domingo, 20 de agosto de 2017

Séries: Os Defensores

A calma que a Marvel tem para desenvolver seus projetos não deixa de ser admirável, expandindo gradualmente seu universo e apresentando cada um de seus principais personagens antes de coloca-los em uma única superprodução. Tem sido assim no cinema com Os Vingadores, algo que tem funcionado bem e é repetido com Os Defensores, que surge como o resultado de todas as produções que o estúdio fez em parceria com a Netflix, colocando Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro lado a lado em uma grande batalha. Isso rende uma série até divertida, mas que também exibe uma irregularidade que a impede de deixar grandes marcas no espectador ao final de seus oito episódios.

Desenvolvida por Marco Ramirez e Douglas Petrie (responsáveis pela segunda temporada de Demolidor), Os Defensores segue seus heróis exatamente a partir do ponto em que cada um estava ao final de suas respectivas séries. Matt Murdock (Charlie Cox) se esforça para largar a vida de Demolidor e ter uma rotina normal, enquanto Jessica Jones (Krysten Ritter) retorna aos poucos a suas investigações após seu embate com Kilgrave, exibindo sua costumeira antissociabilidade. Já Luke Cage (Mike Coulter) tenta retomar sua vida após seu aprisionamento, ao passo que Danny Rand (Finn Jones) continua sua luta contra o Tentáculo com a ajuda de Colleen Wing (Jessica Henwick). Mas quando este mesmo Tentáculo entra no foco de todos eles, a solução é juntar forças contra a líder da organização, Alexandra (Sigourney Weaver), cujo plano promete colocar Nova York e seus habitantes em risco e conta ainda com o envolvimento de sua nova pupila, Elektra (Elodie Yung).


Não deixa de ser uma trama repetitiva dentro dessas séries da Marvel com a Netflix, considerando que o Tentáculo já deu as caras quase da mesma forma na segunda temporada de Demolidor e na primeira de Punho de Ferro. E ainda que tenhamos a ótima presença de Sigourney Weaver no papel de Alexandra (a atriz impõe a superioridade da vilã quase sem se esforçar), a ameaça representada pela organização não é particularmente instigante, justificando a reunião dos heróis mais por conta do tamanho de seus planos. Aliás, no que diz respeito à maneira como os protagonistas se juntam, o início da série se revela bem conveniente. Mesmo que os roteiros busquem fazer com que o encontro deles não aconteça repentinamente (são necessários três episódios para chegar nesse ponto), a primeira vez que eles aparecem juntos ainda ocorre mais pela coincidência de todos estarem perseguindo as mesmas coisas ao mesmo tempo. Para completar, há questões no desenvolvimento da história capazes de tirar o espectador do sério, desde clichês como um personagem que abandona a equipe e retorna num momento propício até algumas reviravoltas anticlimáticas na reta final da temporada.


De qualquer forma, a união dos heróis (que é o grande atrativo do projeto) faz a série valer a pena. Exibindo durante boa parte do tempo uma desconfiança natural de figuras que mal se conhecem, aos poucos os protagonistas aprendem a respeitar uns aos outros e a trabalhar em equipe, construindo uma dinâmica que melhora gradualmente. Os grandes momentos da série resultam exatamente desse aspecto, chegando ao ápice sempre que os personagens discutem questões pessoais, como na cena em que Luke e Danny debatem suas motivações ou na outra em que Jessica comenta sobre o passado de Matt. Além disso, se os episódios são tecnicamente trôpegos em alguns pontos (as transições de cena usando os metrôs de Nova York não são muito criativas e cansam rapidamente, enquanto que o esquema dos realizadores de enquadrar um personagem no canto da tela com o resto desfocado é visualmente pavoroso), ao menos as cenas de ação são bem coreografadas e aproveitam eficientemente as habilidades do quarteto, merecendo destaque especial a luta no escritório de Alexandra e a batalha no último episódio.

Tendo em vista toda a organização para que pudéssemos chegar a série naturalmente (o que começou há dois anos, lá na primeira temporada de Demolidor), Os Defensores deixa um gosto de que poderia ser melhor. Por sorte, as qualidades apresentadas pela produção conseguem sustentar a jornada ao lado deste novo grupo de heróis.


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