sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O Apocalipse

Como foi comentado na crítica do recente Fúria, Nicolas Cage dedica uma boa parte de seu tempo a filmes que não tem muita ambição artística. É como se o ator estivesse, basicamente, atrás de um cheque que pague suas contas. No entanto, às vezes ele se supera na escolha desses projetos, fazendo jus à fama de que topa qualquer coisa. O Apocalipse é um bom exemplo disso, afinal, temos aqui uma produção que falha nos mais diversos sentidos.

Servindo como reboot no cinema para a série literária Deixados Para Trás (que ganhou uma trilogia de filmes entre 2000 e 2005), O Apocalipse mostra o fim dos tempos seguindo o conceito do Arrebatamento, que diz que os únicos indivíduos dignos de salvamento são àqueles que acreditam em Deus. Assim, em um dia aparentemente comum, milhões de pessoas simplesmente desaparecem, deixando o restante da população em um verdadeiro caos. Nisso, somos apresentados ao piloto Rayford Steele (Cage), que busca manter a calma entre os passageiros de seu avião e descobrir o que está acontecendo. Para isso, ele contará com a ajuda do jornalista investigativo Cameron Williams (Chad Michael Murray). Já a filha de Rayford, Chloe (Cassi Thomson), está em busca do irmão, Raymie (Major Dodson), e da mãe, Irene (Lea Thompson), que estão entre os desaparecidos.
O Apocalipse passa seus primeiros minutos apresentando os personagens e seus dramas pessoais. Eles, no entanto, se revelam tão aborrecidos e estúpidos que é difícil se importar com qualquer um ao longo da projeção – e o fato de termos um péssimo elenco em cena não melhora as coisas. Cage, por exemplo, surge tão no piloto automático que é uma surpresa não o encontrarmos dormindo em certos momentos. Consequentemente, o diretor falha em todas as suas tentativas de tornar a narrativa intrigante, se mostrando inábil em criar qualquer tipo de tensão. Vic Armstrong, na verdade, revela ser um realizador que não sabe o que fazer com a câmera, já que não é raro vermos cenas um tanto desengonçadas tecnicamente, como quando Chloe usa um carro para limpar a pista. Sem falar que, ao menos num ponto de vista estético, o filme é simplesmente decepcionante, com efeitos visuais capengas dignos de produções trash.
Se esses aspectos já seriam suficientes para colocar O Apocalipse entre os piores do ano, ele ainda encontra problemas na forma como o roteiro trata a discussão envolvendo religião. É algo que soa bobo tanto na base da história com o Arrebatamento (que poderia ser interessante caso houvesse uma crítica bem construída à intolerância que esse conceito traz) quanto nas conversas que os personagens têm sobre suas crenças. Aliás, tais conversas são inseridas de um jeito forçado pelo roteiro, evidenciando a pobreza com relação ao desenvolvimento da história. Além disso, Armstrong parece achar que o público tem dificuldade para perceber a natureza religiosa do filme, focando constantemente em Bíblias e certas passagens para ressaltar como isso é um detalhe importante.
Em determinado momento de O Apocalipse, um personagem diz que todo o caos foi apenas o começo. Se esse começo já foi torturante, prefiro não imaginar como será o resto. E é triste ver um ator talentoso como Nicolas Cage protagonizando uma porcaria deste nível.
Nota:

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