sexta-feira, 28 de junho de 2013

Guerra Mundial Z

Geralmente, filmes de zumbis preferem concentrar sua história em uma única área, e acompanhar seus personagens tentando escapar vivos de toda essa ameaça. Sendo assim, é uma surpresa ver uma produção como Guerra Mundial Z, que é bastante diferente pelo menos em termos de escala, porque segue seu protagonista em várias partes caóticas do mundo. Mas este é apenas um dos elementos que fazem deste novo trabalho do diretor Marc Forster (o mesmo de Em Busca da Terra do Nunca, O Caçador de Pipas, 007: Quantum of Solace, entre outros) mais uma obra eficiente do subgênero.
Baseado no livro de Max Brooks (que não li) e com roteiro escrito por Matthew Michael Carnahan em parceria com Drew Goddard e Damon Lindelof, e argumento feito por Carnahan e J. Michael Straczynski, Guerra Mundial Z traz a velha história de um vírus que se espalhou pelo mundo e transformou boa parte da população em zumbis, trazendo pânico para todos os lugares. É aí que entra Gerry Lane (Brad Pitt), que deixa sua família sob a segurança da ONU para sair em busca da origem do vírus e encontrar uma cura. Tal tarefa o faz viajar ao redor do mundo e o coloca em situações perigosíssimas.
Os perigos que Gerry acaba enfrentando ao longo do filme representam um dos pontos altos do projeto, resultando em grandes cenas de ação que são muito bem conduzidas por Forster, o que não deixa de ser uma surpresa considerando que o diretor não foi tão bem nesse quesito em Quantum of Solace. Mesmo que de vez em quando seja difícil compreender o que ocorre na tela (e muito da culpa disso se deve à desnecessária conversão em 3D), Forster compensa isso impondo um grande nível de tensão no filme, como a sequência inicial de ataques de zumbis pelas ruas da Filadélfia ou a outra que se passa em Israel. Além disso, por serem situações que parecem não ter uma saída, isso faz com que fiquemos curiosos com relação a como o protagonista irá se salvar.
Forster ainda acerta ao filmar alguns planos aéreos, que mostram de maneira impactante o caos que os zumbis trazem para os lugares. Aliás, já que mencionei os zumbis, vale dizer que apesar de em certos momentos eles aparecerem claramente como figuras criadas por computador (mais especificamente quando eles são filmados de longe), isso não chega realmente a incomodar, diferente do que acontecia, por exemplo, com as criaturas que perseguiam Will Smith em Eu Sou a Lenda. E considerando que eles são do tipo “corredores” como aqueles vistos em Extermínio, isso os torna figuras bastante ameaçadoras, o que ajuda muito a criar a tensão que permeia o filme.
Mesmo sendo bastante calcado em suas cenas de ação, Guerra Mundial Z não chega a ser uma produção descerebrada do gênero, arranjando espaço para desenvolver sua história. Isso se deve muito ao fato de o roteiro seguir uma estrutura comum em filmes desse tipo, ao alternar entre cenas de ação e momentos aparentemente mais calmos (e se digo “aparentemente” é porque nunca se sabe quando que os zumbis surgirão com seus ataques). Mas mesmo com essa estrutura, o filme nunca deixa de ser envolvente, algo que se deve em parte ao bom trabalho de montagem da dupla Roger Barton e Matt Cheese.
Guerra Mundial Z ainda tem uma atuação muito segura de Brad Pitt interpretando o protagonista da história. Sendo um ator muito talentoso, Pitt não só traz carisma para Gerry Lane, como também faz dele um homem determinado e de pensamento rápido (como quando ele salva uma soldado de ser contaminada pelo vírus). Pra completar, o ator traz uma sensibilidade interessante para o personagem, como pode ser visto na expressão que ele faz ao saber que uma família não virá com ele para um lugar mais seguro.
Mas o filme tem seus probleminhas. Quando alguém tropeça e dá um tiro na própria cabeça, isso acaba sendo tão pateticamente cômico que destoa de toda a história. Além do mais, algumas situações são criadas de maneira um tanto artificial pelo roteiro, como quando um personagem incompreensivelmente resolve deixar sua arma do lado de fora de uma sala, apenas para depois se ver encurralado por um zumbi, ou quando um celular volta a funcionar exatamente quando os personagens estão tentando não fazer algum barulho. Mesmo assim, o filme tem sorte de essas cenas ainda conseguirem cumprir o objetivo de prender a atenção do espectador.
Guerra Mundial Z é uma agradável surpresa nesse ano, sendo competente dentro daquilo que se propõe. E considerando que uma continuação já foi confirmada, este filme talvez seja o início de uma franquia interessante.
Cotação:

domingo, 23 de junho de 2013

Séries: Bates Motel e Hannibal

Assim como boa parte das pessoas, adoro assistir a séries de TV. No entanto, a principal proposta que impus no Brazilian Movie Guy foi discutir Cinema, e por isso preferi deixar as séries de lado por aqui. Mas hoje vou abrir uma exceção para falar sobre dois programas que estrearam recentemente na TV americana: Bates Motel e Hannibal. Farei isso não só por eu ter gostado muito delas, mas também porque tecnicamente não estarei me desviando da proposta do blog, considerando que ambas as séries se concentram em personagens que se tornaram figuras muito marcantes no Cinema.
Vamos começar por Bates Motel, série que serve como um prólogo moderno de Psicose, o clássico de Alfred Hitchcock. Desenvolvida por Anthony Cipriano, Kerry Ehrin e Carlton Cuse (que foi produtor executivo da cultuada Lost), a série gira em torno de Norman Bates (Freddie Highmore) e sua mãe, Norma (Vera Farmiga), que se mudam para a pequena cidade de White Pine Bay após um acidente que resultou na morte do pai do rapaz. Lá eles compram um motel à beira da estrada, mas mal sabem que isso os colocará em situações perigosas, porque o antigo proprietário, Keith Summers (W. Earl Brown), estava envolvido em atividades ilegais.
Sempre que alguém tentou esticar um pouco mais a história dos personagens de Psicose, isso resultou em obras esquecíveis, como as desastrosas continuações do filme, Psicose 2, Psicose 3 e Psicose 4: O Começo, que se concentravam exatamente em Norman Bates e o transformaram em um típico assassino de slasher movie. Particularmente, isso fez com que eu ficasse com um sentimento de desconfiança perante a série durante seus primeiros episódios, achando que a qualquer momento ela poderia desandar. O carinho que tenho pelo clássico de Hitchcock contribuiu bastante para isso também.
Mas a verdade é que poucas vezes fiquei tão feliz de estar errado. Ignorando quase tudo o que foi desenvolvido nas continuações, Bates Motel consegue desenvolver muito bem os protagonistas e seu relacionamento de mãe e filho, que sempre foi o elemento mais importante quando o assunto é Norman Bates, e por isso se torna praticamente a base da série. O amor entre eles é muito afetuoso, obviamente, mas também não deixa de ser bastante possessivo, o que às vezes resulta em tensos conflitos entre os dois.
No entanto, nada disso funcionaria caso os protagonistas não tivessem intérpretes adequados. Mas nisso a série acertou em cheio, já que Vera Farmiga e Freddie Highmore surgem perfeitos nos papeis. Enquanto ela faz de Norma uma mãe extremamente protetora e aflita com relação a certas situações, ele tem a árdua tarefa de seguir os passos de Anthony Perkins (que imortalizou o personagem nos filmes), interpretando Norman como um garoto tímido, inseguro e carismático, mas que pode se tornar uma pessoa completamente diferente quando ressentido com alguma coisa. E é muito interessante ver que em alguns momentos o personagem aparece com metade de seu rosto mergulhado nas sombras, o que ressalta sua natureza dúbia. Aliás, uma das grandes surpresas de Bates Motel é o fato de a série se manter tensa e envolvente mesmo depois de revelar algo importantíssimo da vida do rapaz alguns episódios antes do final da temporada.
Além disso, Bates Motel ainda tem um grupo de personagens coadjuvantes que são tão bons quanto os protagonistas, desde Dylan Masset (meio-irmão de Norman, interpretado com surpreendente eficiência por Max Thieriot) até Emma Decody (a carismática Olivia Cooke), passando por Bradley Martin (Nicola Peltz) e o xerife Alex Romero (Nestor Carbonell). E todos os personagens da série são inseridos em tramas de mistério que se revelam muito envolventes, transformando Bates Motel em um ótimo thriller. E ao final da temporada, fica a promessa de novos mistérios ao lado dessas figuras.
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Se Bates Motel é um prólogo para Psicose, Hannibal é um prólogo para Dragão Vermelho, o primeiro livro que nos apresentou ao canibal Hannibal Lecter e que virou filme duas vezes, em 1986 e 2002. Desenvolvida por Bryan Fuller (responsável por produções mais fantasiosas como Dead Like Me e Pushing Daisies), a série procura explorar como começou o relacionamento entre Lecter (Mads Mikkelsen) e o agente Will Graham (Hugh Dancy), ao mesmo tempo em que mostra eles se ajudando em alguns casos de homicídio (que, por sinal, devem se encontrar entre as coisas mais bizarras que já apareceram na TV).
Apesar de a série se chamar Hannibal, os episódios se concentram bastante em Will Graham e as investigações do FBI. Interpretado por Hugh Dancy com uma excentricidade curiosa, Graham é extremamente competente em seu trabalho, conseguindo recriar cenas de crimes nos mínimos detalhes (em sequências feitas de um jeito muito bacana, com o personagem “escaneando” o local e se colocando no lugar do criminoso na hora de montar a cena), além de traçar os perfis dos assassinos como ninguém. No entanto, essa habilidade é quase como uma maldição para Graham, fazendo com que ele seja uma pessoa bastante atormentada, o que inclusive mexe muito com seu psicológico ao longo da temporada.
É aí que entra Hannibal Lecter, que passa a ter Graham como paciente a pedido do chefe do departamento, Jack Crawford (o ótimo Lawrence Fishburne), e ainda o ajuda em alguns casos. Os embates entre Lecter e Graham são um show à parte na série, já que ambos são inteligentes e desenvolvem uma amizade interessante. E se Hugh Dancy entrega uma belíssima performance como o agente do FBI, o mesmo pode ser dito sobre o dinamarquês Mads Mikkelsen quando este surge interpretando o personagem-título. Sendo um ator sensacional, Mikkelsen cria um Hannibal Lecter elegante e carismático, mesmo apresentando grande seriedade na maior parte do tempo, e essas são coisas que impedem que as pessoas percebam qualquer vestígio do lado canibalesco do personagem. Mas o mais curioso é que Mikkelsen faz isso sem copiar a esplêndida atuação de Anthony Hopkins nos filmes, praticamente criando um novo personagem para a série.
Assim como Bates Motel, essa primeira temporada de Hannibal também apresenta coadjuvantes de destaque, e nisso entra não só o já citado Jack Crawford (que tem uma subtrama tocante envolvendo sua esposa, interpretada por Gina Torres, e chega a ser uma pena que ela não tenha tanto espaço ao longo dos episódios), mas também a psiquiatra Alana Bloom (Caroline Dhavernas), a jovem Abigail Hobbs (Kacey Rohl) e até mesmo a intrometida repórter Freddie Lounds (Lara Jean Chorostecki, interpretando um papel originalmente masculino). Além disso, ainda temos ótimas participações de figuras como Gillian Anderson (a eterna agente Dana Scully de Arquivo X, que interpreta a psiquiatra de Lecter) e Eddie Izzard (que se livra de seu lado mais cômico e cria um personagem frio e assustador).
Pra completar, é legal ver a série fazer referências bacanas como essa ao clássico O Iluminado:
Bates Motel e Hannibal surgem não só como duas grandes surpresas, mas também se colocam entre as melhores estreias que a TV norte-americana teve recentemente. E mal posso esperar pela segunda temporada de ambas as séries.
