terça-feira, 8 de abril de 2014

Capitão América 2: O Soldado Invernal

Ainda que tenha servido muito mais para inserir o personagem no universo cinematográfico que a Marvel Studios vem construindo nos últimos anos, o primeiro filme do Capitão América mostrou ser uma boa aventura, além de ser a produção visualmente mais caprichada que o estúdio realizou. Depois de ter aparecido em Os Vingadores, o personagem retorna em um novo filme-solo, que surpreende ao ser não só o melhor exemplar da Fase 2 da Marvel até agora, mas também um dos melhores do estúdio considerando todas as suas produções, chegando praticamente no mesmo nível do primeiro Homem de Ferro, seu sucesso inaugural.

Escrito pelos mesmos Christopher Markus e Stephen McFeely do filme anterior (e também do desastroso Thor 2), Capitão América 2: O Soldado Invernal traz Steve Rogers (Chris Evans) ajudando a S.H.I.E.L.D. ao mesmo tempo em que tenta se adaptar ao mundo moderno, depois de ter ficado quase 70 anos congelado. Através de Nick Fury (Samuel L. Jackson), Rogers fica sabendo da existência do Projeto Insight, que pode eliminar qualquer alvo onde quer que esteja, mas cuja utilização não deve estar planejada para algo tão bom quanto parece. Quando Fury e o resto da agência ficam comprometidos por causa de um antigo inimigo, o herói se torna um fugitivo graças às ordens do secretário Alexander Pierce (Robert Redford). Mesmo com toda a desconfiança ao seu redor, Rogers tem a ajuda de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) e do piloto Sam Wilson (Anthony Mackie) para descobrir o que está acontecendo na S.H.I.E.L.D., sendo que ainda precisa enfrentar o misterioso combatente Soldado Invernal (Sebastian Stan).

Nas mãos dos irmãos Anthony e Joe Russo (conhecidos por séries cômicas excepcionais como Arrested Development e Community, mas cujo último trabalho na direção de um longa foi o fraco Dois é Bom, Três é Demais), Capitão América 2 surpreende com um tom mais sério do que o dos filmes anteriores da Marvel, com um clima conspiratório e toques de thriller de espionagem que ajudam a tornar a história cativante e envolvente. Isso, é claro, não impede que momentos espontaneamente divertidos surjam na tela ocasionalmente, e logo de cara a lista que o protagonista faz de itens com os quais deve se atualizar é uma bela sacada, assim como as conversas pessoais entre ele e a Viúva Negra. Mas os irmãos cineastas não surpreendem apenas quanto ao tom da história, conduzindo as várias cenas de ação com segurança absoluta, como a missão inicial que se passa em um navio, a perseguição envolvendo Nick Fury (e é ótimo ver o personagem em ação, finalmente) e a luta contra o Soldado Invernal e seus capangas em uma rodovia.

O roteiro acerta ao não se preocupar demais em estabelecer um determinado elemento que será importante em Os Vingadores 2, como aconteceu em alguns filmes da Marvel desde que esse universo cinematográfico começou a ser montado, o que faria a produção aparentar ser mais uma prévia do que veremos na nova reunião dos heróis. É verdade que temos uma série de referências a outros personagens, desde as Indústrias Stark até a menção de nomes como o de Bruce Banner e de outro herói que ganhará seu próprio filme futuramente, mas estas surgem organicamente e acabam servindo para ilustrar o universo da história. Assim, Capitão América 2 busca se concentrar no desenvolvimento de sua trama e dos personagens, fazendo isso com calma e naturalidade. Aqui e ali o filme escorrega em certas reviravoltas que ora são bobas, ora previsíveis, além de o plano dos vilões de matar algumas pessoas para salvar várias não ser muito original, mas ao menos são problemas que não atrapalham tanto a narrativa.

Enquanto isso, Chris Evans volta a trazer determinação e carisma a Steve Rogers, sendo este um personagem que não teme questionar seus superiores com relação às ordens que recebe, mostrando ser um homem guiado mais por sua sensibilidade do que por seu patriotismo. Evans ainda tem uma dinâmica admirável com os igualmente carismáticos Scarlett Johansson, novamente confortável como Natasha Romanoff, e Anthony Mackie, que interpretando Sam Wilson se revela uma bem-vinda adição a esse universo. E se nós não chegamos a temer pelo destino dos personagens (afinal, eles devem aparecer em filmes futuros), ao menos ficamos curiosos para saber como eles sairão das situações perigosas nas quais se metem. Já Samuel L. Jackson traz uma segurança invejável a Nick Fury, ao passo que Sebastian Stan faz do Soldado Invernal um vilão à altura dos heróis (ainda que o relacionamento dele com o protagonista seja um pouco batido) e Robert Redford tem sempre uma grande presença como o manipulador Alexander Pierce. Aliás, é curioso ver Redford em um papel oposto àquele que interpretou no ótimo Três Dias do Condor.

A Fase 2 da Marvel pode não ter tido um começo dos melhores, mas Capitão América 2 certamente representa uma bela respirada para o estúdio, sendo um filme acima da média. Agora resta esperar que Guardiões da Galáxia mantenha esse bom nível antes da chegada de Os Vingadores 2.

Obs.: Como de costume em filmes da Marvel, não saia do cinema antes do fim dos créditos. Há duas cenas adicionais.

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