quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Círculo de Fogo

O Japão é uma grande fonte de séries de televisão que colocam robôs gigantes lutando contra monstros igualmente gigantes que causam grande destruição por onde passavam. Tais programas também fizeram sucesso no Brasil, principalmente entre as décadas de 1980 e 1990, e devo dizer que passei boa parte da minha infância assistindo a alguns deles, como Changeman, Ultraman e a versão americana dos Power Rangers. Dito isso, o diretor mexicano Guillermo del Toro deve gostar de produções desse tipo, considerando que este seu mais novo trabalho, Círculo de Fogo, é claramente influenciado por elas, sendo uma espécie de homenagem ao mesmo tempo em que busca ser algo original. E o filme alcança seus objetivos de maneira muito empolgante.
Escrito pelo próprio Guillermo del Toro em parceria com Travis Beacham a partir de um argumento escrito por este último, Círculo de Fogo mostra que uma fenda abriu no meio do Oceano Pacífico, servindo como portal para que grandes monstros, conhecidos como Kaijus, invadam cidades e destruam tudo o que veem pela frente. Para combatê-los, os humanos construíram robôs chamados de Jaegers, que devem ser controlados por dois pilotos cujas mentes ficam conectadas. Quando o programa de Jaegers fica ameaçado, já que os Kaijus parecem estar se fortalecendo com o passar do tempo, o comandante Stacker Pentecost (Idris Elba) resolve pôr em prática um último plano para destruir os monstros, e para isso ele pede ajuda a um velho conhecido, Raleigh Becket (Charlie Hunnam), piloto que se aposentou após uma tragédia envolvendo seu irmão.
Como é costumeiro em boa parte das produções comandadas por Guillermo del Toro, Círculo de Fogo conta com um universo muito interessante e que foi pensado nos mínimos detalhes pelo diretor. Nesse sentido o filme é tecnicamente impecável. A bela fotografia de Guillermo Navarro (parceiro habitual de del Toro) traz um belo tom fantasioso ao filme, enquanto que o excepcional design de produção compõe esse universo grandiosamente. Já os efeitos visuais concebem os Jeagers e os Kaijus brilhantemente, também fazendo com que eles interajam com os cenários vistos na tela sempre de maneira convincente, ao passo que os efeitos sonoros ajudam as criaturas e as máquinas a se tornarem ainda mais verossímeis, seja pelos rugidos dos monstros ou por toda mecânica envolvida na criação dos robôs. Se o filme não for indicado a alguns Oscars nas categorias técnicas será realmente decepcionante.
Enquanto isso, as cenas de batalha são brilhantemente orquestradas por del Toro, deixando o espectador sempre a par do que está acontecendo ao mesmo tempo em que muito bem as diversas habilidades dos Jeagers e dos Kaijus. Aliás, o diretor não capricha apenas nas sequências envolvendo esses gigantes, trazendo uma ótima cena de treinamento entre Raleigh e a iniciante Mako Mori (Rinko Kikuchi). E a belíssima trilha composta por Ramin Djawadi ajuda essas cenas e o filme em si a ficarem mais empolgantes. Além disso, diferente do que se vê, por exemplo, nos filmes de Transformers, Círculo de Fogo demonstra não estar preocupado apenas com explosões e coisas do tipo, desenvolvendo com eficiência sua história e os personagens, que são muito interessantes e em vários momentos se encontram em desvantagem nas lutas com os Kaijus, o que não só nos faz temer pelo seu destino como também torna o filme um tanto imprevisível.
Para completar, del Toro acerta na escalação de seu elenco. Charlie Hunnam surge carismático e determinado no papel de Raleigh, enquanto que o brilhante Idris Elba usa todo seu talento para fazer de Stacker Pentecost um personagem de autoridade absoluta (o momento em que ele pede para Raleigh repetir algo em seu ouvido é sensacional). Já Rinko Kikuchi merece aplausos por conseguir compor Mako como uma mulher tão forte e capaz quanto os homens que aparecem no centro de comando dos Jeagers, tendo ainda uma ótima química com Hunnam e Elba. E se Charlie Day e Burn Gorman fazem dos cientistas Newton Geiszler e Hermann Gottlieb alívios cômicos eficientes, Ron Perlman praticamente rouba o filme nas poucas cenas em que aparece, usando sua ótima presença e timing cômico para fazer de Hannibal Chau uma figura muito divertida.
Depois de cinco anos sem dirigir um filme (seu último trabalho havia sido Hellboy 2), é bom ver Guillermo del Toro voltar com uma produção como Círculo de Fogo, um blockbuster que não subestima a inteligência do público, entretendo-o do início ao fim com seu espetáculo. Só espero que o diretor não volte a ficar tanto tempo sem fazer um filme.
Obs.: Há uma cena divertida durante os créditos finais.
Cotação:

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