ATUALIZAÇÃO - 24/06/2013: Como bem lembrou o Hugo nos comentários, Bates Motel estreia no Brasil agora no dia 4 de julho, no Universal Channel. Já Hannibal chegou por aqui no canal AXN, que começou a passa-la dublada, sem opção de áudio original e legendas, mas até onde sei já resolveu esse problema.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Antes da Meia-Noite

Antes do Amanhecer e sua continuação, Antes do Pôr-do-Sol, estão entre os melhores filmes da década de 1990 e 2000, respectivamente. Enquanto o primeiro mostrou dois jovens, Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), trocando ideias, se apaixonando e aproveitando todo o tempo que tinham antes de encarar uma triste despedida, o segundo os colocou lado a lado novamente nove anos depois, trazendo-os conversando um pouco mais e relembrando o dia que passaram juntos, o que trouxe de volta emoções que eles até então procuravam evitar. São romances um tanto raros de se ver no cinema, e que têm em seu centro duas figuras absolutamente fascinantes, que fazem o espectador ter prazer em acompanha-las. Dessa vez, em Antes da Meia-Noite, mais nove anos se passam e vemos em que fase da vida Jesse e Celine estão, respondendo o final de Antes do Pôr-do-Sol, que havia sido deixado em aberto.
Escrito pelo diretor Richard Linklater e pelos protagonistas Ethan Hawke e Julie Delpy (o trio já havia sido responsável pelo roteiro do filme anterior), Antes da Meia-Noite traz Jesse e Celine vivendo juntos, com suas duas filhas gêmeas. No entanto, nem tudo é tranquilo na vida deles, considerando que Jesse está morando em Paris com Celine, mas quer arranjar um jeito de ficar mais perto de seu filho adolescente, Hank (Seamus Davey-Fitzpatrick), que mora com a mãe em Chicago. Isso acaba causando discussões entre o casal enquanto eles tentam aproveitar um tempo em família na Grécia, onde se encontram com alguns amigos.
Assim como ocorria nos capítulos anteriores, Richard Linklater investe bastante em planos longos durante o filme, como na cena em que Jesse e Celine conversam no carro ou quando eles caminham pelas ruas gregas. Na verdade, Antes da Meia-Noite chega a ter cenas que duram cerca de vinte minutos na tela, como quando os personagens jantam na casa de seus amigos. E o interessante nesse modo como Linklater conduz a história é que além de fazer o que surge na tela soar muito real, ainda conta com a ajuda de um roteiro repleto de diálogos ágeis e inteligentes (alguns deles até deixam claro o que ocorreu com os protagonistas nos últimos nove anos, e fazem isso sem serem expositivos), o que torna tudo incrivelmente envolvente. Sem falar que Jesse e Celine continuam sendo os grandes personagens que vimos em Antes do Amanhecer, protagonizando momentos românticos, divertidos e tristes, e a maravilhosa química entre Ethan Hawke e Julie Delpy permanece intacta.
Algo curioso desde o início de Antes da Meia-Noite é o fato de os protagonistas terem ficado separados no intervalo entre o primeiro e segundo filmes, mas juntos no intervalo entre o segundo e este terceiro. Ver como a vida deles se encontra agora é uma das melhores coisas do filme, já que pela primeira vez eles aparecem como um verdadeiro casal (se conhecendo muito bem e se sentindo bastante confortáveis um com o outro), e não como dois jovens apaixonados que acabaram ficando separados por obstáculos durante anos, impedidos de viver seu amor. E por nos mostrar os personagens assim, Antes da Meia-Noite faz o público ficar mais íntimo deles do que anteriormente, e é admirável como Linklater, Hawke e Delpy conhecem todos os detalhes de Jesse e Celine, sendo que a única diferença que se nota neles em cada novo filme é o fato de ambos estarem mais amadurecidos.
Mas o que é muito interessante em Antes da Meia-Noite é ver esses personagens tendo de enfrentar certas inseguranças (como quando Celine pergunta para Jesse “Se nos encontrássemos hoje no trem, você ainda falaria comigo? Me convidaria para sair do trem com você?”) e problemas quanto ao relacionamento. No filme, tudo isso culmina em uma grande discussão em um quarto de hotel, que de tão intensa acaba fazendo Antes da Meia-Noite ser o mais pesado da trilogia. Aliás, essa cena põe à prova o medo que havia caso os personagens realmente ficassem juntos, já que antes eles tinham se encontrado duas vezes e se dado muito bem, mas não tinha como saber se isso continuaria assim caso eles tivessem um relacionamento maior. Dessa forma, o filme consegue mostrar que por mais que as pessoas sejam almas gêmeas, elas ainda assim irão se deparar com momentos não muito bons, um pouco graças ao desgaste que o próprio tempo acaba trazendo à relação. Consequentemente, isso contribui para que os protagonistas fiquem ainda mais próximos do público.
Quando Antes do Amanhecer foi lançado, não sei se alguém chegou a pensar que a história dos personagens pudesse render outros filmes, mas o cuidado na hora de desenvolver todos eles é simplesmente sensacional. Antes da Meia-Noite não apenas fecha satisfatoriamente uma trilogia, como ainda consegue a façanha de manter o nível de genialidade que envolve a linda história de Jesse e Celine.
Cotação:

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Além da Escuridão - Star Trek

Depois de ficar sete longos anos longe das telonas, a franquia Jornada nas Estrelas voltou com força total em 2009, quando J.J. Abrams colocou a série de volta nos trilhos com Star Trek, que trouxe a equipe liderada por James T. Kirk em uma espécie de retorno às origens, o que resultou em um grande filme (uma das surpresas daquele ano). Com seus belos personagens sendo interpretados por um elenco completamente novo, Star Trek conseguiu reapresentar essas figuras com eficiência, além de se revelar uma aventura agradável tanto para os fãs da série quanto para os não-iniciados. Agora vem sua continuação, Além da Escuridão - Star Trek, que explora um pouco mais os personagens e insere a história em um contexto político muito interessante.
Escrito por Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof (três caras que nem sempre são confiáveis, mas que pelo visto funcionam melhor quando contribuem com J.J. Abrams), Além da Escuridão - Star Trek coloca Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto) e os outros membros da USS Enterprise enfrentando alguns problemas após uma missão no planeta Nibiru, o que inclusive faz Kirk perder seu posto de capitão. No entanto, depois que o ex-agente John Harrison (Benedict Cumberbatch) ataca a Frota Estelar, Kirk recebe a missão de pega-lo em Kronos, casa dos Klingons. Mas o que já seria uma missão arriscada acaba piorando ao revelar alguns segredos dentro da Frota.
Jogando logo de cara o espectador em meio à ação que ocorre no planeta Nibiru, o roteiro não perde tempo e já apresenta elementos que tratará ao longo da projeção. E aí vale ressaltar não só essa missão, mas também os relacionamentos entre os personagens (que ganham contornos conturbados em alguns momentos) e os questionamentos que eles fazem com relação a responsabilidades e até mesmo regras, o que é ideal quando consideramos que eles muitas vezes preferiram ignorar certas ordens por causa de algo mais importante. E fica clara a intenção do roteiro de querer levar os personagens ao limite, colocando-os várias vezes de frente com grandes decisões.
Não demora muito também para que o vilão seja apresentado. Interpretado com frieza pelo excepcional Benedict Cumberbatch e surgindo como uma figura imponente desde sua primeira cena, John Harrison é o tipo de vilão que nos faz temer pelo destino dos personagens. Isso até ganha a contribuição do fato de tudo se passar em uma linha temporal alternativa, como foi estabelecido no filme anterior, tornando tudo muito imprevisível. E a cena em que Harrison é interrogado por Kirk na Enterprise é uma das melhores do filme, e prova que ele é um vilão que ainda será lembrado por muitos anos.
Além disso, o roteiro é muito bem preparado com relação à história, não incluindo certos detalhes gratuitamente. Além da Escuridão - Star Trek tem alguns elementos que são inseridos ao longo do filme, e cada um deles revela ter uma função específica dentro da narrativa, não deixando nenhuma ponta solta. Isso mostra a inteligência que os roteiristas tiveram na hora de compor a história, sem falar que eles ainda conseguem desenvolver brilhantemente algumas reviravoltas que ocorrem no filme.
Além da Escuridão - Star Trek chama a atenção também por não deixar de fazer uma interessante metáfora sobre a política norte-americana. Nisso entra, por exemplo, o detalhe de alguém resolver invadir Kronos, mesmo que os Klingons não tenham tido nada a ver com os ataques a Federação, refletindo algo recente nos Estados Unidos depois do 11 de setembro. O próprio fato de os personagens terem de ser cautelosos com algumas coisas para não causar uma guerra já é bastante político. Por ter a coragem de incluir esse tipo de tema, as histórias de Jornada nas Estrelas sempre demonstram ser mais do que uma aventura de ficção científica, e é bom ver J.J. Abrams e os roteiristas retomarem isso.
Mas este novo filme funciona muitíssimo bem como uma aventura, e muito se deve ao trabalho irrepreensível de J.J. Abrams. No comando das cenas de ação, o diretor não só conduz tudo com energia como também impõe grande tensão em determinados momentos, como na sequência inicial em Nibiru ou nos ataques realizados por John Harrison. Várias vezes o cineasta ainda mostra mais de uma ação ao mesmo tempo, algo que a montagem de Maryann Brandon e Mary Jo Markey consegue acompanhar perfeitamente. Para completar, Abrams demonstra ter talento para recriar (de certa forma) um acontecimento clássico da franquia, conseguindo fazer com que este tenha o mesmo impacto visto originalmente, o que é absolutamente admirável.
Já o elenco tem uma dinâmica e uma camaradagem que só ajudam a fazer com que os personagens se tornem figuras ainda mais carismáticas, além de encarná-los novamente de maneira muito segura. Se Chris Pine faz de Jim Kirk um homem que sabe que não está acima das regras, mas que ocasionalmente sente necessidade de passar por cima delas para fazer o que é certo, Zachary Quinto mais uma vez compõe Spock como alguém que fica dividido entre o lado racional e o lado emocional, protagonizando duas cenas particularmente tocantes. E Karl Urban completa o trio trazendo sensibilidade a McCoy, retratando muito bem a lealdade do personagem para com os amigos.
Enquanto isso, Zoe Saldana faz de Uhura uma mulher de personalidade forte, e o relacionamento que ela tem com Spock é muito interessante, ao passo que John Cho traz grande seriedade para Sulu, fazendo dele um homem determinado e competente naquilo que faz (e ver o personagem sentir rapidamente o gosto de um cargo mais importante é outro belo momento no filme). E enquanto Simon Pegg aparece divertidíssimo como Montgomery Scott, Anton Yelchin surge sempre eficiente como Chekov. Aliás, apesar de aparecer pouco quando comparado com seus colegas de elenco, Yelchin compensa isso ao protagonizar uma cena curiosa, quando faz uma expressão de medo no momento em que Chekov se vê obrigado a vestir uma camisa vermelha, o que remete a fama que esse elemento tem dentro da série (quem veste vermelho geralmente está condenado a um fim não muito bom). Fechando o elenco, Peter Weller e Alice Eve conseguem se destacar interpretando o Almirante Alexander Marcus e a jovem Carol, respectivamente.
Contando ainda com a belíssima trilha composta por Michael Giacchino, Além da Escuridão - Star Trek é envolvente e emocionante, representando mais um capítulo memorável da franquia criada por Gene Roddenberry. E tomara que os próximos filmes continuem trazendo a tripulação da USS Enterprise em belas aventuras ao longo de suas missões.
Cotação:

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Se Beber, Não Case! Parte 3

Apesar de ter sido iniciada com um filme muito divertido e que foi uma das surpresas no ano de 2009, a franquia Se Beber, Não Case! caiu um pouco de qualidade no segundo filme, quando resolveu apostar basicamente na mesma história e nas mesmas reviravoltas vistas anteriormente (a única mudança foi o cenário, que saiu de Las Vegas e foi para a Tailândia). Mas o resultado foi um filme que ainda conseguia divertir, apesar de não deixar de ser um pouco caça-níqueis. A série agora chega ao seu terceiro capítulo, e dessa vez os envolvidos no projeto realmente tentam bolar uma nova história, que possa servir como desculpa para que o Bando de Lobos possa entrar em situações que façam o público rir. Mas, infelizmente, o riso é algo que Se Beber, Não Case! Parte 3 pouco consegue causar.
Escrito pelo diretor Todd Phillips em parceria com Craig Mazin, Se Beber, Não Case! Parte 3 traz Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Doug (Justin Bartha) tentando levar o crianção Alan (Zach Galifianakis) para uma instituição mental, depois de ele causar uma série de problemas. Mas o plano acaba não dando certo, já que no meio do caminho eles dão de cara com o mafioso Marshall (John Goodman), que está atrás de um velho conhecido do grupo, Sr. Chow (Ken Jeong), que logo no início vemos fugindo de uma prisão de segurança máxima. Nisso, Marshall sequestra Doug e promete mata-lo caso os outros três não encontrem Chow.
