terça-feira, 30 de setembro de 2014

Os Boxtrolls

Coraline e o Mundo Secreto e ParaNorman. Como podem ver, o currículo de longas-metragens do estúdio Laika ainda é bem curto, mas já o estabelece como uma empresa de animação em stop-motion que vem merecendo destaque nos últimos anos. Ambos os filmes, de um jeito ou de outro, não só souberam ser ótimos entretenimentos, mas também demonstraram confiança em seu público-alvo e não temeram dar toques mais sombrios para suas histórias. Agora o estúdio volta aos cinemas com este Os Boxtrolls, baseado no livro infantil de Alan Snow.

Escrito por Irena Brignull e Adam Pava, o filme nos apresenta aos Boxtrolls do título, pequenas criaturas que vivem em uma comunidade nos subterrâneos da cidade de Pontequeijo e se vestem com caixas de papelão, saindo à noite para vasculhar os lixos atrás de algo que lhes tenha valor. Mas, por mais inofensivos que sejam, a população os vê como monstros perigosíssimos. Por esse motivo, o lorde Portley-Rind aceita contratar os serviços de Arquibaldo Surrupião, que quer dar um fim nos Boxtrolls em troca de assumir uma posição entre os grandes degustadores de queijo, mesmo sendo alérgico a isso. Para ajudá-los na luta contra Surrupião, os Boxtrolls contam com a ajuda do jovem Ovo, que foi criado na comunidade desde bebê e conhece a verdadeira natureza deles como ninguém, além de Winnie Portley-Rind, a filha do lorde.
O filme consegue quase que imediatamente fazer com que o público simpatize com os Boxtrolls, e não por eles serem engraçadinhos, embora essa característica se faça presente, mas, sim, por se mostrarem bondosos e inventivos. É algo que os diretores Graham Annable e Anthony Sacchi tratam de deixar evidente na adorável relação deles com Ovo e no design de produção do lar subterrâneo, formado de maneira incrivelmente funcional pelos objetos que pegam nas ruas. Por nos importarmos com os Boxtrolls, os momentos em que Surrupião sequestra alguns deles se revelam bem melancólicos, e é notável a impotência sentida por todos diante da situação, em especial a de Ovo.
Já que mencionei o design de produção, vale dizer que o visual de Os Boxtrolls é sensacional, característica comum nas obras da Laika. Isso aparece não só no já citado lar dos personagens, mas também na própria Pontequeijo, com seu jeito obscuro à noite e rico em cores à tarde, além da enorme mansão do Lorde Portley-Rind e da suja e desorganizada casa de extermínio de Surrupião. Para completar, é bacana ver a atenção que os diretores dão a pequenos detalhes da animação, como quando Ovo engole o choro ao ver um Boxtroll ser pego, o que torna a técnica do stop-motion ainda mais expressiva.
Mas, apesar dessas virtudes, Os Boxtrolls se prejudica um pouco por não ter uma história das mais originais. Seu plot, com os personagens-título sendo figuras boas ao invés de monstruosas como todos pensam, lembra àquele visto, por exemplo, em Como Treinar o Seu Dragão. No entanto, o principal problema do filme é o fato dele ter coragem de dar tons mais pesados à sua história (como no flashback que explica como Ovo foi parar nas mãos dos Boxtrolls), mas ser um tanto covarde ao não manter ao menos uma parte disso até o final. Dessa forma, o roteiro traz reviravoltas meio forçadas, que funcionam apenas graças ao carisma de seus protagonistas, mas não faria mal algum caso um pouquinho de escuridão fosse mantido no final das contas.
Assim, Os Boxtrolls não chega a ser um trabalho tão interessante quanto os outros realizados pela mesma produtora. Mas ainda se mostra capaz de se sustentar como uma animação simpática e que é um deleite para os olhos do espectador, fazendo o suficiente para render um entretenimento agradável.
Nota:

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