ver a gratidão que Neil Young tem por ter sido convidado para uma noite como aquela. E o final da apresentação, que traz a The Band e seus convidados cantando a bela “I Shall Be Released”, é sem dúvida um dos melhores momentos do filme.
Martin Scorsese é sempre lembrado por suas obras de ficção. No entanto, O Último Concerto de Rock não só é um de seus melhores trabalhos como também é um exemplo de que ele é um documentarista muito competente. E é difícil não se tornar fã da The Band quando se assiste a esse filme.
Cotação:

domingo, 12 de maio de 2013

Breve Comentário - Cockneys vs. Zombies

Assistir a este Cockneys vs. Zombies sem lembrar de Todo Mundo Quase Morto é uma tarefa difícil. Afinal, assim como o grande filme de Edgar Wright, esta produção é uma comédia que se passa em Londres e traz seus personagens tentando sobreviver a um apocalipse zumbi. No entanto, essa semelhança acaba sendo apenas um detalhe, já que o diretor Matthias Hoene consegue causar boas gargalhadas ao longo de seu filme.
Baseado em uma ideia do próprio Hoene, o roteiro escrito por James Moran e Lucas Roche mostra os atrapalhados irmãos Terry e Andy Maguire (Rasmus Hardiker e Harry Treadaway, respectivamente), que resolvem roubar um banco e usar o dinheiro para impedir que o asilo de seu avô, Ray (Alan Ford), seja demolido. Para ajudar na tarefa eles chamam sua prima, Katy (Michelle Ryan), além de Davey (Jack Doolan) e Mental Mickey (Ashley Thomas). Mas durante a operação, zumbis acordam e transformam a cidade em um pequeno inferno, e Terry, Andy e companhia resolvem ir resgatar seu avô e os amigos dele no asilo, que foi cercado pelas criaturas.
Um dos problemas de Cockneys vs. Zombies está no fato de nem sempre a violência ser algo convincente. Exemplo disso é a cena em que Katy corta as pernas de um zumbi e o modo como elas se separam do corpo é claramente feito por computador (uma provável consequência do baixo orçamento com o qual o projeto foi realizado). Além disso, o filme fica bobo demais em alguns momentos, como ao incluir duas cenas onde um personagem não acredita ao ser avisado que há zumbis atrás dele.
Mas esses problemas não atrapalham a diversão que o filme proporciona, o que vai desde uma briga entre torcedores de futebol (os chamados “hooligans”) até o destino insólito de um bebê. Os próprios flashbacks que aparecem de vez em quando revelam ser sequências muito divertidas em sua maioria. E é interessante que mesmo com todas as piadas, Matthias Hoene consegue nos fazer temer pelo destino dos personagens, o que rende algumas cenas tensas (aquela em que um velhinho foge de um zumbi não deixa de ser uma delas, ainda que renda algumas risadas).
Contando com um elenco muito carismático, Cockneys vs. Zombies não deve muita coisa a Todo Mundo Quase Morto, mostrando ser uma agradável surpresa.
Cotação:

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Em Transe

Uma qualidade interessante de Danny Boyle é o fato de ele ser bastante versátil, conseguindo adequar seu estilo de direção aos mais diversos gêneros. O cineasta já foi do thriller (Cova Rasa) a ficção científica (Sunshine: Alerta Solar), passando por terror (Extermínio), aventura (A Praia), comédias de humor negro (Trainspotting, Por Uma Vida Menos Ordinária), e dramas (Quem Quer Ser Um Milionário?, 127 Horas). Claro que nem sempre o resultado foi realmente satisfatório, mas ainda assim é uma habilidade notável do diretor. Neste Em Transe, Boyle retorna ao campo dos thrillers, com um roteiro que envolve um grande quebra-cabeça que tem como um de seus principais elementos a técnica da hipnose.
Escrito por Joe Ahearne e John Hodge (frequente colaborador de Boyle, sendo o responsável pelos roteiros de Cova Rasa, Trainspotting, Por Uma Vida Menos Ordinária e A Praia), Em Transe nos apresenta a Simon Newton (James McAvoy), um leiloeiro que ajuda o grupo liderado por Franck (Vincent Cassel) no roubo de um quadro valioso que está sendo vendido no lugar onde trabalha. Mas para o desgosto de Franck, Simon esquece onde escondeu a peça. Para resolver o problema, eles contatam a hipnoterapeuta Elizabeth (Rosario Dawson), que com suas técnicas pode ajudar Simon a lembrar do que exatamente aconteceu no dia do roubo e onde o quadro foi parar.
A busca pela peça é apenas o início de uma trama repleta de reviravoltas. Os personagens ainda por cima parecem não poder confiar um no outro em momento algum, e à medida que o roteiro os desenvolve eles mostram ser figuras absolutamente imprevisíveis. Além disso, no decorrer do filme, Ahearne e Hodge não param de largar pequenas pistas que virão a ser importantes mais tarde, se encaixando ao longo da narrativa sempre de um jeito surpreendente. Na verdade, surpreender é uma coisa que Em Transe faz muito durante a projeção.
Conduzindo tudo com eficiência (apesar de às vezes parecer mais preocupado com o visual do filme e a composição de seus quadros do que com qualquer outra coisa), Danny Boyle frequentemente se vê tendo que seguir várias linhas narrativas, sejam elas na vida real ou quando os personagens estão em transe, conseguindo transitar entre elas ao mesmo tempo em que mantém o espectador sempre envolvido na história. Nesse sentido, também é difícil não admirar o belíssimo trabalho de montagem de Jon Harris, que incluindo diversos raccords ao longo do filme organiza todo o quebra-cabeça criado pelo roteiro de maneira muito natural e deixando tudo claro para o público, e o melhor é que Harris faz isso sem nunca comprometer o ritmo por vezes frenético da narrativa (que se deve em boa parte a ótima trilha composta por Rick Smith). Aliás, essa forma como Em Transe é estruturado faz com que o espectador constantemente questione se o que está vendo na tela realmente está acontecendo ou se é apenas fruto da cabeça dos personagens, algo que por sorte só ajuda o filme a prender ainda mais a atenção.
Um dos aspectos mais interessantes de Em Transe é o modo como a hipnose é utilizada na história, já que isso rende momentos inspirados. Exemplo disso é a cena em que Elizabeth conduz Simon por uma sala repleta de quadros, preparando-o para entrar em uma espécie de cabine secreta onde estará a memória que ele precisa (e é curioso ver o design de produção colocar essa cabine em um canto da sala, dando a entender que Simon está mesmo visitando um lugar escondido de sua mente). Vale dizer também que a própria mente humana chega a virar um empecilho em meio ao objetivo dos personagens, o que o roteiro consegue incluir de forma muito orgânica e inteligente na trama.
Enquanto isso, o trio principal entrega belas atuações, a começar pelo talentoso James McAvoy, que surge carismático como de costume e fazendo o público simpatizar quase imediatamente com Simon, que ainda ganha alguns toques de instabilidade que mais tarde revelam ser importantíssimos devido sua natureza. Já Vincent Cassel, apesar de surgir como um vilão ameaçador, aos poucos faz de Franck uma figura que pode ser tão frágil quanto os outros personagens. E Rosario Dawson encarna a misteriosa Elizabeth como uma mulher forte e inteligente, surgindo praticamente como uma grande femme fatale no meio da história.
Com toda sua ambição, Em Transe acaba sendo bastante instigante durante seus 100 minutos de duração, representando mais um belo trabalho na carreira de Danny Boyle.
Cotação:

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Decepcionantes Terceiras Partes de Franquias Cinematográficas

É curioso ver que algumas franquias conseguem manter um nível admirável de qualidade em seus dois primeiros filmes, mas decepcionam quando chegam na terceira parte de suas histórias. Não chegou a ser o caso da recente aventura de Tony Stark (Homem de Ferro 3 é divertido apesar de ter seus problemas), mas aconteceu com várias outras séries. Às vezes isso ocorre por pura falta de cuidado, outras por os envolvidos quererem tanto dar um final grandioso a trilogia que acabam incluindo coisas demais (como personagens e subtramas que não acrescentam muita coisa a história).
Enfim, hora de lembrar os terceiros filmes de algumas dessas franquias:
- Matrix Revolutions (2003), de Andy Wachowski e Lana Wachowski:
Matrix é uma belíssima ficção científica que desenvolve com inteligência seus conceitos, além de contar com cenas de ação absolutamente memoráveis. Não é à toa que o filme ficou marcado como um dos melhores da década de 1990. Em 2003, os irmãos Wachowski lançaram em duas partes aquele que deveria ser o grande final da história, sendo a primeira Matrix Reloaded e a segunda Matrix Revolutions. Reloaded foi um ótimo filme, que preparou bem as peças do jogo que viria a ser finalizado em Revolutions. Mas infelizmente, apesar de não ter sido particularmente ruim, o terceiro filme mostrou ser muito decepcionante, já que os diretores não conseguiram dar o final memorável que a trilogia prometia e merecia.
- Batman Eternamente (1995), de Joel Schumacher:
Depois de Tim Burton apresentar com eficiência o universo sombrio de Batman em seus dois primeiros filmes, é triste ver Joel Schumacher assumir a franquia e transformar tudo em um carnaval. Trazendo um Val Kilmer aborrecido demais no papel de Bruce Wayne, Batman Eternamente procura ser algo mais divertido e leve de se assistir, pelo menos quando comparado aos filmes anteriores. E até causa risos de vez em quando, mas muito pouco perto do que realmente tenta ao longo da história. Mesmo assim o filme fez algum sucesso de bilheteria, possibilitando a existência do desastroso (e vergonhoso) Batman & Robin.
- Alien³ (1992), de David Fincher:
Alien: O Oitavo Passageiro e Aliens: O Resgate são dois grandes exemplares de ficção científica, com o primeiro sendo comandado por Ridley Scott e o segundo por James Cameron. Já o terceiro filme representou a estreia na direção de ninguém menos do que David Fincher. Mas infelizmente não foi aqui que o diretor de obras-primas como Se7en, Clube da Luta e Zodíaco mostrou todo seu talento, tendo em mãos um fraco roteiro e ainda incluindo um Alien feito por computador, que tira muito da graça da criatura. No entanto, parece que Fincher não teve muita liberdade no set, tendo abandonado o filme logo após as filmagens.
- Blade Trinity (2004), de David S. Goyer:
Antes de X-Men ter sido um grande sucesso e ter dado partida a várias outras adaptações de histórias em quadrinhos da Marvel, o caçador de vampiros Blade conseguiu um início satisfatório em seu primeiro filme. Mais tarde, o diretor Guillermo del Toro deu um bela continuidade a franquia em Blade 2. Mas Blade Trinity representou uma queda drástica na qualidade da série. Contando com um Wesley Snipes no piloto automático, um péssimo Drácula como vilão na pele de Dominic Purcell, além de outros personagens desinteressantes, o filme comandado por David S. Goyer ainda tem cenas de ação que não empolgam muito e um roteiro capenga. O curioso é ver que Goyer conseguiu compensar esse tropeço pouco tempo depois, já que ele contribuiu com os roteiros da trilogia Batman ao lado de Christopher Nolan.
- Homem-Aranha 3 (2007), de Sam Raimi:
Se o primeiro filme foi um ótimo começo para a franquia de um dos personagens mais famosos da Marvel Comics, o segundo conseguiu cumprir a tarefa de ser ainda melhor. No entanto, Homem-Aranha 3 conseguiu manchar tudo o que havia sido feito até então. Fazendo de Peter Parker uma pessoa chata e egoísta e que fica ainda pior quando é possuído pelo simbionte Venom, o filme ainda conta com subtramas desnecessárias envolvendo personagens desinteressantes, dando a entender que os envolvidos queriam demais agradar os fãs ao colocar figuras conhecidas dos quadrinhos. Nem boas cenas de ação como a que traz o Homem-Areia lutando com o Homem-Aranha em sua roupa sombria conseguiram salvar o filme, que finalizou muito mal a trilogia.