quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Rocky IV

Interpretado por Sylvester Stallone, o boxeador Rocky Balboa se estabeleceu como um personagem icônico e inspirador. É um exemplo clássico do underdog que supera quaisquer adversidades e no fim das contas consegue sair vitorioso de alguma forma. Esse é um dos principais motivos porque até hoje é interessante acompanhar sua trajetória cinematográfica, desde Rocky: Um Lutador, vencedor do Oscar de Melhor Filme, até o recente Creed. Mas se existe um ponto baixo em tudo isso, este é Rocky IV, filme de maior bilheteria da série, mas que tropeça feio no fato do astro querer transformá-lo em um comentário político, buscando resumir infantilmente a Guerra Fria a uma luta de boxe.
Assumindo a função tripla de ator, diretor e roteirista (como ocorreu na maioria dos filmes da franquia), Stallone dessa vez coloca os soviéticos chegando aos Estados Unidos para mostrar como se tornaram uma força esportiva superior. Como prova, trazem o boxeador Ivan Drago (Dolph Lundgren) para entrar na liga profissional de boxe e lutar contra Rocky, o grande campeão americano. Antes, porém, Apollo Creed (Carl Weathers) decide testar o poder dos visitantes, organizando uma luta amistosa na qual apanha fatalmente de Drago. Determinado em seu desejo de vingar o amigo, uma ideia da qual nem mesmo sua amada Adrian (Talia Shire) consegue fazê-lo desistir, Rocky parte para a União Soviética a fim de encarar seu maior desafio.
A abertura de Rocky IV, onde vemos duas luvas com as bandeiras de Estados Unidos e União Soviética explodindo ao se chocarem, já sintetiza bem o filme e os objetivos de Sylvester Stallone ao longo da narrativa. O problema é que o diretor mostra uma visão puramente unidimensional e maniqueísta, como se vê, por exemplo, nas sequências de treinamento, quando Rocky aparece se preparando naturalmente e se esforçando de maneira mais digna enquanto Ivan Drago treina com a ajuda de máquinas e anabolizantes. Stallone basicamente põe na tela exatamente o que a esposa de Drago, Ludmilla (Bridgette Nielsen), questiona em determinado momento: os americanos são os bons enquanto os soviéticos são os maus. Aliás, mais do que maus, desumanos. Não à toa, Drago é desenvolvido pelo roteiro praticamente como um robô pronto para matar, e a inexpressividade de Dolph Lundgren somada ao tom monocórdico com o qual ele profere suas pouquíssimas falas só aponta isso ainda mais.
Na verdade, a preocupação de Stallone em deixar clara a visão política do filme (ou melhor, dele próprio) parece ser maior do que sua vontade de desenvolver a história. Para isso, recorre várias vezes a montagens musicais preguiçosas e que dão um peso dramático artificial a narrativa. E falando na parte musical, há de se ressaltar que a trilha de Vince DiCola nem se compara aos temas de Bill Conti (que na época estava ocupado com Karate Kid), algo que vale também para as canções, que parecem tentar emular sucessos como “Gonna Fly Now” e “Eye of the Tiger”, mas sem o mesmo efeito. Para completar, Stallone até perde a noção do ridículo, como na apresentação extravagante de Apollo antes de sua luta com Drago, sequência que busca refletir a personalidade do amigo do protagonista, mas faz isso de um jeito constrangedoramente exagerado.
Se podemos dizer que Rocky IV funciona em alguns momentos, isso acontece quando resolve se concentrar no lado humano de seus personagens, como nas discussões entre Rocky e Apollo ou em uma declaração de Paulie (vivido com sua costumeira rabugice por Burt Young) pouco antes da luta final, sendo que a tensão no ringue ainda ganha alguma intensidade graças a seu teor pessoal. Uma pena que tudo acabe perdendo espaço para ideias pobres, que fazem o filme desviar do espírito da franquia e encerrar num discurso moralista bobo devido ao contexto narrativo no qual é inserido. Por sorte, é preciso mais do que um longa como esse para manchar o legado do grande Rocky Balboa.
Nota:

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