quarta-feira, 1 de junho de 2016

Falando Sobre Adaptações de Games

Como toda Arte, os games crescem e evoluem de um jeito impressionante com o passar do tempo, e acompanhar isso tem sido impressionante, ainda que hoje minha presença diante de um videogame não seja tão assídua como era há alguns anos. Mas uma das famas que os jogos lamentavelmente adquiriram é que, geralmente, não rendem grandes resultados ao serem adaptados para o cinema. No entanto, atualmente existe alguma esperança de que a sorte deles nesse sentido mudará em breve, não só por conta do lançamento de Warcraft (que chega esta semana aos cinemas), mas também de Assassin’s Creed.

Se estes filmes conseguirão mudar um pouco o paradigma só saberemos quando eles chegarem e mostrarem a quê vieram. Mas enquanto isso não acontece, aproveito o momento para listar cinco adaptações que contribuíram para a má fama e outras cinco que se revelaram bacanas ou ao menos minimamente aceitáveis, já que realmente é difícil achar longas realmente satisfatórios. Reparem que esta não é uma lista de “melhores e piores” adaptações de games, mas sim algo um pouco mais simples e seletivo.

Começando pelas cinco porcarias (em ordem de lançamento):

Super Mario Bros. (1993), de Rocky Morton e Annabel Jankel

Ver o universo de Super Mario World ganhar vida nesse filme chega a ser triste, para dizer o mínimo. Acompanhando os irmãos encanadores Mario e Luigi (interpretados por Bob Hoskins e John Leguizamo), que se veem tendo que ir a outra dimensão para salvar a jovem Daisy (Samantha Mathis) e impedir o Rei Koopa (Dennis Hopper) de mesclar seu mundo de dinossauros humanoides com a Terra, Super Mario Bros. se revela bobo e incrivelmente bizarro na forma como aborda seu material de origem, cuja diversão e visual adorável acabam dando lugar a uma narrativa feia e desinteressante em vários sentidos. Nem mesmo o elenco defende a produção, com os saudosos Hoskins e Hopper tendo declarado publicamente seu desgosto pelo filme.

Mortal Kombat: A Aniquilação (Mortal Kombat: Annihilation, 1997), de John R. Leonetti

Não escondo o fato de que costumava adorar os filmes de Mortal Kombat  quando criança (e sou fã declarado dos jogos). Mas assisti-los hoje infelizmente não rende a mesma admiração, especialmente esta continuação, um sinônimo de vergonha alheia. Começando de onde o primeiro filme havia parado, Mortal Kombat: A Aniquilação foca os esforços de Liu Kang (Robin Shou) e seus amigos para salvar a Terra da ameaça de Shao Khan (Brian Thompson), o imperador de Outworld que pretende juntar os dois mundos dentro de seis dias (não lembra Super Mario Bros.?). No decorrer da trama, fica a impressão de uma continuação feita às pressas para aproveitar o sucesso do filme anterior, o que resulta em um desastre completo, desde os personagens até as cenas de luta, chegando ao ápice da ruindade em uma batalha final que pode ser definida pelos pavorosos efeitos visuais empregados nas animalidades (famoso golpe dos jogos originais) de herói e vilão.

Alone in the Dark: O Despertar do Mal (Alone in the Dark, 2005), de Uwe Boll

Quem conhece o trabalho de Uwe Boll no comando de adaptações de games deve saber que essa pequena lista poderia ser feita só com os filmes dele. Mas dessa vez vamos ficar só com Alone in the Dark. No filme, Christian Slater é Edward Carnby, detetive que cuida de casos paranormais e que está à procura de artefatos da antiga civilização Abkani, que desapareceu há milhares de anos. Ao se deparar com estranhos acontecimentos, ele vê ligações não só com os objetos que está investigando, mas também com seu passado misterioso no orfanato onde cresceu. Com cenas de ação caóticas, um suspense tão risível quanto as atuações do elenco (que, além de Slater, conta com Tara Reid e Stephen Dorff), e um roteiro absurdamente bagunçado, Uwe Boll faz em Alone in the Dark uma receita para a perdição, e não à toa o filme é considerado um dos piores da década passada.

Doom: A Porta do Inferno (Doom, 2005), de Andrzej Bartkowiak

O ano é 2046. Uma base de pesquisas situada em Marte é duramente atacada. Atendendo ao pedido de socorro de um dos cientistas, um grupo de fuzileiros liderado por Sarge (Dwayne Johnson) vai até o local averiguar a situação e resgatar possíveis sobreviventes. O que eles não esperavam era bater de frente com uma série de monstros perigosos. A ideia quanto a como transformar Doom em filme é basicamente derivada de Aliens: O Resgate. Mas as coisas aqui ficam longe de ter a mesma qualidade do longa de James Cameron, apresentando uma série de personagens desinteressantes, fracas cenas de ação e ideias tolas (como o funcionamento de um certo cromossomo). Podemos até destacar a sequência de ação com a câmera subjetiva, que referencia o estilo “tiro em primeira pessoa” do game original, mas ela acaba servindo mais para lembrar que o tempo seria melhor gasto jogando Doom do que vendo essa adaptação.

Hitman: Assassino 47 (Hitman, 2007), de Xavier Gens

Tendo no assassino profissional conhecido apenas como Agente 47 um protagonista visualmente icônico com seu terno, gravata vermelha e o código de barras na nuca, Hitman é um jogo inteligente na forma como obriga o jogador a raciocinar que tipo de ação sutilmente violenta ele deve fazer a fim de cumprir as missões. Quem dera o filme tivesse um pouco dessa inteligência. O longa de Xavier Gens apenas pega o Agente 47 (vivido por Timothy Olyphant) e o insere em um filme de ação banal, no qual o sujeito é perseguido por todos os lados tanto pela Interpol quanto pela própria organização para a qual trabalha, depois que uma de suas missões não sai como o esperado. O resultado é uma obra insossa, que não consegue fazer nem com que seu protagonista seja interessante (ainda que Olyphant seja um intérprete esforçado). Um reboot foi lançado no ano passado com Rupert Friend no papel principal, mas foi outro tropeço.

Ok, agora o lado mais interessante, dentro do possível (em ordem de lançamento):

Lara Croft: Tomb Raider (2001), de Simon West

Levando para as telonas uma das heroínas mais populares dos games, Lara Croft: Tomb Raider segue os passos de aventuras como àquelas de Indiana Jones ao acompanhar Lara Croft (Angelina Jolie) em uma disputa com os membros do Illuminati, liderados por Manfred Powell (Iain Glen), com ambos os lados procurando as peças do Triângulo da Luz, artefato que pode dar a seu dono o poder de controlar o tempo e o espaço. Claro que o que vemos ao longo da história não é tão instigante quanto os desafios de Indy, mas isso não chega a impedir o filme de render alguma diversão, ao passo que Angelina Jolie surge eficiente no papel principal. O sucesso nas bilheterias deu sinal verde para a continuação Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida, um grande fracasso que poderia ter entrado na lista anterior. Um reboot está em desenvolvimento, com Alicia Vikander atualmente confirmada no papel principal.

Final Fantasy (Final Fantasy: The Spirits Within, 2001), de Hironobu Sakaguchi

Final Fantasy é um deleite para os olhos. Se apresentando como um grande avanço nas técnicas de animação, o filme trouxe personagens humanos que, por vezes, nem parecem ser os bonecos digitais que realmente são, tamanho o realismo de seus traços. É algo que até compensa um pouco o roteiro, que desenvolve uma história não tão interessante situada em 2065 e que foca uma invasão alienígena. Em meio a isso, a cientista Aki Ross (voz de Ming-Na Wen) se reúne a um grupo de soldados liderados por Gray Edwards (voz de Alec Baldwin) para tentar encontrar os segredos da raça invasora e salvar a Terra. Ainda que nisso o filme encontre obstáculos, é inevitável ficar envolvido com os personagens e a humanidade deles, de forma que é difícil esquecer a produção quando ela chega ao final. Uma pena que nas bilheterias o longa não tenha sido muito agraciado, o que fez sua produtora Screen Pictures decidir não fazer mais filmes.

Resident Evil: O Hospede Maldito (Resident Evil, 2002), de Paul W.S. Anderson

Resident Evil é um jogo capaz de dar angústia. Por um lado, é bacana seguir a história, solucionar os quebra-cabeças pontuais e matar os zumbis. Mas por outro, a grande tensão vista por ali dá vontade de largar o controle e voltar para a vida normal sem olhar para trás. No que diz respeito a este primeiro filme da série, Paul W.S. Anderson se esforça para criar uma atmosfera inquietante, não se saindo particularmente bem com sustos baratos. Mas o longa funciona melhor quando parte pra ação, principalmente por ter uma heroína convincente em Alice (Milla Jovovich), detalhe que dá alguma agilidade a narrativa e desvia nossa atenção quanto ao roteiro problemático, cuja história acompanha um grupo de agentes da Umbrella Corporation tentando conter o T-vírus, que transformou em zumbis todos os empregados de uma base subterrânea da companhia. As continuações vão de mal a pior, mas, mesmo irregular, a série Resident Evil é o maior sucesso comercial entre as adaptações de games, e no momento está a caminho de um sexto filme.

Terror em Silent Hill (Silent Hill, 2006), de Christophe Gans

Assim como Resident Evil, Silent Hill é um jogo que mexe com os nervos, e o trabalho de Christophe Gans neste Terror em Silent Hill surpreende ao recriar bem a tensão do material original. A trama segue Rose Da Silva (Radha Mitchell), que decide levar sua filha adotiva, Sharon (Jodelle Ferland), até a cidade-fantasma de Silent Hill, já que a garota vive mencionando o lugar em crises de sonambulismo. Mas depois de um acidente, mãe e filha se perdem uma da outra, e Rose passa a se ver em situações terríveis no local enquanto tenta encontrar a pequena. Gans é hábil ao fazer com que esses momentos provem-se angustiantes não só para a personagem, mas também para o público, de forma que é fácil criar uma expectativa horripilante sempre que o alarme de Silent Hill toca, elemento que precede cada situação. Claro que nem tudo é perfeito, e a subtrama envolvendo o marido de Rose (interpretado por Sean Bean) é um exemplo de vácuo na história, mas o filme ainda assim é eficiente naquilo que se propõe, conseguindo ser envolvente, chocante e visualmente arrebatador.

Need for Speed: O Filme (Need for Speed, 2014), de Scott Waugh

Need for Speed pode ter sido uma tentativa de criar algo que rivalizasse com Velozes & Furiosos, e é difícil não lembrar da franquia protagonizada por Vin Diesel quando se assiste a esta adaptação do famoso game de corrida. Trazendo um Aaron Paul recém-saído de Breaking Bad, o filme nos apresenta a Tobey Marshall (Paul), que foi para a prisão após uma armação do milionário Dino Brewster (Dominic Cooper) e agora sai em liberdade condicional determinado a se vingar. Em meio a isso, nos deparamos com sequências de corrida/perseguição que são marcas registradas do material original e trazem certa energia a narrativa do filme, mesmo partindo para o absurdo em alguns momentos. A trama pouco cativante e o vilão estúpido acabam sendo problemas incontornáveis, mas Need for Speed é uma obra que diverte, além de ter em Aaron Paul um intérprete suficientemente carismático para que torçamos por seu personagem.

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