domingo, 19 de março de 2017

Séries: Punho de Ferro

Apesar de terem fragilidades (principalmente quando falamos da segunda temporada de Demolidor e da primeira de Luke Cage), as séries da Marvel lançadas pela Netflix tem se revelado bem satisfatórias, criando um universo diferente do que se vê nos filmes e envolvendo o público com seus personagens e sua densidade. Isso, porém, sofre uma escorregada em Punho de Ferro, a mais nova série do estúdio e que apresenta o último herói que integrará Os Defensores, minissérie que reunirá os protagonistas da Marvel/Netflix da mesma forma que os filmes dos Vingadores fazem no cinema. Aqui infelizmente temos uma produção repleta de problemas (alguns deles até comuns nessas séries) e que não traz elementos interessantes o suficiente para compensar isso.

Desenvolvida por Scott Buck, cujos trabalhos anteriores como showrunner foram as péssimas temporadas finais de Dexter, Punho de Ferro nos apresenta a Danny Rand (Finn Jones), rapaz que retorna a Nova York quinze anos depois de ser dado como morto em um acidente aéreo que matou seus pais. Nesse período, ele foi criado por monges na mística cidade de K’un-Lun, tonando-se um mestre nas artes marciais e detentor do poder do Punho de Ferro, que o possibilita canalizar energia em um de seus punhos. Mas o retorno para casa não se revela tão tranquilo, com Danny precisando provar sua identidade a fim de retomar o que puder de sua vida e da antiga empresa de seu pai, agora liderada por seus velhos amigos Joy e Ward Meachum (Jessica Stroup e Tom Pelphrey), além de se ver tendo que enfrentar a ameaça do Tentáculo, organização que já deu dor de cabeça para o Demolidor.


Ainda que a temporada se resuma a esses pontos, ela leva um bom tempo para definir o caminho que quer seguir. Não, isso não se deve por conta de uma calma na hora de desenvolver a trama, mas sim porque os roteiros dos episódios em vários momentos parecem andar em círculos, enrolando as coisas por aparentemente não ter outra forma de preencher as treze horas da temporada. Como resultado, a série não consegue ter uma história consistente, exibindo também um ritmo muito irregular que dificulta o envolvimento do espectador. É algo que piora por os episódios ainda preferirem perder tempo com cenas totalmente descartáveis ou que pouco acrescentam à narrativa, como quando o herói e sua nova aliada, a professora de artes marciais Colleen Wing (Jessica Henswick), fazem uma espécie de disputa de habilidades ou ao se concentrar em uma subtrama de lutas clandestinas. Enquanto isso, o passado de Danny em K’un-Lun, elemento importante para estabelecer o personagem, é condensado em flashbacks superficiais e, principalmente, longos diálogos expositivos, sendo que este último é um recurso que os roteiristas usam e abusam ao longo da temporada.

Mais triste que esses problemas é ver que a série não consegue empolgar nem ao partir para a ação, algo surpreendente tendo em vista as habilidades dos personagens com artes marciais e como isso já havia rendido ótimos momentos em Demolidor. Com exceção de um confronto numa espécie de Escola Xavier Para Superdotados (só que para pessoas comuns) na reta final da temporada, as sequências de luta são conduzidas de maneira burocrática e sem qualquer energia, além de não contarem com o peso dos confrontos vistos na série do Homem Sem Medo ou até em Jessica Jones e Luke Cage, ainda que nestas a ação ficasse um tanto limitada diante da superforça dos protagonistas. Aliás, ao longo dos episódios o poder de Danny Rand não é utilizado à exaustão, dando prioridade aos socos e pontapés, mas não deixa de ser decepcionante que os realizadores o acionem quase como um deus ex machina em boa parte do tempo, tirando obstáculos da frente do herói quando ele se encontra sem saída.


Mas talvez tudo isso fosse compensado se ao menos tivéssemos personagens cativantes que segurassem bem a narrativa, mas a verdade é que é difícil se importar com a maioria das figuras que aparecem na tela. Por mais que o roteiro estabeleça Danny Rand como um sujeito que luta pelo que é certo, no fim ele acaba tendo o azar de ter em Finn Jones um intérprete esforçado, mas pouco carismático. O mesmo pode ser dito sobre Jessica Henwick no papel de Colleen Wing, sendo que a relação dela com Danny por vezes é desenvolvida de maneira boba e óbvia. Já Jessica Stroup e Tom Perphley surgem aborrecidos como os irmãos Joy e Ward Meachum, protagonizando alguns dos momentos mais enfadonhos da série, ao passo que David Wenham até tenta fazer com que o pai deles, Harold Meachum, soe imprevisível e ameaçador, mas o roteiro não colabora muito para isso. Vale dizer, porém, que as participações de figuras que já conhecíamos das outras séries funcionam melhor, desde Rosario Dawson como Claire Temple até Carrie Ann-Moss como a advogada Jeri Hogarth, passando por Wai Ching Ho como Madame Gao, que se destaca por ser uma vilã que sempre parece estar vários passos a frente de seus adversários.

Punho de Ferro até usa seu protagonista para fazer comentários relevantes sobre a desumanidade das grandes corporações, questionando a importância que elas dão aos próprios interesses (especialmente dinheiro) sem dar a mínima para quem sairá prejudicado por isso. Mas são pontos rápidos e que não chegam a ser prioridade em meio a uma temporada mal organizada, que se estabelece como uma das produções mais fracas do universo Marvel até agora. O que vemos aqui serve mais para que tenhamos alguma noção de quem é Danny Rand antes de ele se juntar a outros heróis, e resta torcer para que esta reunião em Os Defensores tenha uma força criativa maior.

Confira as críticas das outras séries da Marvel/Netflix:

Nenhum comentário: