quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Drácula: A História Nunca Contada

No início do ano, Frankenstein: Entre Anjos e Demônios trouxe o monstro criado por Mary Shelley de volta às telonas em uma releitura pobre tanto em conteúdo quanto em sua execução, o que certamente deu desgosto à maioria dos fãs do personagem. No entanto, figuras clássicas da literatura e do cinema de terror são fontes inesgotáveis de ideias, e agora chegou a vez do maior vampiro de todos retornar em uma produção que mostra uma versão alternativa da sua origem. Mas apesar de mais suportável que o filme de Frankenstein, Drácula: A História Nunca Contada infelizmente também se revela uma obra descartável.

Escrito pelos estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless, Drácula: A História Nunca Contada acompanha a rotina do príncipe de Transilvânia, Vlad Tepes (Luke Evans), que vive o mais tranquilamente possível ao lado da esposa Mirena (Sarah Gadon) e do filho Ingeras (Art Parkinson) enquanto tenta manter a paz entre seu reino e o do povo turco, liderado pelo sultão Mehmed (Dominic Cooper). Mas quando ele se recusa a ceder mil garotos, incluindo seu filho, para serem treinados pelos turcos, Mehmed declara guerra. Sabendo que seus exércitos não são páreos para as forças adversárias, Vlad decide ir até o monstruoso Vampiro Mestre (Charles Dance), que lhe concede temporariamente a força sobre-humana de uma criatura da noite, mas com o aviso de que permanecerá assim para sempre caso sacie sua sede por sangue.
A princípio, o conceito da criação deste Drácula poderia render algo interessante, mas o modo como é desenvolvido se revela bobo e trôpego em seus clichês. Tudo se junta em uma narrativa rasa, que somada à previsibilidade da trama o impede de ser minimamente envolvente. Além disso, ao trazer um prólogo que mostra brevemente alguns detalhes que veremos ao longo da projeção (“spoilers”?), o roteiro evidencia a estrutura problemática que concebe para contar sua história.
Enquanto isso, o diretor Gary Shore (outro estreante) não dá sinais de ser um realizador dos mais talentosos. Sem conseguir impor um bom ritmo em sua narrativa, piora a situação ao conduzir as cenas de batalha de maneira burocrática e, por vezes, confusa, investindo em vários cortes rápidos e desnecessários. Outro ponto problemático é a fotografia escura de John Schwartzman (por causa disso, aliás, é um alívio que o filme não tenha sido convertido para 3D). E por Shore ter em mãos um personagem que usa seus poderes para arrasar exércitos inteiros sem nenhuma ajuda, a ação fica cansativa rapidamente, sem falar que por mais que a sede por sangue pareça enfraquecer Vlad, esse detalhe não chega a ser utilizado a ponto de torná-lo vulnerável.
Se isso de certa forma já prejudica o protagonista, o fato de ter Luke Evans como intérprete não melhora as coisas, considerando que o ator não é muito expressivo e não consegue fazer de Vlad uma figura cativante o suficiente para que possamos nos importar com ele durante o filme. Já sua companheira de cena Sarah Gadon (uma das gratas surpresas do excepcional O Homem Duplicado) pouco tem a fazer com Mirena, ao passo que Dominic Cooper encarna Mehmed como uma mera caricatura. Mas há um ponto positivo no elenco, e este se chama Charles Dance (o Tywin Lannister, da série Game of Thrones), que tem uma bela presença em seus poucos minutos em cena como o Vampiro Mestre. Não à toa a melhor cena do filme é exatamente aquela em que este transforma Vlad em vampiro, promovendo até alguns bons diálogos entre os personagens.
Com tantas obras admiráveis por aí envolvendo este monstro clássico, Drácula: A História Nunca Contada entra no grupo de produções que não acrescentam muita coisa à mitologia do personagem. É um detalhe curioso tendo em vista o próprio subtítulo do filme. Nesse sentido, talvez “A História Que Não Precisava Ser Contada” fosse mais apropriado.
Nota:

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