sábado, 19 de dezembro de 2015

Star Wars: O Despertar da Força

Quando a Disney comprou a Lucasfilm e anunciou uma nova trilogia de Star Wars, a curiosidade com relação ao que viria a ser feito veio com certa facilidade, mas não sem um pouco de receio considerando que a última vez em que a saga esteve tão badalada foi antes de A Ameaça Fantasma, que decepcionou a maior parte dos fãs. No entanto, este tão aguardado sétimo exemplar, O Despertar da Força, faz com que quaisquer receios fiquem de lado durante suas pouco mais de duas horas de duração. Mesmo sem o envolvimento de George Lucas, que passa o bastão para J.J. Abrams, o filme rende uma experiência que faz jus ao que a série tem de melhor, além de colocar à prova o carinho que ela conquistou por parte do público ao longo dos anos.

Com roteiro escrito pelo próprio Abrams e Lawrence Kasdan (veterano da franquia, tendo escrito o melhor episódio, O Império Contra-Ataca) em parceria com Michael Arndt, O Despertar da Força tem uma trama bem simples. Tanto a Resistência liderada por Leia Organa (Carrie Fisher) quanto os membros da Primeira Ordem, que surgiu das cinzas do Império e ameaça a paz na galáxia (consequentemente anulando o final feliz de O Retorno de Jedi), estão à procura de Luke Skywalker (Mark Hamill). O dróide BB-8 é quem carrega a informação sobre onde estaria o Jedi, e ele tem a ajuda da jovem Rey (Daisy Ridley) e do stormtrooper desertor Finn (John Boyega) para chegar até a Resistência, arrastando a dupla para o meio do conflito intergaláctico.

Estruturalmente O Despertar da Força em vários momentos apenas repete o que foi feito em Uma Nova Esperança, como se os roteiristas tivessem pegado a fórmula usada naquele filme e decidido tocar em cada um de seus pontos principais. Por um lado, isso mostra uma certa falta de criatividade, mas por outro não deixa de ser uma maneira segura de nos reintroduzir naquele universo e dar partida na história que acompanharemos nessa nova trilogia. De um jeito ou de outro, felizmente J.J. Abrams (um diretor que vem se especializando em dar novo gás a franquias já estabelecidas, vide Missão Impossível e Star Trek) consegue fazer com que a fórmula funcione novamente. O filme jamais deixa de ser cativante e envolvente, já que o que ele apresenta e desenvolve durante a trama não só é interessante como também tem um peso dramático admirável e, por vezes, surpreendente, expandindo maravilhosamente o universo que conhecíamos.

Por sinal, em termos de elementos que são apresentados, é impossível não destacar os novos personagens. Partindo da forte dupla central formada por Rey e Finn (vividos com carisma e segurança por Daisy Ridley e John Boyega), passando pelo piloto Poe Dameron (que Oscar Isaac encarna com o grande talento que tem mostrado nos últimos anos), pelo complexo vilão Kylo Ren (o excelente Adam Driver), pelo diabólico General Hux (o ótimo Domhnall Gleeson) e chegando finalmente a figuras menores como Maz Kanata (Lupita Nyong’o) e o adorável BB-8, todos mostram potencial para se tornarem tão icônicos quanto Luke, Leia, Han Solo, Obi-Wan Kenobi, Darth Vader, Yoda e vários outros. E um dos pontos fortes de O Despertar da Força é exatamente a forma como eles interagem com os personagens clássicos, sendo ótimo que estes retornem por serem importantes para a trama e para o crescimento dessas novas figuras. O próprio filme tem noção da força desses personagens, exibindo um enorme respeito por eles, e revê-los traz sim arrepios inevitáveis, como quando Han Solo e Chewbacca entram na Millennium Falcon ou a primeira aparição de Leia (e é bacana ver intérpretes como Harrison Ford e Carrie Fisher voltarem confortavelmente aos papeis que marcaram/alavancaram suas carreiras).

Com uma série de sacadas divertidas (a resposta de BB-8 a Finn em determinado momento é hilária) e sequências de ação espetaculares, conduzidas com energia por Abrams, O Despertar da Força é irrepreensível quando o assunto é manter o público entretido. E vale dizer que isso é feito sem prejudicar a sensibilidade de momentos mais impactantes, e uma cena específica acaba chamando mais atenção nesse aspecto. Para completar, como todo exemplar de Star Wars, o filme é tecnicamente impecável. Enquanto o design de produção de Rick Carter e Darren Gilford é hábil na recriação desse universo e na concepção de novos cenários (como o escasso planeta Jakku e a sede da Primeira Ordem), a montagem da dupla Maryann Brandon e Mary Jo Markey mantém um ritmo ágil durante toda a narrativa, além de trazer as transições de cena típicas da saga, ao passo que a belíssima trilha de John Williams é praticamente a cereja do bolo para que o longa tenha o espírito da franquia.

Assim como Uma Nova Esperança e A Ameaça Fantasma, O Despertar da Força solta só uma faísca com relação ao que pretende contar ao longo de sua trilogia, servindo basicamente para apresentar peças que certamente ganharão maior aprofundamento nos próximos filmes. Mas é uma faísca empolgante, encantadora e tocante, que prova que a saga ainda tem condições de contar belas histórias mesmo depois de quase 40 anos, de forma que rever esses personagens e saber o que o destino lhes reserva é algo que mal posso esperar.

Nota:


Nenhum comentário: