sexta-feira, 6 de março de 2015

Kingsman: Serviço Secreto

Um dos grandes talentos britânicos que surgiram na década passada, o diretor Matthew Vaughn tem meio que se especializado em adaptações de histórias em quadrinhos, com seus três últimos projetos nascendo nessa mídia. O que é interessante notar, porém, é como seu trabalho é admirável dentro desse subgênero. Enquanto o ótimo Kick-Ass trazia heróis inusitados numa narrativa divertidamente absurda, o excepcional X-Men: Primeira Classe fez jus aos personagens e às discussões sociais que fazem aquela franquia ser tão fascinante. Já este Kingsman: Serviço Secreto lembra Kick-Ass ao brincar com elementos de um subgênero específico (dessa vez são os filmes de espionagem), resultando em um entretenimento eficiente e cativante.

Escrito por Vaughn e por sua parceira habitual Jane Goldman a partir dos quadrinhos de Mark Millar (de Kick-Ass) e Dave Gibbons (de Watchmen), Kingsman nos apresenta a Gary “Eggsy” Unwin (Taron Egerton), um jovem que faz o tipo rebelde que só se mete em confusão. Ao escapar de ser preso graças à ajuda de Harry “Galahad” Hart (Colin Firth), ele descobre que seu pai era membro da agência de espionagem Kingsman, tendo morrido durante uma missão. É então que depois da morte de outro colega, Galahad recruta Eggsy para que este dispute a vaga dentro da organização junto com outros jovens aspirantes, enquanto que o bilionário Richmond Valentine (Samuel L. Jackson) tem planos que podem colocar o mundo em risco.

Quer dizer, é uma história que mescla uma série de elementos bastante comuns, seja a relação entre mestre e aprendiz, o vilão megalomaníaco que quer acabar com o mundo ou até mesmo a competição para ver quem vai se tornar o novo agente de Kingsman. Isso sem falar na capanga com habilidades letais ou nos acessórios de tecnologia avançada usados pelos personagens. No entanto, o roteiro consegue ser subversivo nesse sentido, dando um ar de frescor a seu material, sendo que ao mesmo tempo ele não deixa de prestar homenagem a filmes de espionagem famosos, como os da franquia 007 ou os da série protagonizada por Harry Palmer, personagem interpretado por Michael Caine. Caine que, aliás, aparece aqui no papel de Arthur, grande chefe da Kingsman, em um casting inspirado do filme.

Falando em casting inspirado, é impossível não destacar o ótimo elenco do projeto. A começar por Colin Firth, ator que nunca imaginaríamos fazendo um personagem de ação como Galahad, e exatamente por isso ele acaba sendo mais interessante do que seria caso fosse interpretado por alguém conhecido dentro do gênero. Firth traz cavalheirismo e elegância por trás do jeito um tanto frio de Galahad, de forma que isso contrasta brilhantemente com a rapidez com que ele age quando entra em ação. E se Mark Strong aproveita seu agente Merlin para mostrar que seu talento não está restrito apenas a antagonistas, Samuel L. Jackson surpreende ao encarnar Valentine como um sujeito quase inofensivo com sua língua presa e horror a violência, fazendo dele um vilão muito divertido. Mas a grande revelação de Kingsman é mesmo o jovem Taron Egerton, que encarna Eggsy com carisma e determinação, se saindo particularmente bem no arco dramático do personagem, que inicia como um rebelde e gradativamente se torna um agente seguro daquilo que deseja, chegando até a pegar certos maneirismos de Galahad, e os figurinos também ressaltam muito bem essa transformação.

Enquanto isso, Matthew Vaughn merece aplausos por encontrar equilíbrio entre o tom descontraído do projeto e sua violência cartunesca, que inclui corpos partidos ao meio e membros sendo decepados, detalhes que já havíamos visto de um jeito ou de outro em Kick-Ass. Mas o trabalho de Vaughn também é admirável quando o assunto são as empolgantes cenas de ação, que são conduzidas freneticamente, com direito até a planos mais longos onde a câmera se mexe rapidamente ao seguir os personagens, mas sempre deixando claro para o espectador o que está acontecendo. Nesse aspecto, a briga que ocorre em um bar, a sequência da igreja e o terceiro ato que se passa todo no esconderijo de Valentine representam alguns dos melhores momentos do filme.

Ao final de Kingsman, fica a ideia de Matthew Vaughn não só fez mais um belo filme como também pode ter dado início a uma franquia interessante. Os personagens e o universo no qual estão inseridos certamente têm potencial para render novas e divertidas aventuras.

Obs.: Há uma breve cena pouco depois do início dos créditos finais.

Nota: