quinta-feira, 13 de junho de 2013

Além da Escuridão - Star Trek

Depois de ficar sete longos anos longe das telonas, a franquia Jornada nas Estrelas voltou com força total em 2009, quando J.J. Abrams colocou a série de volta nos trilhos com Star Trek, que trouxe a equipe liderada por James T. Kirk em uma espécie de retorno às origens, o que resultou em um grande filme (uma das surpresas daquele ano). Com seus belos personagens sendo interpretados por um elenco completamente novo, Star Trek conseguiu reapresentar essas figuras com eficiência, além de se revelar uma aventura agradável tanto para os fãs da série quanto para os não-iniciados. Agora vem sua continuação, Além da Escuridão - Star Trek, que explora um pouco mais os personagens e insere a história em um contexto político muito interessante.
Escrito por Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof (três caras que nem sempre são confiáveis, mas que pelo visto funcionam melhor quando contribuem com J.J. Abrams), Além da Escuridão - Star Trek coloca Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto) e os outros membros da USS Enterprise enfrentando alguns problemas após uma missão no planeta Nibiru, o que inclusive faz Kirk perder seu posto de capitão. No entanto, depois que o ex-agente John Harrison (Benedict Cumberbatch) ataca a Frota Estelar, Kirk recebe a missão de pega-lo em Kronos, casa dos Klingons. Mas o que já seria uma missão arriscada acaba piorando ao revelar alguns segredos dentro da Frota.
Jogando logo de cara o espectador em meio à ação que ocorre no planeta Nibiru, o roteiro não perde tempo e já apresenta elementos que tratará ao longo da projeção. E aí vale ressaltar não só essa missão, mas também os relacionamentos entre os personagens (que ganham contornos conturbados em alguns momentos) e os questionamentos que eles fazem com relação a responsabilidades e até mesmo regras, o que é ideal quando consideramos que eles muitas vezes preferiram ignorar certas ordens por causa de algo mais importante. E fica clara a intenção do roteiro de querer levar os personagens ao limite, colocando-os várias vezes de frente com grandes decisões.
Não demora muito também para que o vilão seja apresentado. Interpretado com frieza pelo excepcional Benedict Cumberbatch e surgindo como uma figura imponente desde sua primeira cena, John Harrison é o tipo de vilão que nos faz temer pelo destino dos personagens. Isso até ganha a contribuição do fato de tudo se passar em uma linha temporal alternativa, como foi estabelecido no filme anterior, tornando tudo muito imprevisível. E a cena em que Harrison é interrogado por Kirk na Enterprise é uma das melhores do filme, e prova que ele é um vilão que ainda será lembrado por muitos anos.
Além disso, o roteiro é muito bem preparado com relação à história, não incluindo certos detalhes gratuitamente. Além da Escuridão - Star Trek tem alguns elementos que são inseridos ao longo do filme, e cada um deles revela ter uma função específica dentro da narrativa, não deixando nenhuma ponta solta. Isso mostra a inteligência que os roteiristas tiveram na hora de compor a história, sem falar que eles ainda conseguem desenvolver brilhantemente algumas reviravoltas que ocorrem no filme.
Além da Escuridão - Star Trek chama a atenção também por não deixar de fazer uma interessante metáfora sobre a política norte-americana. Nisso entra, por exemplo, o detalhe de alguém resolver invadir Kronos, mesmo que os Klingons não tenham tido nada a ver com os ataques a Federação, refletindo algo recente nos Estados Unidos depois do 11 de setembro. O próprio fato de os personagens terem de ser cautelosos com algumas coisas para não causar uma guerra já é bastante político. Por ter a coragem de incluir esse tipo de tema, as histórias de Jornada nas Estrelas sempre demonstram ser mais do que uma aventura de ficção científica, e é bom ver J.J. Abrams e os roteiristas retomarem isso.
Mas este novo filme funciona muitíssimo bem como uma aventura, e muito se deve ao trabalho irrepreensível de J.J. Abrams. No comando das cenas de ação, o diretor não só conduz tudo com energia como também impõe grande tensão em determinados momentos, como na sequência inicial em Nibiru ou nos ataques realizados por John Harrison. Várias vezes o cineasta ainda mostra mais de uma ação ao mesmo tempo, algo que a montagem de Maryann Brandon e Mary Jo Markey consegue acompanhar perfeitamente. Para completar, Abrams demonstra ter talento para recriar (de certa forma) um acontecimento clássico da franquia, conseguindo fazer com que este tenha o mesmo impacto visto originalmente, o que é absolutamente admirável.
Já o elenco tem uma dinâmica e uma camaradagem que só ajudam a fazer com que os personagens se tornem figuras ainda mais carismáticas, além de encarná-los novamente de maneira muito segura. Se Chris Pine faz de Jim Kirk um homem que sabe que não está acima das regras, mas que ocasionalmente sente necessidade de passar por cima delas para fazer o que é certo, Zachary Quinto mais uma vez compõe Spock como alguém que fica dividido entre o lado racional e o lado emocional, protagonizando duas cenas particularmente tocantes. E Karl Urban completa o trio trazendo sensibilidade a McCoy, retratando muito bem a lealdade do personagem para com os amigos.
Enquanto isso, Zoe Saldana faz de Uhura uma mulher de personalidade forte, e o relacionamento que ela tem com Spock é muito interessante, ao passo que John Cho traz grande seriedade para Sulu, fazendo dele um homem determinado e competente naquilo que faz (e ver o personagem sentir rapidamente o gosto de um cargo mais importante é outro belo momento no filme). E enquanto Simon Pegg aparece divertidíssimo como Montgomery Scott, Anton Yelchin surge sempre eficiente como Chekov. Aliás, apesar de aparecer pouco quando comparado com seus colegas de elenco, Yelchin compensa isso ao protagonizar uma cena curiosa, quando faz uma expressão de medo no momento em que Chekov se vê obrigado a vestir uma camisa vermelha, o que remete a fama que esse elemento tem dentro da série (quem veste vermelho geralmente está condenado a um fim não muito bom). Fechando o elenco, Peter Weller e Alice Eve conseguem se destacar interpretando o Almirante Alexander Marcus e a jovem Carol, respectivamente.
Contando ainda com a belíssima trilha composta por Michael Giacchino, Além da Escuridão - Star Trek é envolvente e emocionante, representando mais um capítulo memorável da franquia criada por Gene Roddenberry. E tomara que os próximos filmes continuem trazendo a tripulação da USS Enterprise em belas aventuras ao longo de suas missões.
Cotação:

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