sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Annabelle

No início do ótimo Invocação do Mal, víamos o casal Ed e Lorraine Warren concluindo o caso da boneca Annabelle, o que em parte servia para apresentar os personagens para o público. Mas toda a história envolvendo a boneca é famosa entre os casos ditos sobrenaturais, tendo potencial para ganhar um filme. Considerando o sucesso de Invocação do Mal, não é surpresa ver isso acontecer neste spin-off, Annabelle, que se revela capaz de render alguns bons sustos, apesar de não ser grandes coisas.

Escrito por Gary Dauberman, Annabelle se passa no fim da década de 1960 e nos apresenta ao jovem casal John e Mia Gordon (Ward Horton e Annabelle Wallis, respectivamente), que estão esperando seu primeiro filho. Na noite em que John presenteia Mia com a boneca de porcelana que faltava para ela completar sua coleção, eles são atacados pela filha de seus vizinhos e o namorado dela, que fazem parte de um culto satânico e são mortos antes de conseguirem fazer algo devastador. Por Mia ter visto a garota morrer enquanto segurava sua boneca, ela decide se desfazer do presente, mas isso não se mostra tão fácil e coisas assombrosas passam a infernizar ela, John e o bebê que vem a nascer pouco tempo depois.

Em um comentário óbvio, há de se ressaltar que a pessoa que compra uma boneca feia como essa vista no filme basicamente está pedindo para ser amaldiçoada. Mas é verdade que temos que compreender que se uma boneca de pano bonitinha fosse usada (e a Annabelle do caso real no qual a história se baseia segue esse estilo), isso certamente não teria um efeito tão eficiente em uma produção que pretende assustar o público. Liberdades criativas à parte, Annabelle se prejudica ao se sustentar demais em clichês, diferente de Invocação do Mal, que soube usar esses detalhes a seu favor. Assim, é fácil se cansar da mania que Mia tem de ficar sozinha em casa com o bebê e as assombrações enquanto John trabalha, além dos momentos em que ela anda por um lugar pouco iluminado.

Enquanto isso, a história desenvolvida pelo roteiro não é das melhores, sendo que às vezes ele soa óbvio, como quando os personagens passam a tentar descobrir o que as presenças demoníacas realmente querem. Aliás, para uma produção que parece se rodear em volta da boneca Annabelle, ela é a figura menos utilizada para causar as assombrações, e o roteiro parece ter noção disso, lembrando-se dela pontualmente para poder seguir sua premissa de boneca amaldiçoada. Para completar, o filme tem diálogos muito expositivos que mastigam a trama para o espectador, usando para isso principalmente a bibliotecária vivida por Alfre Woodard, e também conta com outras falas que parecem ter saído de um livro de autoajuda, sendo proferidas pelo Padre Perez interpretado por Tony Amendola.

Mesmo assim, o cineasta John R. Leonetti ainda consegue criar uma atmosfera de tensão que mantém o espectador envolvido no filme durante a maior parte do tempo, o que se deve até a expectativa que ficamos com relação aos sustos. Nesse aspecto, por sinal, Leonetti não chega a causar tantos pulos na cadeira, mas os poucos que ocorrem são bem-vindos e até divertem dentro do gênero (destaque para a cena em que uma criança corre em direção a Mia). E apesar de Annabelle Wallis e Ward Horton são serem tão talentosos, eles ao menos têm carisma o suficiente para que possamos nos importar com o destino de seus personagens.

Trazendo ainda uma resolução meio covarde para sua história, Annabelle é um spin-off que certamente não chega a ser tão bom quanto Invocação do Mal. Mas ao menos se estabelece como um passatempo interessante com sua premissa. O que não deixa de ser lucro levando em conta que o filme foi feito mais para aproveitar o sucesso recente de seu original.

Nota:


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