quinta-feira, 26 de maio de 2016

A Caçada do Futuro

(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)

Produção que faz parte da onda de Ozploitation, como ficou conhecido o exploitation australiano que surgiu na década de 1970, A Caçada do Futuro à primeira vista parece ter um foco interessante, ainda que não deixe de ser uma mescla de coisas que podem ser vistas em outras obras. Apresentando um futuro distópico, o longa de Brian Trenchard-Smith traz uma história clássica de pessoas que lutam contra um regime totalitário opressivo. Mas por mais interessante que isso possa ser (afinal, várias produções marcantes partem dessa premissa), o filme encontra problemas em sua execução frouxa.

Escrito por Jon George e Neill D. Hicks, A Caçada do Futuro mostra que qualquer um que represente uma ameaça ao governo ou não se encaixe em seus ideais é preso e levado a um acampamento, onde terá seu comportamento corrigido. Os novos membros do lugar são o rebelde Paul Anders (Steve Railsback), a lojista Chris Walters (Olivia Hussey), que bateu de frente com a polícia ao ajudar um suposto criminoso, e Rita Daniels (Lynda Stoner), suspeita de ser uma prostituta. Tendo de enfrentar os abusos dos guardas e seus superiores, o trio eventualmente ganha do chefe do acampamento, Charles Thatcher (Michael Craig), a chance de ser libertado caso sobrevivam a um jogo covarde no qual serão caçados por indivíduos ricos que apoiam o sistema.

Iniciando o filme com uma série de imagens de protestos nos quais vemos a população ser violentamente repreendida por forças policiais, Brian Trenchard-Smith já estabelece eficientemente o tipo de universo no qual estamos entrando. Nesse sentido, aliás, o longa parece ser levemente influenciado por 1984, tendo até um lema parecido com o do Grande Irmão da obra de George Orwell (aqui, “Liberdade é Obediência, Obediência é Trabalho, Trabalho é Vida”). No entanto, apesar de lidar com um material político forte, o objetivo maior do filme não é tanto dar espaço para discussões desse tipo, mas sim explorar o embate entre o sadismo do lado governista da trama e a ânsia por liberdade dos rebeldes.

É para isso que serve a caçada mortal que rege quase toda a segunda metade da história, o que no fim oferece mais problemas do que êxitos. O roteiro, por exemplo, desenvolve essa parte da trama seguindo uma fórmula batida (desde o início é possível prever mais ou menos a ordem das mortes que acontecem), enquanto que o gore e o jeito por vezes desajeitado da direção de Trenchard-Smith denotam a precariedade da produção, sendo capazes de render risos involuntários, algo até comum em produções B como essa. Além disso, o longa traz fracas atuações do elenco, que falha em criar personagens interessantes, e uma séria carência de tensão envolta do que acontece com eles, tirando qualquer peso que a narrativa pudesse ter.

É possível dizer que os problemas de A Caçada do Futuro fazem parte de sua moderada diversão, ainda que divertir talvez não fosse a intenção de Brian Trenchard-Smith quando ele e sua equipe levaram essa ideia para as telas. De um jeito ou de outro, o diretor acabou concebendo uma obra que é lembrada como uma pequena pérola do cinema australiano.

Nota: 

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