Quando a Disney comprou a
Lucasfilm e anunciou uma nova trilogia de Star
Wars, a curiosidade com relação ao que viria a ser feito veio com certa
facilidade, mas não sem um pouco de receio considerando que a última vez em que
a saga esteve tão badalada foi antes de A
Ameaça Fantasma, que decepcionou a maior parte dos fãs. No entanto, este
tão aguardado sétimo exemplar, O
Despertar da Força, faz com que quaisquer receios fiquem de lado durante
suas pouco mais de duas horas de duração. Mesmo sem o envolvimento de George
Lucas, que passa o bastão para J.J. Abrams, o filme rende uma experiência que
faz jus ao que a série tem de melhor, além de colocar à prova o carinho que ela
conquistou por parte do público ao longo dos anos.
Com roteiro escrito pelo próprio
Abrams e Lawrence Kasdan (veterano da franquia, tendo escrito o melhor episódio,
O Império Contra-Ataca) em parceria
com Michael Arndt, O Despertar da Força
tem uma trama bem simples. Tanto a Resistência liderada por Leia Organa (Carrie
Fisher) quanto os membros da Primeira Ordem, que surgiu das cinzas do Império e
ameaça a paz na galáxia (consequentemente anulando o final feliz de O Retorno de Jedi), estão à procura de
Luke Skywalker (Mark Hamill). O dróide BB-8 é quem carrega a informação sobre
onde estaria o Jedi, e ele tem a ajuda da jovem Rey (Daisy Ridley) e do stormtrooper desertor Finn (John Boyega)
para chegar até a Resistência, arrastando a dupla para o meio do conflito intergaláctico.
Estruturalmente O Despertar da Força em vários momentos
apenas repete o que foi feito em Uma
Nova Esperança, como se os roteiristas tivessem pegado a fórmula usada
naquele filme e decidido tocar em cada um de seus pontos principais. Por um
lado, isso mostra uma certa falta de criatividade, mas por outro não deixa de
ser uma maneira segura de nos reintroduzir naquele universo e dar partida na
história que acompanharemos nessa nova trilogia. De um jeito ou de outro, felizmente
J.J. Abrams (um diretor que vem se especializando em dar novo gás a franquias
já estabelecidas, vide Missão Impossível
e Star Trek) consegue fazer com que a
fórmula funcione novamente. O filme jamais deixa de ser cativante e envolvente,
já que o que ele apresenta e desenvolve durante a trama não só é interessante
como também tem um peso dramático admirável e, por vezes, surpreendente,
expandindo maravilhosamente o universo que conhecíamos.
Por sinal, em termos de elementos
que são apresentados, é impossível não destacar os novos personagens. Partindo
da forte dupla central formada por Rey e Finn (vividos com carisma e segurança por
Daisy Ridley e John Boyega), passando pelo piloto Poe Dameron (que Oscar Isaac
encarna com o grande talento que tem mostrado nos últimos anos), pelo complexo
vilão Kylo Ren (o excelente Adam Driver), pelo diabólico General Hux (o ótimo Domhnall
Gleeson) e chegando finalmente a figuras menores como Maz Kanata (Lupita Nyong’o)
e o adorável BB-8, todos mostram potencial para se tornarem tão icônicos quanto
Luke, Leia, Han Solo, Obi-Wan Kenobi, Darth Vader, Yoda e vários outros. E um dos pontos
fortes de O Despertar da Força é
exatamente a forma como eles interagem com os personagens clássicos, sendo
ótimo que estes retornem por serem importantes para a trama e para o
crescimento dessas novas figuras. O próprio filme tem noção da força desses
personagens, exibindo um enorme respeito por eles, e revê-los traz sim arrepios
inevitáveis, como quando Han Solo e Chewbacca entram na Millennium Falcon ou a
primeira aparição de Leia (e é bacana ver intérpretes como Harrison Ford e
Carrie Fisher voltarem confortavelmente aos papeis que marcaram/alavancaram
suas carreiras).
Com uma série de sacadas divertidas
(a resposta de BB-8 a Finn em determinado momento é hilária) e sequências de ação
espetaculares, conduzidas com energia por Abrams, O Despertar da Força é irrepreensível quando o assunto é manter o
público entretido. E vale dizer que isso é feito sem prejudicar a sensibilidade
de momentos mais impactantes, e uma cena específica acaba chamando mais atenção
nesse aspecto. Para completar, como todo exemplar de Star Wars, o filme é tecnicamente impecável. Enquanto o design de
produção de Rick Carter e Darren Gilford é hábil na recriação desse universo e
na concepção de novos cenários (como o escasso planeta Jakku e a sede da
Primeira Ordem), a montagem da dupla Maryann Brandon e Mary Jo Markey mantém um
ritmo ágil durante toda a narrativa, além de trazer as transições de cena típicas
da saga, ao passo que a belíssima trilha de John Williams é praticamente a
cereja do bolo para que o longa tenha o espírito da franquia.
Assim como Uma Nova Esperança e A
Ameaça Fantasma, O Despertar da
Força solta só uma faísca com relação ao que pretende contar ao longo de sua
trilogia, servindo basicamente para apresentar peças que certamente ganharão maior
aprofundamento nos próximos filmes. Mas é uma faísca empolgante, encantadora e
tocante, que prova que a saga ainda tem condições de contar belas histórias
mesmo depois de quase 40 anos, de forma que rever esses personagens e saber o
que o destino lhes reserva é algo que mal posso esperar.
Nota:
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