quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Homem de Aço

A carreira de Superman nos cinemas não é das melhores. Depois de ter sido levado para as telonas em 1978 no excelente Superman: O Filme, de Richard Donner, o herói seguiu suas aventuras de maneira razoável em Superman II, mas afundou completamente nos desastrosos Superman III e Superman IV: Em Busca da Paz. Foram necessários quase 20 anos para que o personagem voltasse a protagonizar um filme, mas a tentativa de ressuscitá-lo em Superman: O Retorno ainda foi muito decepcionante. Sendo assim, um reboot não deixa de ser algo bem-vindo e até mesmo necessário, assim como foi com Batman depois do que aconteceu com ele a partir da metade da década de 1990. Nesse sentido, O Homem de Aço é bem sucedido no quesito de reapresentar o personagem e colocar sua história de volta nos trilhos cinematográficos, e até por isso chega a ser uma pena que o filme tenha alguns problemas graves que prejudiquem o resultado final.
Escrito por David S. Goyer a partir do argumento concebido por ele em parceria com o produtor Christopher Nolan (ambos responsáveis pela ressurreição de Batman, na excepcional trilogia finalizada no ano passado), O Homem de Aço começa no planeta Krypton, mostrando o nascimento de Kal-El em tempos apocalípticos do lugar, o que faz seu pai, Jor-El (Russell Crowe), enviá-lo a Terra como uma maneira de salvar sua raça. Lá ele se torna Clark Kent, filho adotivo dos fazendeiros Jonathan e Martha Kent (Kevin Costner e Diane Lane, respectivamente). Quando adulto (e interpretado por Henry Cavill), Clark tenta encontrar respostas sobre sua verdadeira natureza, tendo mais tarde que evitar a destruição da Terra pelas mãos de seres de seu planeta natal, liderados pelo General Zod (Michael Shannon).
O Homem de Aço começa impressionando em sua sequência inicial, que se passa em Krypton. Não só por esta contar com um ótimo trabalho de design de produção e efeitos visuais (que transportam brilhantemente para a tela toda a grandiosidade do planeta), mas também por apresentar eficientemente a história e os personagens. E a destruição do lugar é muito bem conduzida pelo diretor Zack Snyder (de quem sou um admirador confesso), que dá um tom melancólico ao que está acontecendo e capricha nos combates envolvendo Jor-El e Zod.
No entanto, no exato momento em que o filme sai de Krypton e nos apresenta rapidamente a um Clark adulto, o roteiro já revela um problema que percorre boa parte da narrativa: a estrutura da história. Ao mesmo tempo em que acompanha Clark em busca das respostas que tanto deseja (e salvando algumas pessoas no caminho), o roteiro tenta mostrar como foi a vida do protagonista até chegar àquele ponto, passando por sua infância e por sua adolescência, fazendo isso através de flashbacks cujo conteúdo é interessante, como quando Clark descobre seus poderes em uma sala de aula ou salva um ônibus escolar. O problema é que tais flashbacks, infelizmente, surgem pouco orgânicos na trama, sempre quebrando o ritmo do filme. Pra piorar, o roteiro demonstra não ter a calma necessária para desenvolver a história, e quando Clark aparece como Superman isso parece ocorrer um tanto repentinamente, o que é uma pena.
Tudo isso parece acontecer para dar maior prioridade às cenas de ação. No entanto, por mais que a direção de Zack Snyder nessas sequências seja competente, infelizmente a maioria delas consiste basicamente em Superman e Zod se socando de um lado para o outro, mostrando suas forças enquanto causam uma verdadeira destruição por onde passam, o que decepciona por ficar repetitivo depois de um tempo. Além disso, é lamentável que Snyder se controle demais ao longo do filme, não mostrando muito as características que são marcas registradas de seu trabalho, desde seu senso estético (que aparece com mais força apenas nas cenas em Krypton) até o próprio slow motion (que não dá as caras em nenhum momento). De qualquer forma, Snyder constrói belos momentos ao longo da projeção, como a triste cena envolvendo um tornado e o plano que traz Superman de pé diante de milhões de crânios, que deve ser uma das melhores coisas que o cineasta já fez em sua carreira até agora.
Mas Snyder e David S. Goyer acertam no principal ponto do filme, que é o modo como tratam o protagonista. Sendo ele uma figura incomum em um mundo que teme qualquer coisa que desconheça, é bom ver que existe uma preocupação em deixar claro que não há como saber qual exatamente seria a reação das pessoas caso se deparassem com alguém tão poderoso (aliás, mais do que isso, porque primeiramente estamos falando de um ser que veio de outro planeta), o que inclusive é ressaltado pelo editor do Planeta Diário, Perry White (vivido com segurança por Lawrence Fishburne). Isso é algo que torna o drama existencial de Clark e a solidão que ele sente ainda mais interessantes, e de certa forma ajuda a aproximar o espectador do personagem.
Enquanto isso, no elenco, se Michael Shannon compõe o General Zod com uma presença sempre forte, Amy Adams não chega a fazer de Lois Lane uma figura cativante, ao passo que Diane Lane traz uma ternura admirável para Martha Kent. Já Kevin Costner tem uma participação pequena, mas marcante, deixando clara a preocupação de Jonathan Kent com relação ao que pode acontecer com seu filho, enquanto Russell Crowe surge sempre com uma grande presença em cena como Jor-El, passando um ar de sabedoria essencial para o personagem.
Mas quem consegue se destacar (e surpreender) mesmo é o protagonista Henry Cavill. Com carisma e determinação, Cavill faz de Clark Kent um personagem com o qual o público pode simpatizar com certa facilidade, além de retratar bem os dramas pelos quais ele passa. E quando veste o uniforme de Superman e encara outras pessoas (em especial os militares), é interessante ver que o ator muda sutilmente o tom de voz e até mesmo a postura, tornando-se uma figura um pouco mais imponente. Claro que Cavill não chega a ser tão bom quanto Reeve, mas certamente revela ser infinitamente melhor do que o fraco Brandon Routh, intérprete anterior do personagem.
Embalado ainda pela bela trilha composta por Hans Zimmer, O Homem de Aço pode não ser um grande filme, mas é um retorno eficiente de Superman às telonas. E ao final da projeção, fica a curiosidade com relação ao que será feito na eventual continuação.
Cotação:

Nenhum comentário: