quinta-feira, 23 de junho de 2016

Independence Day: O Ressurgimento

Concebido pelo diretor Roland Emmerich e pelo produtor Dean Devlin, Independence Day pode ser um filme bobo, mas o que ele tem disso, ele também tem de divertido. Trazendo um elenco carismático liderado por Will Smith (que na época ainda estava rumo ao estrelato absoluto), Jeff Goldblum e Bill Pullman, aquele longa consegue manter o espectador entretido em meio a suas grandes cenas de destruição e algumas de suas cenas se tornaram clássicas (a destruição da Casa Branca e o monólogo motivacional de Pullman estão entre elas). Vinte anos se passaram e estamos agora diante de uma continuação, sendo até uma surpresa que tenha levado tanto tempo para ela ser feita, considerando que o primeiro filme foi a maior bilheteria de 1996. Mas Emmerich, Devlin e companhia agora tropeçam feio neste Independence Day: O Ressurgimento.

Independence Day 2 nos reintroduz a um universo que se revela uma continuação lógica de como as coisas ficaram ao final do primeiro filme, preferindo deixar a realidade de lado e apresentar uma visão até otimista com relação à humanidade. Desde o ataque alienígena, o mundo se encontra unido e sem ter vivido qualquer tipo de conflito, além de ter conseguido usar a tecnologia extraterrestre para montar um sistema de defesa e recuperar as cidades que foram destruídas. Mas a rixa entre humanos e alienígenas ressurge (como diz o título) quando estes dão início a um novo ataque, causando destruições ao redor do mundo, e figuras como David Levinson (Goldblum) e o ex-presidente Thomas Whitmore (Pullman) estão entre àqueles dispostos a ajudar a humanidade a sair vitoriosa mais uma vez.

Quando o roteiro inclui logo de cara uma daquelas sequências de sonho reveladoramente clichês, já podemos sentir que Independence Day 2 não seguirá um caminho dos melhores. E o que se vê é realmente um filme que se desenvolve de maneira pobre. Ficamos diante de uma trama tola, que é mastigada para o público através de diálogos expositivos (mais de uma vez ouvimos que o novo ataque é maior que o último e ainda vemos personagens recitando seus currículos para que saibamos quem eles são) e que nos apresenta a uma série de elementos desinteressantes ou descartáveis. O pai de David, Julius Levinson (Judd Hirsch, outro remanescente do elenco original), por exemplo, cuida de um grupo de jovens que, basicamente, servem apenas para que ele não fique sem ter o que fazer, já que eles não têm importância alguma para a história. Aliás, rever personagens do filme anterior pode até ser capaz de despertar a simpatia que havíamos criado por eles, mas isso infelizmente não compensa o fato de eles perderem espaço para figuras estreantes na história, como os pilotos Jake Morrison e Dylan Hiller, interpretados pelos inexpressivos Liam Hemsworth e Jessie Usher e que, de tão aborrecidos, tornam mais fácil torcer pelos alienígenas do que pelos humanos.

Enquanto isso, Roland Emmerich (que depois de Independence Day praticamente firmou sua carreira em cima de filmes-catástrofes, realizando Godzilla, O Dia Depois de Amanhã e 2012) conduz cenas de ação visualmente confusas, ao passo que as destruições causadas pelos alienígenas pouco impressionam (com exceção talvez da sequência em que vemos Londres ser arrebentada por uma onda gravitacional). Para completar, o diretor não consegue fazer com que esses momentos tenham algum peso, já que não há nenhum elemento humano com o qual o público possa se identificar em meio ao caos. Dessa forma, Emmerich só nos bombardeia com um amontoado de efeitos visuais, o que acaba não sendo o suficiente para sustentar a narrativa, por mais bem feitos que eles sejam.

Pessoas deixando diferenças de lado e se unindo para enfrentar algo maior do que elas certamente é uma visão interessante, e tanto Independence Day quanto essa continuação trazem isso em seu centro para formar o universo que acompanhamos. Mas é uma pena que dessa vez isso não renda um nível de diversão que possa impedir Independence Day 2 de ser uma obra desnecessária e facilmente esquecível.

Nota:

quinta-feira, 16 de junho de 2016

As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras

Uma das produções mais famosas protagonizadas pelas Tartarugas Ninja certamente é a divertida série animada que durou dez temporadas entre as décadas de 1980 e 1990, tendo sido responsável por boa parte da popularidade que os personagens ganharam ao longo dos anos. Pois é difícil não lembrar dessa animação durante este As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras, já que ela claramente foi a principal fonte de inspiração por trás da concepção do filme, que continua as aventuras dos heróis depois do fraco reboot lançado há dois anos.

Situado um ano depois do confronto com Destruidor (Brian Tee), As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras coloca Leonardo (Pete Ploszek), Raphael (Alan Ritchson), Michelangelo (Noel Fisher) e Donatello (Jeremy Howard) incomodados com o fato de terem que viver de maneira quase clandestina, o que inclui não poderem assumir os créditos por seus atos heroicos. Enquanto isso, o cientista Baxter Stockman (Tyler Perry) trabalha com o Clã do Pé e ajuda Destruidor a fugir da prisão. É quando este se alia ao alienígena Krang (Brad Garrett), que pretende montar uma grande máquina que abrirá um portal entre sua dimensão e a Terra, precisando encontrar as últimas peças escondidas no planeta. Mas é claro que as Tartarugas entram no caminho dos vilões, tendo a ajuda de sua amiga repórter April O’Neil (Megan Fox) e do policial adorador de hóquei Casey Jones (Stephen Amell), ao passo que Destruidor ganha o auxílio dos capangas Bebop e Rocksteady (Gary Anthony Williams e Stephen Farrelly, respectivamente).

A influência da série animada não se vê só no tom descontraído presente no filme (e que rege a maior parte das produções centradas nas Tartarugas Ninja), mas principalmente nos novos personagens que o roteiro de Josh Appelbaum e André Nemec traz para a história, como Bebop e Rocksteady, de forma que o filme dá a entender que está apostando na mais pura nostalgia para segurar as rédeas da narrativa. Mas vale dizer que isso não o faz escapar de uma série de clichês, como ao abordar o preconceito das pessoas com relação aos heróis (há uma cena na qual um personagem até solta a velha frase “As pessoas temem o que não entendem”) ou o conflito de eles não agirem como uma equipe e não aceitarem a si mesmos do jeito que são, aspectos que apenas tornam o filme previsível. Além disso, o roteiro constantemente mastiga a trama para o espectador com diálogos expositivos, chegando ao ponto de tentar explicar o porquê de uma mutação transformar humanos em animais específicos, como se houvesse uma razão plausível para isso (em compensação, os roteiristas nem mencionam como que as Tartarugas têm acesso a um avião em determinado momento, provando que só se preocupam com o que lhes é conveniente).

No entanto, Appelbaum e Nemec corrigem um detalhe do filme anterior, fazendo com que as próprias Tartarugas Ninja sejam as protagonistas e nossas âncoras emocionais ao longo da trama, empurrando April O’Neil para a posição de coadjuvante, algo que ajuda essa continuação, visto que o quarteto de heróis é infinitamente mais carismático do que a repórter, e vale dizer que o trabalho de performance capture que os concebe volta a se mostrar convincente. Os personagens humanos, aliás, não são muito interessantes, até por conta de terem intérpretes pouco expressivos como Megan Fox e Stephen Amell, enquanto Will Arnett como Vernon Fenwick não surge tão engraçado quanto deveria e Laura Linney (o nome de maior talento no elenco) é desperdiçada no papel da capitã de polícia Rebecca Vincent. Sem falar nos vilões nada ameaçadores e que descartam uns aos outros quando o roteiro precisa.

Mas mesmo com problemas claros, o filme conta com um ritmo cativante, algo que se vê até nas cenas de ação. Nesse quesito, a dinâmica dos protagonistas até rende alguma diversão, sendo que o diretor Dave Green concebe sequências que se não são particularmente empolgantes ou originais (o terceiro ato é quase uma cópia da Batalha de Nova York vista Os Vingadores), ao menos são bem elaboradas, visualmente compreensíveis e não atrapalham o ritmo da narrativa. Comparado ao trabalho de Jonathan Liebesman no filme anterior, isso acaba sendo uma evolução.

As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras não deixa de ser uma bobagem esquecível e criativamente pobre como o primeiro filme. Mas é uma continuação que acaba ganhando alguns pontos por funcionar como entretenimento e não cansar o público, evitando ser outro grande embaraço envolvendo seus personagens.

Nota:

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Invocação do Mal 2

Fazer um filme a partir dos casos paranormais que cruzaram o caminho de Ed e Lorraine Warren, usando o casal como uma dupla investigativa, é uma ideia interessante, e o diretor James Wan soube aproveita-la maravilhosamente em Invocação do Mal, um dos filmes de terror mais bem sucedidos dos últimos anos. Não é surpresa, portanto, que estejamos diante de Invocação do Mal 2, até porque a “sala de troféus” na casa dos Warren indica que essa ideia pode render uma longa franquia de terror, já tendo dois exemplares admiráveis que comprovam seu potencial.

Escrito pelos irmãos Carey e Chad Hayes (os mesmos roteiristas do filme anterior) em parceria com o próprio James Wan e David Leslie Johnson, Invocação do Mal 2 nos apresenta a Peggy Hodgson (Frances O’Connor) e seus quatro filhos, que moram humildemente em uma casa no bairro Enfield, em Londres. Entre as crianças temos a jovem Janet (Madison Wolfe), que passa a ser o principal alvo de atividades estranhas na casa, algo que eventualmente assombra a família toda. Com o caso chamando a atenção de vários lados, inclusive da mídia, Ed e Lorraine (novamente interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga) são chamados para ajudar os Hodgson, mesmo que estejam enfrentando alguns resquícios de sua última investigação, em Amityville (sim, exatamente o caso que já rendeu uma série de filmes).

Logo no início já podemos perceber que essa continuação basicamente apostará em tudo o que funcionou no longa anterior, como se vê na própria estrutura da trama, que apresenta os Warren em meio a um caso e depois acompanha as respectivas rotinas deles e dos Hodgson, entrelaçando-as até o ponto em que se encontram. Além disso, novamente nos deparamos com um plano-sequência no qual James Wan estabelece a dinâmica da família que está sendo assombrada, e até mesmo alguns sustos lembram o que havíamos visto anteriormente. Podemos até dizer que o filme é mais do mesmo, mas a verdade é que Wan consegue fazer com que todas essas coisas funcionem novamente, tornando perdoável qualquer familiaridade que tenhamos com o que é colocado na tela.

Ao mesmo tempo em que dedica uma boa parte do tempo para humanizar os personagens, James Wan é hábil ao usar detalhes como portas fechando com força, cadeiras e brinquedos se mexendo e a própria vulnerabilidade dos personagens para construir uma atmosfera de tensão crescente e angustiante, criando momentos formidáveis a partir disso, como a cena feita em plano longo e que acompanha a conversa de Ed com o fantasma da casa dos Hodgson. Ocasionalmente, fica a impressão de que estamos diante de um pesadelo, e a fotografia de Don Burgess contribui para isso ao apostar em um tom sombrio e congelante que ressalta muito bem o lado macabro da narrativa. No entanto, vale dizer que nada disso impede James Wan de trazer momentos divertidos e de pura leveza que não só aliviam um pouco a tensão, mas também nos aproximam ainda mais dos personagens, e o maior destaque nisso é a belíssima cena em que Ed imita Elvis Presley.

Ed, aliás, volta a ser interpretado com grande segurança por Patrick Wilson, enquanto Vera Farmiga faz de Lorraine uma mulher capaz de driblar vulnerabilidades a fim de impor sua força, e mais uma vez os atores exibem uma bela dinâmica em cena, mostrando o quanto que aquele casal se completa e se importa um com o outro. Enquanto isso, intérpretes como Francis O’Connor, Simon McBurney e Franka Potente fazem bem os papeis de Peggy, do investigador Maurice Grosse e da parapsicóloga Anita Gregory, ao passo que Madison Wolfe surge como a revelação do projeto interpretando Janet Hodgson, tendo provavelmente se inspirado no trabalho de Linda Blair em O Exorcista, obra cuja influência se percebe no filme todo.

Mas um dos pontos mais bacanas de Invocação do Mal 2 reside no fato de James Wan não se contentar em apenas contar a história que tem em mãos, trazendo uma discussão quanto a veracidade do caso ao focar um pequeno embate entre a crença no que está acontecendo e o ceticismo. Afinal, não haveria uma explicação racional por trás daquela situação? Até onde se trata mesmo de algo sobrenatural? Existe alguma chance de tudo ser uma invenção de uma família psicologicamente fragilizada? São questões interessantes e que são abordadas com inteligência pelo roteiro, que tem noção de que o próprio filme, assim como o caso, precisa em maior ou menor grau de um voto de confiança (como é mencionado pelos personagens) de nossa parte para que possamos ter a visão de sua realidade.

Mesmo sentindo a necessidade de se entregar a certos acasos para resolver a trama (como quando um personagem percebe algo importante ao se deparar acidentalmente com algumas fitas), Invocação do Mal 2 é um terror consistente e envolvente do início ao fim. Depois de termos continuações irregulares como Alice Através do Espelho e Truque Mestre 2, é bom ver uma que não tenta apenas aproveitar o sucesso do filme anterior.

Nota:

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Truque de Mestre: O 2º Ato

É sintomático que, antes de entrar neste Truque de Mestre: O 2º Ato, eu tenha precisado pesquisar sobre o longa anterior para lembrar de mais detalhes sobre ele e não correr o risco de me sentir perdido nesta continuação (ainda que o certo, na verdade, fosse rever o filme). Afinal, mesmo tendo um elenco carismático e rendendo alguma diversão, o primeiro Truque de Mestre é uma daquelas obras que começamos a esquecer já durante os créditos finais. E se temos uma continuação agora, isso se deve muito mais a bilheteria do filme do que a sua qualidade ou a algum desejo de revisitar os personagens. Pois se o nível estabelecido pelo primeiro exemplar já não era muito alto, este segundo não melhora as coisas. Pelo contrário, aliás.

Com roteiro escrito por Ed Solomon a partir do argumento concebido por ele e Pete Chiarelli, Truque de Mestre 2 traz o trio de Cavaleiros Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Merritt McKinney (Woody Harrelson) e Jack Wilder (Dave Franco) vivendo clandestinamente e ganhando uma nova parceira em Lula (Lizzy Caplan, preenchendo a ausência da personagem de Isla Fisher). Enquanto isso, o líder deles, Dylan Rhodes (Mark Ruffalo), continua seu trabalho no FBI fingindo que tenta captura-los, ao mesmo tempo em que lida com o desejo de vingança de Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), preso no filme anterior graças a uma armação do grupo. Mas depois que uma das apresentações deles não sai como planejado, todos se veem tendo que encarar o gênio da tecnologia Walter Mabry (Daniel Radcliffe), que os obriga a roubar um chip que pode lhe dar acesso a todos os computadores.

Dirigido por Jon Chu (o mesmo por trás do desastroso G.I. Joe: Retaliação e do documentário Never Say Never, focado em Justin Bieber), Truque de Mestre 2 não demora muito para mostrar que a história não será seu forte, e se você achou bobo o fato de Dylan ficar no FBI fingindo que trabalha, espere até vê-lo explicando o uso que faz de pombos. Com isso, o filme tenta se apoiar um pouco mais nas cenas em que os Quatro Cavaleiros entram em ação com seus truques de mágica, e nesse aspecto ele até tem duas sequências ágeis nas quais mistura sua fórmula de heist movie (quando um grupo tenta roubar alguma coisa) com Missão Impossível, aproveitando nisso as habilidades absurdas dos personagens (por sinal, às vezes tive a impressão de que eles não são mágicos, mas sim mutantes). Mas Jon Chu não consegue fazer esse ritmo percorrer o restante da projeção, e vale dizer que há momentos nos quais ele ainda mostra não ter controle algum da mise-en-scène que concebe, como em uma briga visualmente bagunçada envolvendo Dylan ou em uma pequena confusão envolvendo carros e motos.

Já o roteiro, além de mastigar a trama (e os truques) com diálogos expositivos, traz uma série de reviravoltas como no filme anterior, talvez por ter a esperança de que estas tornem a narrativa instigante, o que não acontece. Aliás, o roteiro com certa frequência parece estar mais preocupado com suas necessidades imediatas do que com a história, incluindo detalhes que soam convenientes demais. Sendo assim, se temos personagens que estão há um ano tentando aprender um truque sem ter o menor sucesso, eles o dominam exatamente quando precisam utilizá-lo (algo que ocorre duas vezes), enquanto que o vilão mostra ser capaz de prever em que superfície um celular será colocado para que ele possa pegar as informações que precisa.

Se o filme é assistível de alguma forma, isso se deve ao carisma de Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco, Lizzy Caplan e Mark Ruffalo, que certamente mereciam trabalhar com um material melhor. Mesmo assim, eles conseguem criar uma dinâmica eficiente entre os Cavaleiros, compensando o fato de quase todos eles não passarem de figuras unidimensionais. A exceção talvez seja Dylan, cuja relação com o falecido pai é bastante explorada e dá a Ruffalo a chance de trazer um pouco de humanidade ao personagem. Já Morgan Freeman parece se divertir como Thaddeus Bradley, enquanto Michael Caine volta a ser subaproveitado no papel do milionário Arthur Tressler e Daniel Radcliffe, mesmo esforçado, interpreta em Walter Mabry um vilão desinteressante e estúpido.

Não há muito que justifique a existência de Truque de Mestre 2 ao longo da projeção, de forma que o filme acaba sendo só uma continuação descartável. E é provável que mal lembrarei dele ao entrar em Truque de Mestre 3. Isso, claro, se a franquia mantiver sua forçada continuidade.

Nota:

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos

Não cheguei a dedicar muito tempo aos jogos da franquia Warcraft, de forma que o pouco que conheço sobre eles se resume ao fato de terem conseguido expandir sua história por várias outras mídias, criando uma grande base de fãs desde que começou há mais de 20 anos. Depois de um bom tempo em desenvolvimento, o projeto para que todo esse universo fosse para os cinemas se torna realidade agora pelas mãos de Duncan Jones (filho do saudoso David Bowie e responsável pelos excelentes Lunar e Contra o Tempo). O resultado dessa adaptação é satisfatório, chamando atenção principalmente pelo brilhantismo de seu trabalho com performance capture, mostrando como a tecnologia não para de evoluir.

Escrito pelo próprio Duncan Jones em parceria com Charles Leavitt, Warcraft acompanha os conflitos entre os humanos do reino de Azeroth e os orcs de Draenor, lugar que está morrendo gradualmente. Por conta disso, o maléfico Gul’dan (Daniel Wu) pretende tomar Azeroth com seu grande grupo de guerreiros a fim de fazer ali o novo lar dos orcs. Mas o chefe do clã Lobo de Gelo, Durotan (Toby Kebbell), percebe que a destruição de Draenor não se deve a terra em si, levando-o a conclusão de que dominar Azeroth não acabará com o problema, e ele vê nos humanos, liderados pelo rei Llane Wrynn (Dominic Cooper) e seu fiel comandante Anduin Lothar (Travis Fimmel), uma possível união que salve ambos os povos.

Ao invés de tentar sustentar a narrativa um pouco mais em cenas de ação grandiosas, o roteiro acerta em cheio ao dedicar a maior parte de seu tempo para desenvolver a trama e os personagens, o que faz Warcraft não nos colocar diante de uma guerra unidimensional na qual um lado representa o bem e o outro o mal. Na verdade, além de as motivações dos personagens ficarem muito bem estabelecidas, o filme dá espaço para que o público possa se identificar tanto com humanos quanto com orcs, e o melhor exemplo desse detalhe certamente é o fato de termos em Lothar e Durotan as principais âncoras emocionais da narrativa. Além disso, fica clara a intenção do roteiro de mostrar que aqueles povos são parecidos em alguma instância, como podemos ver na breve cena em que o jovem mago Khadgar (Ben Schnetzer) e Garona (Paula Patton), descendente de orcs e humanos, compartilham um com o outro os obstáculos pessoais que já enfrentaram.

Com isso estabelecido, quando os dois lados se chocam nas batalhas, estas se tornam naturalmente envolventes, sendo também muito bem conduzidas por Duncan Jones, que mostra um controle admirável com relação à mise-en-scène, o que compensa sua mania de espirrar o sangue dos personagens na câmera, decisão que pouco acrescenta ao filme, servindo mais para chamar atenção ao próprio diretor. Por essas cenas lidarem com os orcs e com uma série de magias, é claro que são bastante carregadas nos efeitos visuais, mas em momento algum a grandiosidade delas representa um espetáculo feio, não seguindo os exemplos de obras como Quarteto Fantástico e Batman vs. Superman.

Mas a beleza técnica e visual de Warcraft não se resume só aos efeitos visuais, incluindo também os figurinos e o design de produção que concebem aquele universo, desde o reino de Azeroth e seus residentes até os acampamentos que formam Draenor. Mas o maior destaque visual do filme é mesmo a concepção dos orcs, que com a ajuda do performance capture nunca surgem como meros bonecos digitais, ganhando peso em cena e contando com detalhes que contribuem para seu realismo, seja os pelos corporais, a locomoção ou pequenos tiques, como aqueles que Durotan faz com a língua. Quando o personagem olha pensativo para a câmera, por exemplo, podemos ver em seu olhar que há vida ali, algo que impressiona mais até do que o que se vê nos exemplares mais recentes da série Planeta dos MacacosE assim como nesses filmes, é curioso ver que os personagens digitais são mais interessantes que os humanos, já que intérpretes como Travis Fimmell e Dominic Cooper são um tanto limitados.

Enquanto isso, o filme também exibe um interessante senso de humor, pontuando a história com gags orgânicas e eficientes (àquela que traz uma ovelha merece destaque especial). No entanto, vale dizer que, apesar de o roteiro se esforçar para desenvolver os personagens e ser corajoso em certas direções que dá a eles, alguns momentos (como aquele envolvendo uma grande barreira mágica) carecem de um impacto maior na tela. Para completar, na reta final o filme parece mais preocupado em deixar pequenos ganchos para uma possível continuação do que em encerrar a trama que estamos acompanhando, algo feito de um jeito apressado.

De qualquer forma, devo dizer que não reclamarei se tal continuação vier a acontecer. O universo que Warcraft apresenta aqui se revela interessante e rende um trabalho eficiente, de maneira que retornar a ele não seria uma má ideia.

Nota:

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Falando Sobre Adaptações de Games

Como toda Arte, os games crescem e evoluem de um jeito impressionante com o passar do tempo, e acompanhar isso tem sido impressionante, ainda que hoje minha presença diante de um videogame não seja tão assídua como era há alguns anos. Mas uma das famas que os jogos lamentavelmente adquiriram é que, geralmente, não rendem grandes resultados ao serem adaptados para o cinema. No entanto, atualmente existe alguma esperança de que a sorte deles nesse sentido mudará em breve, não só por conta do lançamento de Warcraft (que chega esta semana aos cinemas), mas também de Assassin’s Creed.

Se estes filmes conseguirão mudar um pouco o paradigma só saberemos quando eles chegarem e mostrarem a quê vieram. Mas enquanto isso não acontece, aproveito o momento para listar cinco adaptações que contribuíram para a má fama e outras cinco que se revelaram bacanas ou ao menos minimamente aceitáveis, já que realmente é difícil achar longas realmente satisfatórios. Reparem que esta não é uma lista de “melhores e piores” adaptações de games, mas sim algo um pouco mais simples e seletivo.

Começando pelas cinco porcarias (em ordem de lançamento):

Super Mario Bros. (1993), de Rocky Morton e Annabel Jankel

Ver o universo de Super Mario World ganhar vida nesse filme chega a ser triste, para dizer o mínimo. Acompanhando os irmãos encanadores Mario e Luigi (interpretados por Bob Hoskins e John Leguizamo), que se veem tendo que ir a outra dimensão para salvar a jovem Daisy (Samantha Mathis) e impedir o Rei Koopa (Dennis Hopper) de mesclar seu mundo de dinossauros humanoides com a Terra, Super Mario Bros. se revela bobo e incrivelmente bizarro na forma como aborda seu material de origem, cuja diversão e visual adorável acabam dando lugar a uma narrativa feia e desinteressante em vários sentidos. Nem mesmo o elenco defende a produção, com os saudosos Hoskins e Hopper tendo declarado publicamente seu desgosto pelo filme.

Mortal Kombat: A Aniquilação (Mortal Kombat: Annihilation, 1997), de John R. Leonetti

Não escondo o fato de que costumava adorar os filmes de Mortal Kombat  quando criança (e sou fã declarado dos jogos). Mas assisti-los hoje infelizmente não rende a mesma admiração, especialmente esta continuação, um sinônimo de vergonha alheia. Começando de onde o primeiro filme havia parado, Mortal Kombat: A Aniquilação foca os esforços de Liu Kang (Robin Shou) e seus amigos para salvar a Terra da ameaça de Shao Khan (Brian Thompson), o imperador de Outworld que pretende juntar os dois mundos dentro de seis dias (não lembra Super Mario Bros.?). No decorrer da trama, fica a impressão de uma continuação feita às pressas para aproveitar o sucesso do filme anterior, o que resulta em um desastre completo, desde os personagens até as cenas de luta, chegando ao ápice da ruindade em uma batalha final que pode ser definida pelos pavorosos efeitos visuais empregados nas animalidades (famoso golpe dos jogos originais) de herói e vilão.

Alone in the Dark: O Despertar do Mal (Alone in the Dark, 2005), de Uwe Boll

Quem conhece o trabalho de Uwe Boll no comando de adaptações de games deve saber que essa pequena lista poderia ser feita só com os filmes dele. Mas dessa vez vamos ficar só com Alone in the Dark. No filme, Christian Slater é Edward Carnby, detetive que cuida de casos paranormais e que está à procura de artefatos da antiga civilização Abkani, que desapareceu há milhares de anos. Ao se deparar com estranhos acontecimentos, ele vê ligações não só com os objetos que está investigando, mas também com seu passado misterioso no orfanato onde cresceu. Com cenas de ação caóticas, um suspense tão risível quanto as atuações do elenco (que, além de Slater, conta com Tara Reid e Stephen Dorff), e um roteiro absurdamente bagunçado, Uwe Boll faz em Alone in the Dark uma receita para a perdição, e não à toa o filme é considerado um dos piores da década passada.

Doom: A Porta do Inferno (Doom, 2005), de Andrzej Bartkowiak

O ano é 2046. Uma base de pesquisas situada em Marte é duramente atacada. Atendendo ao pedido de socorro de um dos cientistas, um grupo de fuzileiros liderado por Sarge (Dwayne Johnson) vai até o local averiguar a situação e resgatar possíveis sobreviventes. O que eles não esperavam era bater de frente com uma série de monstros perigosos. A ideia quanto a como transformar Doom em filme é basicamente derivada de Aliens: O Resgate. Mas as coisas aqui ficam longe de ter a mesma qualidade do longa de James Cameron, apresentando uma série de personagens desinteressantes, fracas cenas de ação e ideias tolas (como o funcionamento de um certo cromossomo). Podemos até destacar a sequência de ação com a câmera subjetiva, que referencia o estilo “tiro em primeira pessoa” do game original, mas ela acaba servindo mais para lembrar que o tempo seria melhor gasto jogando Doom do que vendo essa adaptação.

Hitman: Assassino 47 (Hitman, 2007), de Xavier Gens

Tendo no assassino profissional conhecido apenas como Agente 47 um protagonista visualmente icônico com seu terno, gravata vermelha e o código de barras na nuca, Hitman é um jogo inteligente na forma como obriga o jogador a raciocinar que tipo de ação sutilmente violenta ele deve fazer a fim de cumprir as missões. Quem dera o filme tivesse um pouco dessa inteligência. O longa de Xavier Gens apenas pega o Agente 47 (vivido por Timothy Olyphant) e o insere em um filme de ação banal, no qual o sujeito é perseguido por todos os lados tanto pela Interpol quanto pela própria organização para a qual trabalha, depois que uma de suas missões não sai como o esperado. O resultado é uma obra insossa, que não consegue fazer nem com que seu protagonista seja interessante (ainda que Olyphant seja um intérprete esforçado). Um reboot foi lançado no ano passado com Rupert Friend no papel principal, mas foi outro tropeço.

Ok, agora o lado mais interessante, dentro do possível (em ordem de lançamento):

Lara Croft: Tomb Raider (2001), de Simon West

Levando para as telonas uma das heroínas mais populares dos games, Lara Croft: Tomb Raider segue os passos de aventuras como àquelas de Indiana Jones ao acompanhar Lara Croft (Angelina Jolie) em uma disputa com os membros do Illuminati, liderados por Manfred Powell (Iain Glen), com ambos os lados procurando as peças do Triângulo da Luz, artefato que pode dar a seu dono o poder de controlar o tempo e o espaço. Claro que o que vemos ao longo da história não é tão instigante quanto os desafios de Indy, mas isso não chega a impedir o filme de render alguma diversão, ao passo que Angelina Jolie surge eficiente no papel principal. O sucesso nas bilheterias deu sinal verde para a continuação Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida, um grande fracasso que poderia ter entrado na lista anterior. Um reboot está em desenvolvimento, com Alicia Vikander atualmente confirmada no papel principal.

Final Fantasy (Final Fantasy: The Spirits Within, 2001), de Hironobu Sakaguchi

Final Fantasy é um deleite para os olhos. Se apresentando como um grande avanço nas técnicas de animação, o filme trouxe personagens humanos que, por vezes, nem parecem ser os bonecos digitais que realmente são, tamanho o realismo de seus traços. É algo que até compensa um pouco o roteiro, que desenvolve uma história não tão interessante situada em 2065 e que foca uma invasão alienígena. Em meio a isso, a cientista Aki Ross (voz de Ming-Na Wen) se reúne a um grupo de soldados liderados por Gray Edwards (voz de Alec Baldwin) para tentar encontrar os segredos da raça invasora e salvar a Terra. Ainda que nisso o filme encontre obstáculos, é inevitável ficar envolvido com os personagens e a humanidade deles, de forma que é difícil esquecer a produção quando ela chega ao final. Uma pena que nas bilheterias o longa não tenha sido muito agraciado, o que fez sua produtora Screen Pictures decidir não fazer mais filmes.

Resident Evil: O Hospede Maldito (Resident Evil, 2002), de Paul W.S. Anderson

Resident Evil é um jogo capaz de dar angústia. Por um lado, é bacana seguir a história, solucionar os quebra-cabeças pontuais e matar os zumbis. Mas por outro, a grande tensão vista por ali dá vontade de largar o controle e voltar para a vida normal sem olhar para trás. No que diz respeito a este primeiro filme da série, Paul W.S. Anderson se esforça para criar uma atmosfera inquietante, não se saindo particularmente bem com sustos baratos. Mas o longa funciona melhor quando parte pra ação, principalmente por ter uma heroína convincente em Alice (Milla Jovovich), detalhe que dá alguma agilidade a narrativa e desvia nossa atenção quanto ao roteiro problemático, cuja história acompanha um grupo de agentes da Umbrella Corporation tentando conter o T-vírus, que transformou em zumbis todos os empregados de uma base subterrânea da companhia. As continuações vão de mal a pior, mas, mesmo irregular, a série Resident Evil é o maior sucesso comercial entre as adaptações de games, e no momento está a caminho de um sexto filme.

Terror em Silent Hill (Silent Hill, 2006), de Christophe Gans

Assim como Resident Evil, Silent Hill é um jogo que mexe com os nervos, e o trabalho de Christophe Gans neste Terror em Silent Hill surpreende ao recriar bem a tensão do material original. A trama segue Rose Da Silva (Radha Mitchell), que decide levar sua filha adotiva, Sharon (Jodelle Ferland), até a cidade-fantasma de Silent Hill, já que a garota vive mencionando o lugar em crises de sonambulismo. Mas depois de um acidente, mãe e filha se perdem uma da outra, e Rose passa a se ver em situações terríveis no local enquanto tenta encontrar a pequena. Gans é hábil ao fazer com que esses momentos provem-se angustiantes não só para a personagem, mas também para o público, de forma que é fácil criar uma expectativa horripilante sempre que o alarme de Silent Hill toca, elemento que precede cada situação. Claro que nem tudo é perfeito, e a subtrama envolvendo o marido de Rose (interpretado por Sean Bean) é um exemplo de vácuo na história, mas o filme ainda assim é eficiente naquilo que se propõe, conseguindo ser envolvente, chocante e visualmente arrebatador.

Need for Speed: O Filme (Need for Speed, 2014), de Scott Waugh

Need for Speed pode ter sido uma tentativa de criar algo que rivalizasse com Velozes & Furiosos, e é difícil não lembrar da franquia protagonizada por Vin Diesel quando se assiste a esta adaptação do famoso game de corrida. Trazendo um Aaron Paul recém-saído de Breaking Bad, o filme nos apresenta a Tobey Marshall (Paul), que foi para a prisão após uma armação do milionário Dino Brewster (Dominic Cooper) e agora sai em liberdade condicional determinado a se vingar. Em meio a isso, nos deparamos com sequências de corrida/perseguição que são marcas registradas do material original e trazem certa energia a narrativa do filme, mesmo partindo para o absurdo em alguns momentos. A trama pouco cativante e o vilão estúpido acabam sendo problemas incontornáveis, mas Need for Speed é uma obra que diverte, além de ter em Aaron Paul um intérprete suficientemente carismático para que torçamos por seu personagem.