sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Maze Runner: Correr ou Morrer

Livros de fantasia infato-juvenis já tem uma fórmula básica na busca de serem bem sucedidos: trazer um protagonista que mostra ser uma espécie de “Escolhido” e que causará um grande impacto dentro de seu universo. E se essa fórmula já está enjoando um pouco nos livros, o mesmo pode ser dito sobre suas adaptações cinematográficas, e todo ano surgem novos candidatos para tentar emplacar um sucesso parecido com os de Harry Potter e Jogos Vorazes. Só em 2014 tivemos Divergente (que rendeu dinheiro o suficiente para que suas continuações sejam preparadas), O Doador de Memórias e agora este Maze Runner: Correr ou Morrer, baseado no primeiro livro da trilogia escrita por James Dashner.

Roteirizado a seis mãos por Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers e T.S. Nowlin (todos estreantes na função), Maze Runner acompanha o jovem Thomas (Dylan O’Brien), que repentinamente acaba indo parar em um lugar conhecido como Clareira, uma espécie de acampamento no qual dezenas de garotos ficam presos cercados por um enorme labirinto, sem lembrar de seu passado ou de como e por que foram enviados para lá. Todos têm a esperança de encontrar a saída através do labirinto, algo que àqueles que têm permissão para entrar nele (os chamados Corredores), como Gally (Will Poulter) e Minho (Ki Hong Lee), procuram há tempos sem sucesso. No entanto, Thomas promete pôr à prova as chances de todos escaparem de lá, sendo que as coisas ficam mais estranhas com a chegada de Teresa (Kaya Scoledario), a primeira menina a vir para a Clareira.

Logo de cara Maze Runner lembra de certa maneira O Senhor das Moscas, com seus personagens buscando sobreviver de um jeito quase primitivo, inclusive formando suas próprias regras para convivência. E não deixa de ser uma surpresa ver que a história tenha um tom mais sombrio quando comparada com as de outros filmes do tipo, algo que o diretor Wes Ball (estreante em longas-metragens) abraça sem medo. Ball, aliás, também consegue criar uma atmosfera de suspense interessante em volta do mistério em volta da Clareira e o labirinto, que ganham uma aparência pós-apocalítica graças ao design de produção e a fotografia com tons por vezes acinzentados de Enrique Chediak.

Mas se por um lado esse suspense é bem-vindo e necessário para a trama, por outro o filme vai ficando gradativamente desinteressante à medida que o roteiro revela quem está por trás da Clareira e por que os garotos vão para lá, sendo algo bobo demais. Não é à toa que o terceiro ato seja a parte mais fraca da produção. Além disso, Wes Ball pode até desenvolver eficientemente a atmosfera da história, mas mostra ser um diretor muito fraco em termos de cenas de ação, fazendo desse aspecto um dos mais problemáticos do filme ao não conseguir deixar clara a lógica visual e tentando ditar a tensão ao investir em cortes rápidos, mas isso apenas torna as cenas aborrecidas, como na sequência em que os monstros conhecidos como Verdugos atacam a Clareira.

Maze Runner ainda se prejudica não só ao seguir à risca sua fórmula, não se arriscando muito a fazer coisas novas dentro dela, mas também por ter diálogos muito óbvios. Dessa forma, quando o roteiro coloca personagens dizendo para Thomas “Não vá além dos muros” ou “Ninguém nunca sobreviveu a uma noite dentro do labirinto”, fica muito claro que o protagonista irá quebrar as regras do que acontece naquele universo, detalhe que impede que nos surpreendamos com seus feitos. Isso é até uma pena considerando que o jovem Dylan O’Brien surpreende ao trazer carisma e segurança ao papel.

Se levarmos em conta a atual mania dos estúdios de dividir o capítulo final de uma série literária em dois filmes, é provável que Maze Runner ganhe três continuações caso faça sucesso. Se forem realizadas, esperemos que sejam um pouco melhores do que este primeiro filme, ou essa será apenas mais uma saga que passará batida, sem deixar uma marca relevante.

Nota:


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