Se Beber, Não Case! Parte 3 até tem um início promissor, quando o roteiro apresenta o atual estado dos personagens e consegue ter algumas boas sacadas, como a gag envolvendo uma girafa e a pequena brincadeira feita com uma canção em um funeral. No entanto, o filme desanda a partir do segundo ato, investindo em piadas pouco inspiradas e em uma trama enrolada demais, que Todd Phillips tenta tornar engraçada ao trata-la como um thriller (algo que é ressaltado pela trilha composta por Christopher Beck), mas sem muito sucesso. Além disso, o filme dá espaço demais para Sr. Chow, figura que funcionava melhor quando aparecia pouco ao longo das histórias. E seu intérprete, Ken Jeong, infelizmente termina quase todas as falas com um palavrão, como se isso fosse o bastante para causar risos, mas na verdade isso é apenas chato e de certa forma subestima a inteligência do espectador.
Mas não é só isso. Todd Phillips ainda não consegue impor um tom de maior urgência que faça com que nos importemos com os personagens. E apesar de dirigir as cenas de maior ação com energia (como quando um caminhão passa a atacar os protagonistas no meio da estrada), o diretor não consegue impedir que o filme se torne aborrecido durante a maior parte do tempo, o que só deixa tudo ainda mais desinteressante. Como se não bastasse, o roteiro ainda conta com reviravoltas muito previsíveis, como as duas envolvendo Chow.
Enquanto isso, Bradley Cooper (recém-saído de sua indicação ao Oscar por O Lado Bom da Vida) e Ed Helms retornam aos seus personagens praticamente no piloto automático, não surgindo com um timing cômico tão bom quanto nos filmes anteriores, ao passo que Zach Galifianakis ganha mais espaço e até consegue divertir com Alan, mas muito pouco perto do que busca alcançar (e aquela coisa de ele fingir várias vezes que vai cumprimentar as pessoas cansa depois de algum tempo). Já Justin Bartha mais uma vez não tem muito o que fazer no filme, já que Doug tem sempre que ficar de fora das trapalhadas do grupo (uma repetição um tanto incompreensível na franquia). E John Goodman aparece sempre com uma presença em cena muito interessante interpretando Marshall, ainda que o personagem não seja uma grande novidade na carreira do ator, e é uma pena que ele tenha um final tão decepcionante.
No fim, Se Beber, Não Case! Parte 3 nem chega perto de ser um “final épico” para a trilogia. Na verdade, é um filme que acaba mostrando que a franquia pode estar bastante desgastada, e talvez já seja hora de aposentar o Bando de Lobos.
Obs.: Há uma cena durante os créditos finais. E é a mais divertida do filme, portanto não percam.
Cotação:

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Velozes & Furiosos 6

Não posso dizer que sou um apreciador da franquia Velozes e Furiosos, apesar de achar eficientes alguns de seus filmes. Na verdade, acho até uma surpresa que a série esteja durando tanto tempo, a ponto de agora estar rendendo um sexto capítulo (e o sétimo já está sendo desenvolvido). Mas não deixa de ser curioso notar que a partir do quinto filme, a franquia ganhou uma interessante roupagem de heist movie (quando um grupo se reúne para pôr em prática um plano de roubo), deixando um pouco de lado os grandes rachas que moviam as histórias. No entanto, apostar nessa fórmula novamente acaba não sendo o suficiente para fazer deste Velozes e Furiosos 6 um sucesso (pelo menos em termos de qualidade, porque comercialmente isso não é uma preocupação).
Dirigido por Justin Lin e escrito por Chris Morgan (que marcam presença na franquia desde o terceiro filme), Velozes e Furiosos 6 coloca Dominic Toretto (Vin Diesel), Brian O’Conner (Paul Walker) e companhia tentando viver uma vida tranquila depois do grande roubo que realizaram no Rio de Janeiro. Enquanto isso, o agente Hobbs (Dwayne Johnson) e sua parceira, Riley (Gina Carano), perseguem a gangue liderada por Owen Shaw (Luke Evans), mas percebem que não conseguirão capturá-los usando apenas a força policial. Sendo assim, Hobbs pede ajuda para Dom, sabendo que este não resistirá à oportunidade de ir atrás de Letty (Michelle Rodriguez), sua antiga namorada que era dada como morta, mas que na verdade está trabalhando com Shaw. Caso a missão seja cumprida, Hobbs promete anistia a Dom e sua equipe, permitindo que voltem para casa.
Sendo a equipe de Dominic Toretto competente naquilo que faz, os primeiros minutos do filme tentam deixar bem claro que dessa vez eles enfrentarão vilões que serão difíceis de derrubar. No entanto, o roteiro prefere martelar essa informação na cabeça do espectador como se este não fosse capaz de acompanhar a história normalmente. Nisso, é incluída uma cena em que os personagens falam várias vezes que a gangue de Owen Shaw é “a melhor do mundo” e que representa “um outro nível” (como se isso não tivesse ficado estabelecido quando falaram na primeira vez).
No entanto, não adianta tentar fazer os vilões serem imbatíveis se você transforma alguns dos mocinhos em figuras super-humanas, que em vários momentos mandam as leis da física para o espaço, o que chega a causar risos involuntários. Há uma cena, por exemplo, em que Dom salta (ou melhor, voa) para o outro lado de uma ponte para salvar outro personagem e ambos caem em cima de um carro, saindo absolutamente ilesos (e é engraçado ver na cena seguinte o tal personagem fazendo a seguinte pergunta para Dom: “Como sabia que teria um carro para amortecer nossa queda?”, uma fala que acaba refletindo a qualidade do filme). Consequentemente, é um pouco difícil temer pelo destino de certos personagens.
Como se não bastasse, o filme ainda conta com reviravoltas previsíveis (como aquela envolvendo um aliado de Shaw) e cai em clichês muito batidos (como o suspense antes de um personagem revelar se está vivo ou não). E apesar de a história ter a já citada fórmula de heist movie, o roteiro não deixa de incluir alguns rachas, que soam meio deslocados dentro da narrativa e dão a impressão de que só foram realizados por estarmos falando de um exemplar da franquia Velozes e Furiosos (e a introdução de um deles, com carros e modelos desfilando pela tela, é constrangedora). Além disso, nem todas as tentativas de humor dão certo, já que a maioria das piadas é jogada nas mãos de Roman Pearce, interpretado por um Tyrese Gibson sem o menor timing cômico, o que o torna irritante em algumas cenas.
Já no quesito ação, o filme até tem momentos interessantes, ainda que de vez em quando Justin Lin não consiga deixar a geografia das cenas muito clara. Vale destacar as lutas entre Letty e Riley, além de uma cena de perseguição nas ruas de Londres que ocorre no início do segundo ato. E a grande sequência de ação do filme, que coloca os protagonistas tentando impedir um avião de levantar voo, apesar de ser bem realizada, acaba chamando atenção mais pelo fato de se passar em uma pista de pouso que aparentemente não tem fim, o que novamente acaba causando risos.
Quanto ao elenco, Vin Diesel, Paul Walker e Michelle Rodriguez voltam seguros aos seus respectivos personagens, ao passo que Dwayne Johnson (um intérprete carismático, mas que precisa de um agente melhor) parece estar no filme apenas para ter seus músculos explorados ao máximo, como em sua primeira cena, onde ele aparece arrebentando um suspeito em uma sala de interrogatório. O mesmo também pode ser dito sobre a lutadora Gina Carano (que no ano passado surgiu maravilhosamente bem em A Toda Prova), que não tem muito espaço fora das cenas de ação. Enquanto isso, Luke Evans nunca chega a soar ameaçador como Owen Shaw, além de o próprio vilão não ser grande coisa e ter um plano bobo demais.
Mas apesar de ser um filme muito irregular, Velozes e Furiosos 6 tem um final eficiente e que poderia encerrar satisfatoriamente a história de seus personagens e da franquia. E até por isso chego a lamentar o fato de ter que escrever uma pequena observação ao final dessa crítica.
Obs.: Há uma rápida cena pouco depois do início dos créditos finais.
Cotação: